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22/04/2018 às 05h22min - Atualizada em 22/04/2018 às 05h22min

UFU chega aos 40 anos de fundação

Personagens relembram as histórias daquele tempo e falam do futuro da Universidade

WALACE TORRES | EDITOR
Universidade Federal de Uberlândia completa 40 anos em maio tendo que enfrentar a falta de recursos para manter seu papel no desenvolvimento da cidade | Foto: Milton Santos/UFU

UMA CIDADE DENTRO DA CIDADE
 
A Universidade Federal de Uberlândia (UFU) chega aos 40 anos de fundação - a serem completados em maio - tendo que administrar sérios problemas internos, como o alto índice de evasão e a falta de recursos para consolidar o processo de expansão, e ao mesmo tempo com a responsabilidade de manter seu papel de destaque no desenvolvimento da cidade nas próximas décadas. Não dá para se falar em crescimento populacional e geração de renda em Uberlândia sem a participação da maior instituição universitária do Triângulo Mineiro – e uma das principais do Brasil Central - neste contexto. Se a UFU cresce, a cidade vai junto. Se a universidade desacelera seu ritmo de expansão, Uberlândia também sente o impacto.

Coincidência à parte, a década em que Uberlândia teve o maior salto populacional foi a mesma em que aconteceu a federalização da universidade. No período de 1970 a 1980, o número de habitantes partiu de 126 mil para 240 mil.

Já nos últimos dois anos, as obras de ampliação nos campi da UFU praticamente paralisaram. Na esfera municipal, o cenário não foi diferente. Em ambos os casos, a situação econômica do país influenciou diretamente no grau de investimento das instituições públicas.

Com um orçamento em torno de R$ 1 bilhão em 2018, a UFU, se fosse considerada uma cidade, estaria entre as dez maiores economias de Minas Gerais. Já seu universo de 36 mil pessoas, entre estudantes e servidores públicos, é superior à grande maioria dos municípios mineiros (mais de 700 cidades do Estado não chegam a essa população).

Segundo estimativa da Pró-reitoria de Planejamento e Administração, por mês a universidade injeta aproximadamente R$ 70 milhões na economia de Uberlândia e das outras três cidades onde a UFU está presente. Essa estimativa considera o fato de que quase 85% do orçamento são consumidos com a folha de pagamento e que os recursos da UFU vêm da esfera federal. Ou seja, são recursos que entram nesses municípios e que, basicamente, são consumidos em bens e serviços.

“A UFU é um dos pilares da economia, do crescimento e do desenvolvimento de Uberlândia”, analisa o advogado Wilson Ribeiro da Silva, 90 anos, que teve participação fundamental nessa história. Em 1969, ele foi nomeado pelo então governador de Minas Israel Pinheiro para assumir a direção da Autarquia Educacional de Uberlândia, que era um órgão do Estado responsável pela instalação das escolas superiores no município. Sob o seu comando, surgem as faculdades de Odontologia, Medicina Veterinária e de Educação Física. “Meu conhecimento, minha cultura e meu desenvolvimento vieram em função do que eu recebi da universidade”, completa Wilson, que também se formou na UFU.


Entrada principal do campus Santa Mônica, na avenida João Naves de Ávila | Foto: Milton Santos/UFU

31 MIL ALUNOS 

A UFU conta hoje com 31 mil alunos (23,7 mil só na graduação) e 5.200 servidores entre docentes e técnicos distribuídos em sete campi, sendo quatro em Uberlândia e os demais em Ituiutaba, Monte Carmelo e Patos de Minas. São 90 cursos de graduação em 30 unidades acadêmicas (faculdades e institutos) e mais 20 cursos de doutorado. A maioria (56%) dos estudantes de graduação nasceu em cidades diferentes das que estuda, o que demonstra a influência da universidade na vida econômica desses municípios.

A estrutura de atendimento conta ainda com três hospitais (Clínicas, Veterinário e Odontológico), Escola Técnica de Saúde (Estes), Escola de Educação Básica (Eseba), além de diversos espaços de estudo, pesquisa, extensão e visitação.

“A UFU chega aos 40 anos num momento muito decisivo para o país e para a própria instituição, em que a gente precisa mudar rotas, consolidar algumas estruturas, como o campus de Patos de Minas”, avalia o pró-reitor de Extensão e Cultura, Hélder Eterno da Silveira. Ele lembra que nos últimos dois anos houve a situação peculiar de paralisação das obras em todas as unidades em função da escassez de repasses. Por outro lado, a UFU continua sendo uma referência não só para Minas Gerais, mas para uma região num raio em torno de 700 quilômetros, o que abrange outras unidades da Federação. “Este ano batemos o recorde de inscritos para o vestibular do meio de ano. Foram mais de 36 mil inscrições”, aponta.
 
