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04/05/2018 às 08h26min - Atualizada em 04/05/2018 às 08h26min

Conselhos de saúde são contra ensino a distância

Movimento que reúne regionais de cada área da saúde em Minas defende aulas presenciais na formação acadêmica

WALACE TORRES | EDITOR
Anderson Coelho diz que a tecnologia remota deve agregar e não substituir a presença do professor | Foto: Divulgação
 
O crescimento vertiginoso dos cursos de Educação a Distância (EaD) no país motivou os conselhos de fiscalização da área da saúde em Minas Gerais a se unirem e lançarem um movimento para frear a oferta de cursos de graduação nessa modalidade para a referida área. Presidentes dos Conselhos de Saúde do Estado criaram até um fórum para dar sustentação ao debate de um projeto de lei (PL 5414/16) em tramitação na Câmara dos Deputados que proíbe o incentivo do governo a cursos da área de saúde na modalidade a distância.

Segundo o colegiado, os cursos de graduação dos profissionais da saúde exigem o desenvolvimento de habilidades técnicas que demandam a troca de experiências presenciais. “A formação de discentes na modalidade a distância acarreta prejuízos à formação acadêmica e, consequentemente, riscos à sociedade”, diz o presidente do Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 4ª Região (CREFITO-4), Anderson Luís Coelho, que participa hoje e amanhã em Uberlândia de um encontro com profissionais do setor.

O órgão encabeçou o movimento no Estado, que foi seguido pelos demais conselhos regionais de Medicina, Odontologia, Enfermagem, Nutricionistas, Fonoaudiologia, Psicologia, Serviço Social, Educação Física e Farmácia.  O movimento também já teve o apoio de mais de 30 associações, sindicatos, conselhos, entre outras entidades federais que congregam profissionais e estudantes da área da saúde.

Os profissionais da saúde entendem que o avanço tecnológico deu maior eficácia na atuação do professor, mas não deve substituir a sua presença em sala de aula, e nem impedir o contato físico do aluno com o paciente nas aulas práticas. “Os conselhos defendem que o uso da tecnologia remota, enquanto um instrumento para agregar valor ao aprendizado, seja feito além da carga horária mínima e não em substituição a ela”, diz Anderson Coelho.

Segundo dados do CREFITO-4, no ano de 2003 as vagas de EaD no país representavam 1,3% das matrículas da graduação em geral (49 mil alunos). Já em 2015, esse índice subiu para 20,8% (1,3 milhão de estudantes). Somente na área da saúde, no período de novembro de 2016 a outubro de 2017, houve um aumento de 141% nas vagas a distância, que passaram de 218 mil para 527 mil. Até abril deste ano, o número já havia saltado para 657 mil vagas.

De acordo com o acompanhamento do órgão, os números crescem a cada mês em função da flexibilização das normais pelo Ministério da Educação, que permitiu a oferta de cursos nessa modalidade em polos regionais. “Instituições com o conceito 3 podiam ter 50 polos, mas já identificamos a abertura de 400 polos nessa faixa”, cita Anderson Coelho, frisando haver uma nítida movimentação mercadológica em detrimento da qualidade de ensino. No período de fevereiro a junho de 2017, foram abertos 221 novos polos, resultando na ampliação de 175 mil novas vagas de ensino a distância. As vagas de EaD são basicamente oferecidas pelas instituições privadas.

Somente na Fisioterapia, a quantidade de vagas ofertadas saiu de 5.700 em fevereiro de 2017 para 33.149 em outubro do mesmo ano. O maior número de vagas ofertadas pelo ensino a distância está no curso de Serviço Social (149.184 vagas em outubro de 2017).

“Até 2017 havia normas mais discretas, que davam a possiblidade de usar a tecnologia remota. Depois vieram os decretos do governo e as instituições deixaram de usar tecnologia de informação como um meio de interatividade e de agregar valor e passaram a usar como fim, para obter lucratividade”, aponta Anderson. Ele avalia que o aumento da oferta de vagas com a flexibilização das regras do ensino a distância está diretamente relacionada à meta do Plano Nacional da Educação. A previsão do governo é chegar ao ano de 2024 com 33% dos jovens na faixa de 18 a 24 anos matriculados no ensino superior. Até o fim do ano passado, esse índice estava em 20%.

 

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