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25/05/2018 às 05h29min - Atualizada em 25/05/2018 às 14h50min

Uberlândia fica sem combustíveis

Settran autorizou empresas que fazem o transporte urbano na cidade a reduzir pela metade a frota em horários fora de pico até domingo

WALACE TORRES | EDITOR
 
A falta de combustíveis é uma realidade na maioria dos postos de Uberlândia, que desde ontem (24) não dispõe de um ou mais produtos - etanol, gasolina e diesel - para atender à população. A escassez já é considerada uma situação iminente. Segundo levantamento do Minaspetro, que representa os mais de 4,3 mil revendedores de combustíveis no estado, mais de 60% dos postos em Minas Gerais estão sem combustíveis.

A manifestação dos caminhoneiros, iniciada na segunda-feira (21), afetou praticamente todos os setores da economia, de supermercados à construção civil. Em função do desabastecimento, o Município instituiu ontem o plano emergencial de operação especial no transporte público, que passa a operar nesta sexta-feira (25) com 50% da frota no período compreendido entre 9h e 16h.

Em reunião com a Secretaria de Trânsito e Transportes (Settran), as três empresas que detém a concessão do serviço alegaram que só tem estoque de combustível para operar por mais um dia. Os ônibus de reserva também serão retirados de circulação. 

Ainda segundo nota divulgada pela Settran, por causa das manifestações, os horários habituais dos itinerários de ônibus poderão sofrer alterações. Os fiscais de transportes que trabalham nos terminais ficarão responsáveis por orientar a população sobre a periodicidade das linhas enquanto vigorar a situação.

O presidente da Associação dos Usuá- rios do Transporte Público de Uberlândia, Frank Barroso, disse que irá procurar o Ministério Público para garantir que o usuário não seja prejudicado. “Por lei, os serviços essenciais têm que funcionar. Isso (a greve) vai prejudicar a população em geral. Como as pessoas vão trabalhar (se faltar combustível)?”, disse.

Outros serviços municipais, como coleta de lixo e varrição de rua, abastecimento de medicamentos e insumos nas unidades de saúde, transporte escolar, tapa-buracos e limpeza de terrenos estão sendo monitorados pela Prefeitura e, a princípio, não sofreram interrupção.

Em alguns supermercados houve limite de compras de alguns produtos. Num deles, por exemplo, o aviso alertava para o máximo 5 unidades de cada produto por compra.

Nos Correios também houve comprometimento dos serviços de entrega e postagem. Segundo nota da assessoria de imprensa, por causa do bloqueio nas rodovias do Triângulo Mineiro, nenhum caminhão da empresa conseguiu chegar aos centros de distribuição.

A Secretaria de Estado de Educação também divulgou nota informando que suspendeu as aulas nesta sexta-feira em toda a rede estadual.

O governador Fernando Pimentel (PT) decretou ponto facultativo aos servidores do Estado nesta sexta. O Estado ainda cancelou eventos que demandem deslocamentos e os compromissos do governador em outras cidades

“A medida visa otimizar o uso de combustível para garantir o atendimento dos serviços de segurança pública e saúde em todo o estado”, diz o governo em nota.

FILA

Ontem, durante todo o dia nos postos que ainda tinham combustíveis no estoque se formaram longas filas. No fim da tarde, houve congestionamentos no Centro e também em alguns pontos da cidade por causa das filas que avançaram as vias e dificultaram o fluxo de veículos.

Num posto da avenida Cesário Alvim, no Centro, o etanol acabou às 7 da manhã, enquanto a gasolina comum e a aditivada tinha estoque suficiente para poucas horas, segundo avaliou o gerente. “Estamos desde segunda-feira sem reposição e não tem previsão de chegar enquanto não acabar a greve”, disse Jociel Sousa do Vale. “Acabando (o estoque), a gente tem que fechar o posto e o pessoal fica aqui sem poder fazer nada”, completou o gerente, esclarecendo que a reposição nos tanques em condições normais não passa de três dias.

A reportagem encontrou vários postos sem combustíveis nas bombas, alguns até chegaram a colocar grades para evitar a entrada de veículos no pátio.

MANIFESTO

Na porta do Centro de Distribuição da Petrobrás em Uberlândia, manifestantes mantiveram o bloqueio pelo terceiro dia consecutivo. Nenhum caminhão carregado conseguiu deixar o local. Pela manhã, uma carreta até tentou furar o bloqueio utilizando uma saída secundária, que fica atrás do terminal e dá acesso à rodovia MG-497 por terra, mas alguns motoristas perceberam a movimentação e fizeram o bloqueio da estrada. “Só estamos deixando passar caminhões que levam combustíveis para abastecer veículos de segurança, como a Polícia Militar, e ambulâncias”, disse o presidente da Associação dos Motoristas de Aplicativos do Triângulo Mineiro (AMAPPTM), Rodrigo Passos.

Cerca de 150 motoristas de aplicativos estão se revezando na porta da distribuidora para evitar a saída de caminhões para reabastecer os postos.

Em nota, o Minaspetro informou que “caso o cenário de greve persista nas pró- ximas horas e dias, há sim o risco de desabastecimento geral dos estoques, uma vez que os postos que ainda possuem o produto para a venda ao consumidor poderão não ter a efetiva renovação dos combustíveis armazenados.”

PREÇOS

MPE e Polícia Militar fiscalizam postos

O Ministério Público Estadual (MPE) e a Polícia Militar realizaram ontem operação contra eventuais abusos cometidos por comerciantes de produtos essenciais no estado, diante da paralisação dos caminhoneiros. 

O Procon-MG, órgão ligado ao MPE, informou que estabelecimentos que se aproveitem da situação para aumentar sua margem de lucro podem sofrer sanções administrativas, como multa e interdição. Os proprietários podem ser presos em flagrante e responder por crime contra a economia popular.

Segundo o procurador-geral de Justiça, Antônio Sérgio Tonet, todos os promotores de Justiça que atuam na Defesa do Consumidor em Minas foram orientados a adotar medidas para combater abusos nos municípios.

Em Uberlândia, o Procon Municipal também fiscalizou postos de combustíveis para verificar eventuais irregularidades nos valores cobrados pelos produtos em virtude do desabastecimento. Até ontem, o órgão não havia constatado nenhum aumento abusivo nos preços praticados na cidade.

APOIO

Apesar dos transtornos e da dificuldade para encontrar combustível nas bombas, a população em geral tem apoiado a greve dos caminhoneiros. É o que constatou a reportagem do Diário em entrevista com dezenas de consumidores.

“Pra gente é ruim, mas eu concordo com o que os caminhoneiros estão fazendo. O governo está fazendo do jeito que ele quer. A gente tem que apoiar os caminhoneiros nessa aí né”, disse o aposentado Ricardo Higino, que conseguiu encher o tanque de seu veículo ontem pela manhã.

“Não é justo o que o governo está fazendo com o povo. Tem que continuar (com a manifestação) e fazer esse governo acordar. Pelo menos os caminhoneiro fazem parar esse país”, disse Jonas Alves dos Santos.
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