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24/04/2018 às 16h01min - Atualizada em 24/04/2018 às 16h01min

Após prisão, Gilmar Machado mantém pré-candidatura

Ex-prefeito critica operação que o prendeu e diz que tem apoio garantido do PT para o pleito deste ano

VINÍCIUS LEMOS | REPÓRTER
Gilmar Machado diz que vive situação similar a do ex-presidente Lula | Foto: Adreana Oliveira

O ex-prefeito Gilmar Machado foi aplaudido, na noite de segunda-feira (23), em sua chegada ao diretório local do Partido dos Trabalhadores (PT) em seu primeiro compromisso oficial após deixar a carceragem do presídio Jacy de Assis, depois de 10 dias cumprindo prisão temporária. Ele, o ex-superintendente do Instituto de Previdência Municipal de Uberlândia (Ipremu) Marcos Botelho e os membros do Comitê de Investimentos do instituto Cláudio Roberto Barbosa e Mônica Silva Resende de Andrade foram detidos durante as ações da Operação Encilhamento, da Polícia Federal (PF).

As investigações apontam para aplicação de recursos do Ipremu em fundos de risco sem lastro e ilegais, com o possível aliciamento de agentes públicos. Machado foi o único político preso pela Operação. Também foi o primeiro ex-prefeito de Uberlândia a ser encarcerado.

Hoje, em entrevista ao Diário de Uberlândia, Machado disse que o partido manteve sua pré-candidatura ao Congresso. Afirmou ainda que não se espantou com a prorrogação de sua prisão temporária e alegou que o suposto processo de perseguição nacional contra o PT chegou a Uberlândia.

Machado ainda afirmou acreditar que o trabalho feito no Ipremu não teve qualquer ilicitude e que acha importante o esclarecimento dos fatos, mesmo que desconfie da apuração da Polícia Federal.
 
DIÁRIO DE UBERLÂNDIA: Como o senhor viu toda a situação da operação Encilhamento e as alegações que levaram às prisões?

Gilmar Machado: Eu fiquei indignado. Foi arbitrário. Tem um ano e quatro meses que estou afastado da Prefeitura, portanto não tenho condições de sumir com provas. Não tinha sido chamado para fazer depoimento. Não tinha programado viagem internacional. Então, estranhei esse processo. Nos 28 municípios investigados, o único [alvo] do PT era eu, o único que teve a prisão temporária decretada. Algo que me chama atenção.
 
O senhor acha que existe essa questão nacional ligada ao PT que chegou a Uberlândia?

Não tenho dúvida. Eles têm uma intenção e em Uberlândia tem a informação de que estou como pré-candidato a deputado federal e em primeiro lugar nas pesquisas. São coisas e processos que tanto o Lula quanto eu vivemos. Estão abrindo inquéritos para investigar se vão fazer uma denúncia. Não se justificava uma prisão. Eu lamento, mas estamos vivendo um regime de exceção e devemos estar preparados para esse tipo coisa.
 
Quando o senhor fala em regime de exceção, quer dizer o quê?

É no País. No documento está certo, mas a gente acha que o documento é ideologicamente falso. Eu acho que é isso, mas a Lei fala outra coisa. Essa é uma disputa política, pois está sendo repetido o que foi falado, o que foi dito na CPI [do Ipremu]. E a CPI foi sustentada em cima de uma consultoria contratada sem licitação pela atual gestão. E mesmo no inquérito da PF eles tiveram o primeiro problema, porque diziam que a Prefeitura faz a licitação. A Prefeitura não intervém na autarquia, que tem sua própria comissão. O Ipremu tem sua própria comissão. É a mesma que foi no meu governo e continua lá, pois são servidores efetivos.

Pode ter havido problemas na administração do Ipremu que não chegaram ao seu conhecimento? Fatos que, sim, são problemáticos e ilegais?

