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03/07/2018 às 08h49min - Atualizada em 03/07/2018 às 08h49min

Para garantir professores em sala, Prefeitura prioriza dobras

Enquanto concurso público nãos sai, é preciso improvisar para preencher vagas

MARIELY DALMÔNICA | REPÓRTER
Enquanto aguardam a realização de um novo concurso para a rede municipal de ensino em Uberlândia, muitos professores têm de fazer, todo ano, o processo seletivo para tentar um contrato em alguma escola. Desde o ano passado, no entanto, a Secretaria de Educação implementou uma nova política para preenchimento de vagas, priorizando dobras para profissionais efetivos, ou seja, aprovados em concurso público. A mudança fez aumentar o tempo de espera para alguns professores que buscam contrato, o que gerou descontentamento, não só dos educadores, mas também de pais e alunos.

Segundo a secretária de Educação, Célia Tavares, a opção por priorizar as dobras é decorrência da demora para concluir a contratação de professores. Segundo ela, a demanda é alta por causa do número de professores que estão em processo de aposentadoria na rede municipal, que atualmente conta com 4.442 educadores em 125 unidades. “Os primeiros concursos estão completando 25 anos, então estamos com uma grande demanda de professores que estão se aposentando. Aí vem a necessidade de substituição e nós providenciamos a contratação. Enquanto corre o processo de contratação, que é feita pela Secretaria de Administração, nós completamos o quadro da sala de aula com a dobra, até que venha o contratado para substituir”, afirmou.

Ainda de acordo com a secretária, a dobra é temporária. “É uma extensão de carga horária, regulamentada apenas para efetivos, porque o contrato tem uma previsão de um salário específico. Fizemos um processo seletivo em dezembro [de 2017] e outro em janeiro deste ano, temos uma lista para todos os cargos necessários em escolas”, disse a secretária.

Mesmo que a situação seja temporária, há reclamações. A mãe de uma aluna do sexto ano da Escola Municipal Professor Otávio Batista Coelho Filho, que não quis se identificar, relatou que a filha teve aula com vários professores da mesma disciplina desde o início do ano letivo. “Quando começou o ano, entrou uma eventual no lugar do professor de matemática, depois um professor foi contratado. Logo ele saiu e outro entrou no lugar. E neste mês chegou mais uma para substituir. Minha filha não ficou sem professor nenhum dia, mas houve muita troca. Essa troca de professor atrapalha, um explica de uma forma, e outro explica diferente, o aluno não dá conta de acompanhar. Foi a primeira vez que ela pegou vermelho em matemática, isso nunca tinha acontecido”, afirmou.
 
PROFISSIONAIS
 
E. é professora e tem cargo efetivo em uma escola da rede pública de ensino. Ela costumava pegar dobras até o início deste ano. “Sabemos que o contratado fica caro [para o município], porque tem que pagar férias, por exemplo. Já na dobra para os efetivos, não tem, só ganhamos as horas extras”, afirmou a professora, que precisou deixar um dos cargos. “Eu larguei minha dobra por causa de problema de saúde, estava muito cansada e com problemas de estresse. Mas nós, professores, dobramos para ganharmos melhor, praticamente todos os efetivos da minha escola dobram.”

A. também é efetiva e optou em pegar uma dobra em outro turno no ano passado. “Tenho empréstimos consignados em minha folha de pagamento, pago convênio médico e odontológico, se não dobrar, o salário não dá”, disse.

Para ela, a demanda por dobras está muito grande, e quem está de fora muitas vezes não concorda com esse funcionamento. “Nas redes sociais, quem é contratado ou está à espera de um contrato se ressente com um professor que dobra, dizendo que este está tirando o lugar de quem precisa trabalhar. Quem dobra não está ali por diversão, e sim por necessidade”, afirmou.

A. concorda que a vida de um professor que dobra pode ser bastante cansativa. “É muito estressante, não podemos nem ficar doentes, pois o atestado médico corta o ponto e não temos direito ao abono. Outro ponto negativo da dobra é que os dias trabalhados não são contabilizados para uma futura aposentadoria. Queremos um novo concurso público”, disse a professora.

Kamilla Soares prestou o processo seletivo no início de 2018 para dar aulas de história e ficou em primeiro lugar. “Ainda estou aguardando me chamarem. Ouvi dizer que estão colocando eventuais no lugar e tem escolas sem professores, isso prejudica muito a educação dos estudantes”, disse a professora, que atualmente é contratada no estado e espera por um concurso para a docência em história desde o ano em que formou, 2008.  

C. é uma professora contratada que realiza o processo seletivo todos os anos. Atualmente, ela trabalha em uma escola municipal, e o contrato, com duração de um ano, termina ao final do ano letivo. “Meu contrato não pode ser renovado, todos os anos faço o processo seletivo, torço para passar e vou para uma nova escola. É um desespero.”
 
CONCURSO

 
Ainda segundo a Secretária de Educação Célia Tavares, a Prefeitura está preparando um novo concurso para professores. “Nós tivemos o cancelamento de um concurso no passado porque ele estava com algumas irregularidades. A administração já está tomando providências e trabalhando em um novo concurso. Ainda estamos em uma fase de preparação, de imediato não temos nenhuma previsão de data”, afirmou.

A reportagem do Diário de Uberlândia procurou, por diversas vezes, o Sindicato dos Professores Municipais (Sindpmu), que não se posicionou sobre o assunto.
 
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