Crianças e idosos em uma troca de experiências

O que os alunos do primeiro ano das turmas Arco-Íris, Raio de Sol e Lua têm em comum com 14 idosos? Mesmo com idades bem diferentes, todos querem trocar experiências e compartilhar conhecimento. Pensando nisso, professores do Colégio Nacional criaram o projeto “Crianças e Idosos: Teia de Relações”, que teve início no fim do mês passado.
A iniciativa foi inspirada em um vídeo com uma ação similar, realizada em uma casa de repouso em São Paulo. Aqui em Uberlândia, os educadores levaram os pequenos do Ensino Fundamental I para visitar os 14 moradores da Residência Geriátrica Villa Santé, sete homens e sete mulheres.
O colégio é filiado à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e faz parte do PEA (Programa das Escolas Associadas) desde 2014. A diretora Cynthia Souza disse que a escola desenvolve atividades voltadas para problemas mundiais, direitos humanos, democracia, tolerância e aprendizagem cultural todos os anos. “Os temas são realmente voltados às relações, e esse projeto nasceu do desejo de unir essas duas idades tão distantes. Ele surgiu tanto do interesse dos professores, quanto dos pais, e muitos já se emocionaram no dia da nossa primeira reunião. Muitas vezes nos preocupamos com técnicas e o cuidado com o outro fica a desejar”, afirmou Cynthia.
Para a coordenadora pedagógica Consuelo Varella, a ideia de reunir essas duas gerações distintas é importante pois combina a vivacidade da criança com a sabedoria dos idosos. “Já estamos desenhando esse projeto há algum tempo. O objetivo é entrelaçar a sapiência do idoso com o vigor e alegria da criança. Esse projeto vai continuar, agora as crianças irão visitá-los com os familiares, e manteremos esse projeto em movimento todos os anos”, afirmou Consuelo, que espera que as pessoas prestem mais atenção nos idosos a partir desse trabalho.
Segundo a coordenadora pedagógica, o projeto é recente, mas já rendeu relatos envolvendo os pequenos e os moradores da Villa Santé. “Na nossa primeira visita já no emocionamos. Uma de nossas alunas ficou o tempo todo com uma senhora que costuma ficar sempre sozinha, no canto dela. Mas a criança estava lá o tempo todo e disse: ‘Sabe por que eu estou com você? Porque não gosto de deixar ninguém sozinha.’ E ela tratava a senhora que nem bebê, ficou brincando e contando os dedos da mãe dela”, disse Consuelo, que esperava exatamente este tipo de relação ao pensar no projeto.
Para Aline Rodrigues, professora de uma das turmas, o local foi escolhido porque lá as crianças têm liberdade para interagir com os idosos. “A parte de sensibilização está acontecendo aos poucos, através dos livros e vídeos que temos passado. Estamos buscando um resgate com esses alunos, fazendo com que eles se lembrem da relação que tem com os avós.”
A professora ainda disse que os proprietários da Residência Geriátrica convidaram os profissionais envolvidos no projeto, as crianças e as famílias para uma festa julina, que acontecerá há alguns dias no local, com o objetivo de reunir as crianças e os idosos novamente, agora, com a presença dos familiares e responsáveis.
 
PRIMEIRA VISITA
 
A primeira visita das três turmas do Ensino Fundamental I aconteceu no fim do mês passado, durante a tarde. As crianças passaram o tempo jogando, conversando e também cantando com os moradores.
Clara Carvalho, de seis anos, faz parte da turma Arco-Íris e não pôde deixar de lembrar dos avós e da bisavó ao se encontrar com os idosos da Villa Santé. Ela contou que sua atividade preferida é colorir, hobby que aprendeu com a bisavó. “Estou gostando daqui, eu brinquei de um joguinho com os idosos. Lembrei da minha vó, do meu vô e da minha bisa”, disse a aluna.

Arthur Monte, que estava completando seis anos quando a redação do Diário de Uberlândia se juntou a turma durante o encontro com os idosos, participou de uma aula de inglês ministrada em forma de brincadeira por uma das moradoras da Residência Geriátrica, que foi professora há alguns anos. “Eu fiz aula de inglês, desenhei e agora vou procurar um idoso para brincar. Eu gosto muito de brincar com meus avós também, quero voltar mais vezes.”
Diva Costa Barbosa, de 92 anos, estava se divertindo muito com a visita das crianças, e lembrou dos bisnetos, de 8 e 10 anos, durante as atividades. “Eles [os alunos] são uma gracinha, também tenho bisnetos mais velhos. Eu morava em São Paulo e meus bisnetos moravam aqui, depois que me mudei para cá, eles mudaram para São Paulo. Mas me visitam sempre”, disse Diva.

Rui Fernandes, de 76 anos, não parava de sorrir enquanto as crianças procuravam por um cantinho na poltrona em que ele estava sentado. A esposa, Maria das Graças Arantes, acompanhava a diversão, “tem três meses que ele está aqui, está sempre feliz assim, vejo porque venho visitá-lo todos os dias”, contou Maria das Graças, que é casada com Rui há 53 anos.

Um dos proprietários da Villa Santé, Hudson dos Reis, disse que, desde que a casa foi aberta, há três anos, pretendia fazer uma reunião dos moradores com crianças. “Nós sempre elaboramos atividades bem diferentes, para o idoso ter qualidade de vida e prazer pelo local onde vive. Quando uma das professoras nos propôs essa ideia, logo agregamos ao projeto. É uma coisa grandiosa e futurista”, afirmou.

Para ele, a maioria dos idosos se sentiu bem já na primeira visita. “Eles apresentaram uma facilidade na comunicação e uma melhora do humor, foi algo bem rápido e benéfico. De um lado as crianças aprendem a se relacionar com uma diferente geração, do outro, os idosos recebem esse carinho e são estimulados através dos exercícios com os alunos. Essa nova geração de crianças irá crescer com mais amor e ter o idoso como referência”, disse o proprietário.