Ilegais eu acho que nenhum foi. O diretor do Ipremu que nomeei [Marcos Botelho] é administrador de empresa, professor universitário e executivo de uma grande empresa. E tinha certificados para fazer aplicações. Ele seguiu todas as regras e normas da resolução 3922 e o delegado confirma. Então que negócio é esse? Eu não entendo. Essa resolução é do Tesouro Nacional, do Banco Central e da Comissão de Valores. Você não pode aplicar recursos fora daquela regra. Hoje se você tirar R$ 10 mil da sua conta, tem que dizer o porquê, mesmo sendo dinheiro seu. A Receita e o Banco Central precisam saber. Imagine um instituto de previdência. Quando eu assumi, o Instituto [Ipremu] tinha R$ 380 milhões e quando saí, deixei R$ 650 milhões. Então quase dobramos em quatro anos. Essa coisa de que o servidor corre risco é disputa política.
 
Uma das alegações da PF é que, independentemente do que foi deixado, o processo de investimento seria ilegal, uma vez que esses fundos pagariam propinas para que os agentes públicos fizessem os investimentos. Houve isso?

Todos os fundos que o Banco Central autoriza, ele tem lastro. Não tem como aplicar fora desses fundos reconhecidos. No inquérito conduzido por São Paulo, essas questões não estão sendo citadas. Quem fez a operação em minha casa é São Paulo, a delegada de São Paulo não deu uma declaração sequer. É outra coisa que me estranha. O processo só está começando e ela, como boa profissional, não dá entrevista, pois precisa concluir o processo para depois fazer informações.
 
Mas houve aliciamento dos agentes públicos?

No nosso caso, eu quero saber e, se teve, tem que demonstrar como. E se foi alguém, tem que ser punido. Eu não conhecia todo o inquérito e nem a delegada passou. Tanto que fiquei dez dias detido e não fui ouvido. Depois, não tinham mais como justificar uma prisão preventiva, tanto que saí na temporária. Muitas informações chegaram a eles de forma equivocada.
 
E como está sua pré-candidatura? Mantém-se?

Só falei com vocês depois de falar com meu partido. Há a confiança plena de que é a mesma luta que Lula está enfrentando. Eu senti na pele o que ele está sentindo. Ao mesmo tempo, saí de lá sem ódio e sem espírito de vingança, mas como muita disposição de lutar. Tudo isso são processos colocados para dificultar. Esse é um jogo em que tudo que puderem fazer para me tirarem [da corrida eleitoral], vão fazer.
 
E isto [o jogo] está ligado a quem?

Fazemos uma disputa com o Governo Municipal. E eu estou muito feliz, pois ele acha que o processo [da operação Encilhamento] está sendo feito em Uberlândia, mas o processo vai ser em São Paulo. As denúncias que fundamentaram a CPI foram de uma consultoria contratada sem licitação, o que vai aparecer. São Paulo, quando me ouvir, vai saber dessa questão. Foi feito um relatório em velocidade enorme, mas se esquecem que, em outubro de 2016, o Ministério da Previdência fez uma auditoria nas contas do Ipremu e nos deu a certificação. Tanto que ela valia para outubro, novembro, dezembro, janeiro, fevereiro e março.
 
A aprovação dos investimentos do Ipremu foi feita por quem? O senhor tinha conhecimento desses investimentos?

Foi feita pelo comitê. Eu tinha conhecimento dos comitês e quem indica o comitê é o presidente do Ipremu. A única coisa que faço é nomear o presidente do comitê e o conselho fiscal. Na verdade, nem nomeei, só mandei publicar. A Câmara tinha duas pessoas [no comitê] e um deles, o Luis Cláudio Galassi, não se pode dizer que era meu. O Prefeito não tem que ficar discutindo. O Sintrasp [Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal] mandou representante, os aposentados também mandaram representante. Cabe ao Prefeito publicar decretos. Chega a indicação do Ipremu, se na Procuradoria está tudo certo, publica.
 
