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19/04/2018 às 15h55min - Atualizada em 19/04/2018 às 15h55min

Divisão de afazeres domésticos ainda é tabu

Pesquisa do IBGE aponta que mulheres continuam a cuidar mais de pessoas e realizar tarefas em que homens

DA REDAÇÃO

Em 2017, as mulheres continuaram a trabalhar 20,9 horas por semana em afazeres domésticos e no cuidado de pessoas, quase o dobro das 10,8 horas dedicadas pelos homens. Entre os 88,2 milhões de mulheres de 14 anos ou mais, 92,6% delas fizeram essas duas atividades no ano passado, uma leve alta frente aos 90,6% de 2016. Já a proporção de homens aumentou de 74,1%, em 2016, para 78,7% dos 80,5 milhões de pessoas do sexo masculino nessa faixa de idade.

As informações são do módulo “Outras formas de trabalho”, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2017 (PNAD Contínua), divulgado ontem pelo IBGE, que também levantou dados sobre produção para próprio consumo e trabalho voluntário. A analista de Trabalho e Rendimento, Alessandra Brito, avalia que esses resultados demostram que “é uma questão que ainda vai demorar um pouco para ser equilibrada. É uma mudança estrutural, que leva mais tempo, é preciso uma mudança de mentalidade. Todo mundo avançou, mas a proporção de mulheres aumentou menos, porque elas já tinham uma taxa muito alta”.

As diferenças também são relevantes entre as pessoas ocupadas e as não ocupadas (desocupadas ou fora da força de trabalho). Nesse universo, as mulheres ocupadas dedicaram 7,8 horas a mais do que os homens nas atividades domésticas. Entre as não ocupadas, a diferença salta para 11,2 horas. De acordo com Alessandra, “para os homens não muda muito se ele é ou não ocupado, isso afeta mais a mulher. Quando no mercado de trabalho, ela fica com menos horas disponíveis para fazer tripla jornada: cuidados, afazeres e trabalhar fora”.

Alessandra ressaltou que a PNAD Contínua permite identificar algumas atividades que antes eram invisíveis: “eram trabalhos que não eram medidos. Por exemplo, se uma pessoa deixa de trabalhar para cuidar de uma criança, esse trabalho não é precificado, mas a contratação de uma babá entra na conta do PIB, pois existe um valor de mercado para isso. O objetivo é que, em algum momento, essas informações entrem no Sistema de Contas Nacionais”.

A pesquisa mostrou também que, se por um lado as mulheres têm uma alta taxa de realização de afazeres domésticos em todos os níveis de instrução, por outro, os homens possuem uma taxa que varia de 73%, entre os sem instrução ou com fundamental incompleto, a 83,8% entre aqueles com superior completo. Para a analista do IBGE, o resultado “pode ser uma questão de consciência, ou mesmo de criação. Homens menos escolarizados podem achar que afazeres domésticos são uma responsabilidade da mulher”. 

A pesquisa revelou, ainda, uma grande diferença na realização de atividades domésticas entre homens que viviam sozinhos e que dividiam o domicílio com outra pessoa. Enquanto preparar/servir alimentos e arrumar a mesa/lavar louça foram tarefas realizadas por 91,8% dos responsáveis sozinhos, a execução dessas cai para 57,3% dos homens em coabitação. Na comparação entre os sexos, a proporção de homens só é maior que a das mulheres na realização de pequenos reparos/manutenção do domicílio: 63,1% deles frente a 34% delas.

IBGE

Número de brasileiros que produzem para consumo próprio aumenta 18%

Aumentou em 18% o número de brasileiros que produzem para consumo próprio. Fazem parte deste grupo pessoas que cultivam alimentos e produzem roupas e móveis, por exemplo. 

De acordo com o instituto, 12,425 milhões de pessoas dedicaram tempo para produzir para consumo próprio em 2017, 1,9 milhão a mais do que no ano anterior. O IBGE não apontou as causas do aumento.  O contingente que produz para consumo próprio representa 7,4% da população com mais de 14 anos. 

O crescimento em relação aos 6,3% verificados em 2016 se deu principalmente entre pessoas com 50 anos ou mais (de 8,8% para 10,4%) e entre pessoas não ocupadas (7% para 8,3%). 

As atividades pesquisadas pelo IBGE são cultivo, pesca, caça e criação de animais (a mais frequente, realizada por 76,4% dos que disseram produzir para consumo próprio), produção de carvão, rote ou colheita de lenha e palha (16,9%), fabricação de calçados, roupas, móveis, cerâmicas e alimentos (13,1%) e construção de prédio, cômodo, poço e outras obras (7,5%).   Entre essas, a única que apresentou crescimento expressivo foi a fabricação de calçados, roupas, móveis, cerâmicas, alimentos ou outros produtos, na qual a taxa de realização passou de 11,6% para 13,1%. É também a única atividade com predominância feminina. 

De acordo com o IBGE, quanto maior o nível de instrução, menor a taxa de produção para próprio consumo. Entre os sem instrução ou ensino fundamental incompleto, são 12,9%. Entre os que têm ensino superior completo, são 2,9%.
12,9%

PESQUISA

Cresce número de brasileiros que realizam trabalho voluntário

A pesquisa Outras Formas de Trabalho 2017, mostra que 7,4 milhões de pessoas realizaram trabalho voluntário, o equivalente a 4,4% da população de 14 anos ou mais de idade. O aumento foi de 12,9% em comparação a 2016.

Os dados consideram trabalho voluntário aquele não compulsório, realizado por pelo menos uma hora na semana, sem receber remuneração ou benefícios em troca, e realizado em apoio a pessoas que não moram no mesmo domicílio do entrevistado e não são de sua família.

O perfil dos voluntários no país é prioritariamente de mulheres que têm uma série de atividades extras, além de trabalho e afazeres domésticos. Os que desenvolviam atividades voluntárias em 2017 eram 5,1% das mulheres e 3,5% dos homens, fato observado em todas as grandes regiões.
 
Para analisar a intensidade do trabalho voluntário, o IBGE considera a média de horas despendidas na semana em tais atividades. Em 2017, a média foi de 6,3 horas semanais, inferior às 6,7 horas constatadas no ano anterior. A região com maior média de horas foi a Norte (7,1 horas) e a com menor média, a Sudeste (6 horas). A única região com aumento da dedicação ao trabalho voluntário foi a Sul. A região Norte ficou estável e as demais tiveram queda.


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