DÉCADA DE 1950

Curso de Música foi o pioneiro

O curso de música foi o pioneiro da universidade, a partir da criação do Conservatório Municipal de Uberlândia, que foi a primeira escola de ensino superior da cidade, em 1957. Também era oferecido o ensino fundamental e médio. A responsável pela implantação foi a musicista Cora Pavan Capparelli, que anos antes foi para São Paulo estudar música já pensando em um dia ter sua própria escola. A transformação do Conservatório veio a partir de uma orientação do ministro da Educação da época, Tarso Dutra, que juntamente com o ministro da Casa Civil, Rondon Pacheco, planejavam a fundação da Universidade de Uberlândia (UnU). Em 1964, o Conservatório foi doado ao Estado e o curso superior foi desmembrado, dando origem à Faculdade de Artes. Cinco anos mais tarde, a UnU integrou as seis escolas de ensino superior existentes na cidade. Dentre elas, as faculdades de Direito, Filosofia, Ciências e Letras e de Engenharia, que foi o primeiro curso totalmente gratuito.
 
Cora Pavan Capparelli | Foto: Adreana Oliveira

A federalização veio em 24 de maio de 1978, quando a UnU passou a se chamar Universidade Federal de Uberlândia. No mesmo ano, houve a organização dos cursos em três centros: de Ciências Exatas e Tecnológicas (Cetec), Ciências Humanas, Letras e Artes (Cehar) e Centro de Ciências Biomédicas (Cebim).

Com a UFU, Uberlândia e região passaram a experimentar um novo momento social e econômico. “A região toda, em um raio de 350 km, veio aqui para Uberlândia após a federalização. Então o pessoal dessa região veio para a cidade buscando a oportunidade de estudar em uma universidade pública. O que trouxe recurso financeiro para o município, que foi crescendo. Não tenho a menor dúvida que foi a UFU quem fez a cidade crescer”, relata o professor do curso de Engenharia Mecânica e ex-aluno da instituição Edsonei Pereira Parreira, em depoimento para a edição comemorativa dos 40 anos do Jornal da UFU.

“Ver hoje a UFU funcionando tão bem em Uberlândia, com tantos cursos e a área de Música sendo uma das mais escolhidas para estudar, e principalmente por ter sido a primeira a funcionar e ser reconhecida pelo Governo Federal, é muito importante para mim. Pensar que a gente pode ter uma ideia e trabalhar para ver o sonho realizado”, diz  dona Cora Capparelli, hoje com 92 anos.
 
40 ANOS 

A programação em comemoração aos 40 anos da UFU teve início em março com a publicação de uma edição especial do Jornal da UFU e da nova logomarca, e segue até novembro. Uma das principais atrações é a exposição itinerante de fotografias históricas e dos museus da universidade. O acervo irá percorrer as quatro cidades onde há campus.
 

Campus Santa Mônica | Foto: Acervo

Haverá ainda atividades culturais, como o Arte na Praça, Feira de Livros, espetáculo do Coral da UFU, Cine UFU com exibição de filmes clássicos em espaços abertos dos campi e lançamento de vídeo institucional.

Um dos momentos especiais será a sessão solene do Conselho Universitário, no dia 25 de maio, quando haverá uma homenagem a todos os ex-reitores.
 
PID

Falta de recursos compromete metas de expansão

Até o fim do mês, o Conselho Universitário da UFU deverá receber a primeira revisão do Plano Institucional de Desenvolvimento e Expansão (PID) da instituição para ser submetido à apreciação. O PID é responsável por definir as metas da universidade para um período de cinco anos. O atual plano vai de 2016 a 2021. A Pró-Reitoria de Planejamento e Administração faz o acompanhamento das metas e a revisão anual, com possíveis correções de rota.

O relatório a ser avaliado praticamente recomenda pé no freio na criação de novos cursos, construção de salas e laboratórios e implantação de programas de pós-graduação. O motivo é a falta de recursos repassados pelo Governo Federal. “Hoje a prioridade é manter o que nós temos, manter com qualidade. Alocar recursos na manutenção do que existe e não no que pretende expandir”, avalia o pró-reitor da pasta, Darizon Alves de Andrade. “Até 2021, não vamos recomendar a abertura de novos cursos”.

Segundo avalia, a falta de política de Estado para a Educação é o maior problema enfrentado não só pelas universidades, mas no ensino em geral. “Temos obras paralisadas em todos os campi porque a política fica ao gosto do ministro de plantão. Isso é péssimo (...) A política do MEC hoje é de contenção e não de expansão do ensino” ,diz Darizon.

O Ministério da Educação (MEC) foi a pasta que mais trocou de comando nos dois governos de Dilma Rousseff, incluído o período assumido por Michel Temer. Entre 2011 até agora, foram 9 ministros da Educação.

Com a falta de recursos, o planejamento a médio e longo prazos fica comprometido. As obras de ampliação do Hospital de Clínicas, por exemplo, estão paralisadas há mais de dois anos. No campus Glória a situação não é diferente. O projeto de expansão teve que ser contido. “Investimento para obras este ano ficou retido no MEC”, diz o pró-reitor.