Durante a CPI, a Caixa disse que teria alertado a Prefeitura a não fazer esse tipo de investimento feito pelo Ipremu

A Caixa, o Banco do Brasil, o Bradesco, o Itaú. Todo mundo fica lá disputando, mas como Prefeito acho que essa é uma decisão do Ipremu. Se eu interferir, aí sim cometeria irregularidade.
 
E quando membros do comitê alertaram sobre o risco?

Mas não [alertaram] a mim, por que não participo das reuniões [do Ipremu] e nem tenho acesso a elas.
 
O senhor acha que aqueles fundos [nos quais o Ipremu investiu e são apontados como problemáticos] eram garantidos ou os agentes públicos foram enganados?

Essas são coisas que estão investigando. O que o Ipremu tem condições de fazer, e o Marcos fez, é cumprir a resolução [3922]. Se o Banco Central disse que aqueles eram fundos corretos, foi feita a aplicação. Quem tinha dinheiro no Banestado quando ele quebrou, [sabe que] o BC dizia que você podia aplicar e o povo aplicava. Depois o banco fez uma fraude. Particularmente, acho que essa é uma apuração importante para detectar isto: ver quem cometeu erros e punir. E dizer também que quem não cometeu erro, não seja julgado, pois não tinha como saber.
 
Como foram os 10 dias na prisão?

Cumpri como toda e qualquer pessoa. Cumpri uma prisão temporária. Fui para uma ala sem direito a visitas, sem televisão e sem rádio. Acesso aos advogados, somente nos dias em que eles poderiam entrar no presídio. Nos últimos dois dias fui levado para a ala médica. Foi aí que tive acesso à televisão, como todos no lugar. Comi a mesma comida, tomei o mesmo banho e a mesma água do Dmae como qualquer um.
 
Estranhou a prorrogação da prisão temporária?

Não, já imaginava que iriam cumprir os dez dias. Mas não deram conta de sustentarem uma preventiva. O Marcos [Botelho] e o Cláudio [Roberto Barbosa] ficaram em uma mesma cela e eu, em outra, no mesmo bloco. A Mônica [Silva Resende de Andrade], na ala feminina.
 
Quando o senhor foi eleito, disse ser o primeiro negro evangélico a dirigir Uberlândia. O senhor acha que existe uma perseguição?

Perseguição é permanente. Eu não coloquei um trator para derrubar uma casa em Uberlândia. Eu sempre respeitei o direito das pessoas. Sempre fui aliado dos movimentos. Aqui, quando a gente coloca as crianças na escola e coloca uniforme, acabou. Um dos bilhetes que me animaram muito, que recebi lá dentro [presídio Jacy de Assis], foi de um homem que disse ter chegado do Pará em 2014 e apenas não se acabou por ter recebido apoio do CRAS-POP, que hoje está fechado. As políticas que fizemos incomodam e eu quero levar para todo mundo. Mas a gente paga um preço.
 
Mas por qual razão isso existe, na sua visão?

Tem gente que acha que pobre não pode ter um lugar para morar, viajar ou não depender dos outros. Pobre fica embaixo e rico fica em cima.
 
O senhor disse entender o que passa o ex-presidente Lula, por conta dessa questão contrária ao PT, que o senhor diz. Mas isso é um argumento muito utilizado pelo partido e muitos acham que é um argumento fabricado. Isso não deveria ser repensado?

A única coisa que queremos é que a democracia volte e que a Constituição seja respeitada.
 
O senhor realmente acha que o processo alcança outros partidos ou ataca apenas diretamente o PT, visto que temos Aécio Neves, do PSDB, como réu e, aqui em Uberlândia, processos acontecem contra membros do atual governo?

A linha é tirar o PT do processo. Mas alguma coisa eles têm que fazer, porque a população não é boba. Está percebendo. Quando as empresas fizeram doações para o PT, foi propina, para o Geraldo Alckmin, foi caixa dois. Uberlândia está no mesmo nível. O ataque é muito forte, pois sabem que parte da população não vai entrar nisto e ela começa a ver que tem algo errado. Queremos Justiça, mas não seletiva.
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