Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
04/05/2018 às 17h43min - Atualizada em 05/05/2018 às 05h58min

Donos de imobiliária somem e deixam clientes em desespero

Funcionários e pessoas que compraram imóveis estão sem saber do paradeiro dos proprietários

NÚBIA MOTA* | REPÓRTER
Suelma era amiga dos donos da imobiliária e comprou duas casas no Jardim Sucupira | Foto: Núbia Mota
 
O que deveria ser a realização de um sonho para dezenas de pessoas que investiram dinheiro na casa própria em Uberlândia, se transformou em pesadelo ao descobrirem que caíram num golpe. Quatro proprietários da Imobiliária Vállory, na avenida Cesário Alvim, na região central, desapareceram nos últimos dois dias da empresa, da casa onde moram e das redes sociais, sem pagar os oito funcionários contratados, corretores e ainda levando todas as economias dos clientes, que aguardavam a finalização dos contratos de compra de casas e apartamentos.

Um dos corretores, que não quis ter o nome divulgado, disse que tem R$ 36 mil em comissão de vendas para receber. Segundo ele, os donos da imobiliária são Mateus Fernando Moreira, a mulher dele Júlia Paula Monteiro e os pais de Mateus, identificados apenas como Nilson e Jucimeire. Todos, vindos há menos de dois anos de Curitiba (PR) para Uberlândia, quando abriram a imobiliária, em outubro de 2016.

A auxiliar de serviços gerais Alessandra Aparecida Xavier trabalha na Imobiliária Vállory há 4 meses e disse que até o mês passado vinha recebendo o salário regularmente, de R$ 1,2 mil. Mas, até ontem, o pagamento dos funcionários ainda não tinha sido debitado e os patrões desapareceram desde a quinta-feira (3), quando foram vistos pela última vez na empresa. “Ele (o Mateus) bloqueou todo mundo do grupo que a gente tinha da empresa no WhatsApp. Já vieram muitas pessoas aqui atrás deles, inclusive um rapaz deixou uma S10 novinha ontem (quinta)  aqui, em troca de uma casa, e o Mateus sumiu nela. O rapaz veio hoje aqui chorando”, disse Alessandra.

Ainda segundo a funcionária, o aluguel do imóvel onde funciona a imobiliária está com cinco meses de atraso e ela ainda soube que as casas onde os patrões moram, no Morada da Colina e Cidade Jardim, na zona sul, também estão com alugueis sem pagar. Os proprietários da imobiliária não foram encontrados nas casas onde moram, nem atenderam aos telefonemas da reportagem do Diário. Os clientes desconfiam que eles tenham voltado para Curitiba e já acionaram o Ministério Público. A Polícia Militar também foi acionada ontem à tarde e registrou seis ocorrências de estelionato. O caso será levado para investigação na Polícia Civil.

CLIENTES LESADOS

Na recepção da Imobiliária Vállory havia cerca de 20 clientes, ontem no início da tarde, em busca de informações sobre o paradeiro dos donos da empresa. Um dos compradores, que não quis se identificar, foi até o local buscar as chaves da casa que comprou, no bairro Granada, zona sul, quando soube do ocorrido. Transtornado, ele contou à reportagem que levou oito anos juntando os R$ 60 mil que repassou à imobiliária para dar entrada na primeira casa própria da família. “Eu tenho dois filhos, um de 12 anos e um de 7 meses. Vim feliz da vida, pegar minha casa e dei de cara com isso tudo aqui. Nunca mais vou conseguir juntar esse dinheiro”, disse ele.

A secretária Suelma Angélica de Souza comprou duas casas no bairro Jardim Sucupira, na zona leste, em troca de dois lotes, no valor de R$ 120 mil. Ela descobriu o golpe depois que conseguiu localizar os donos das propriedades que ela havia comprado e soube que o dinheiro não foi repassado pela imobiliária. “Fiquei 10 anos juntando esse dinheiro. Moro de aluguel, no Santa Mônica, e passei os lotes para o Mateus. Mas eles já venderam, por R$ 70 mil cada lote, e já tem até construção no local. Eles diziam que estava tudo certo, só não podiam passar o contato dos donos das casas para gente, mas eu descobri no contrato o telefone deles e eles me disseram que não receberam o pagamento”, disse Suelma, que é mãe de duas meninas de 4 e 7 anos. “O Mateus e a Júlia eram de dentro da minha casa. Eram nossos amigos. Eles tinham imobiliária em Curitiba também e provavelmente devem ter feito o mesmo por lá”, completou a secretária.

Suelma conta que acionou o Ministério Público e a audiência seria na quinta-feira, mas os donos da imobiliária não apareceram. Foi quando ela descobriu que eles teriam desaparecido de Uberlândia. “Agora é sentar e chorar”, disse.

A reportagem tentou falar no Ministério Público, mas foi informada de que a secretaria responsável estava concentrada em expediente interno e não faria atendimentos.

O presidente do Secovi em Uberlândia, sindicato que congrega as empresas imobiliárias, Ronaldo Arantes, disse que a Vállory não está entre as filiadas e que a entidade desconhece qualquer informação sobre os proprietários ou a empresa.

O designer Eurípedes Pereira passou um valor de R$ 240 mil para a Imobiliária Vállory para a compra de um apartamento no Jardim Finotti, na zona leste, e outros R$ 90 mil foram financiados. “O Banco do Brasil me ligou contando que o financiamento foi aprovado, mas a funcionária levantou a suspeita de que o pessoal da imobiliária fugiu da cidade. O contador deles tinha contado para ela. E vim aqui para verificar. Agora eu não sei se eles passaram o dinheiro que dei para o proprietário do apartamento”, disse Eurípedes.
 
(*) Atualizada às 05h58 de 05/05/2018 para acréscimo de informações.

Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90