Além de comprometer as metas de expansão, a falta de continuidade nas políticas públicas para o setor impede que outros problemas sejam sanados com maior agilidade. É o caso do índice de evasão, que nos últimos anos tem oscilado entre 20% a 25% na UFU. O pró-reitor de Planejamento e Administração diz que a instituição ainda avalia o que pode ter contribuído para agravar a situação. Um dos motivos seria a diversidade de mecanismos para ingresso na universidade.

Na última semana, por exemplo, foi divulgada a sexta chamada de alunos que passaram pelo processo seletivo no início do ano. “A pessoa tem liberdade de escolher a escola e isso gera grande dificuldade para a UFU”, diz Darizon, que reconhece que o atual formato do SiSu também favorece à evasão. “A pessoa entra para o curso que dá e não para o que ela está interessada. Entra e depois desiste”. Ele cita o caso de um aluno que, após ingressar no curso de Arquitetura, verificou que tinha pontuação suficiente para cursar Medicina e pediu transferência. Pouco tempo depois, se arrependeu e voltou para a Arquitetura.

“Temos vários cenários novos e muitos deles permitem que o estudante ingresse, em tese, com fragilidades.”

Outro problema identificado pela universidade é o ingresso de alunos que não conseguem compreender texto e nem ter um raciocínio lógico. “Tem muito estudante que chega e não sabe duas coisas básicas: matemática e português. Não existe área do conhecimento onde a língua pátria e a matemática não influenciem”, diz, frisando que a qualidade do ensino fundamental e médio tem gerado essa situação. “Hoje a UFU recebe estudantes sem a menor condição de estar no terceiro grau”, completa Darizon, ressaltando que a questão das cotas não interfere nesse quadro. “Temos verificado que estudantes de cotas não têm nenhuma diferença dos estudantes que entram por outros processos”.
 
MAIS NÚMEROS DA UFU 

525 Laboratórios (ensino/pesquisa/extensão)
406 Salas de aula
41 Anfiteatros/Auditórios
30 Unidades acadêmicas
8 Museus
8 Bibliotecas
7 Campi
3 Hospitais (Clínicas/Odontológico/Veterinário)
4 Fazendas experimentais
3 Restaurantes Universitários
2 Centros de Convivência
2 Incubadoras
2 Unidades especiais de ensino
1 Editora Universitária
1 Emissora de rádio FM
1 Emissora de televisão
1 Gráfica
1 Reserva ecológica


LINHA DO TEMPO
 
1957
Criação do Conservatório Municipal de Uberlândia, a primeira escola de ensino superior da cidade
 
1960
Criação das faculdades de Direito, Filosofia, Ciências e Letras
 
1961
Criação da Faculdade Federal de Engenharia, a primeira escola de ensino superior pública de Uberlândia
 
1963
Criação da Faculdade de Ciências Econômicas
 
1964
Assinatura pública de aceitação do terreno do Campus Santa Mônica, pelo presidente João Goulart
 
1966
Doação do terreno do Campus Umuarama, feita por Rui Santos
 
1968
Criação da Autarquia Educacional de Uberlândia
 
1969
Criação da Universidade de Uberlândia (UnU), que integrava as seis escolas de ensino superior existentes na cidade
 

1970
Criação da Faculdade de Odontologia da Autarquia Educacional de Uberlândia e do Hospital de Clínicas de Uberlândia
 

1971
Criação das faculdades de Medicina Veterinária e de Educação Física da Autarquia Educacional de Uberlândia
 
1972
Criação da Escola Técnica de Enfermagem Carlos Chagas, que viria a ser a Escola Técnica de Saúde (Estes)
 
1977
Criação da Escola Pré-Fundamental Nossa Casinha, como escola benefício para atender aos servidores da universidade, que viria a ser a Escola de Educação Básica (Eseba)
 
1978
Federalização da UnU, que passou a se chamar Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
 
1981
Integração da Escola Técnica de Enfermagem Carlos Chagas à UFU, passando a ser denominada Escola Técnica de Saúde (Estes)
 
1982
Criação da Fundação de Apoio Universitário (FAU)
 
1983
Transformação da escola Nossa Casinha em Escola de Educação Básica (Eseba), deixando de ser escola benefício para se tornar escola pública e, posteriormente, colégio de aplicação
 
1987
Criação da Fundação de Desenvolvimento Agropecuário (Fundap)
 
1988
Criação da Fundação Rádio e Televisão Educativa de Uberlândia (RTU)
 
1999
Aprovação do novo Regimento Geral
 
2006
Criação da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal, em Ituiutaba
 
2010
Aprovação da criação dos campi Monte Carmelo e Patos de Minas
 
2012
Inauguração da Moradia Estudantil
 
2016
Início das atividades no Campus Glória
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