Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
01/04/2018 às 07h00min - Atualizada em 01/04/2018 às 07h00min

Novos bairros de Uberlândia são terras férteis para empreender

Monte Hebron e Pequis têm um mercado de 15,5 mil pessoas a ser explorado

​VINICÍUS LEMOS | REPÓRTER
Lilian Felipe abriu uma loja na principal avenida do Pequis | Foto: Vinícius Lemos

São 5,2 mil casas nos bairros Monte Hebron e Pequis, na zona oeste de Uberlândia. Se tomarmos como base que um núcleo familiar tem três pessoas, em média, os dois dos bairros mais novos da cidade têm um mercado de 15,5 mil pessoas a ser explorado. Não é à toa que, mesmo pequenos, empreendedores têm apostado dinheiro e tempo para ganhar a vida por ali. Cada um à sua maneira, eles lutam para conquistar um público consumidor que tem tamanho equivalente ou superior à população de cerca de 600 municípios de todo o Estado de Minas Gerais.

A reportagem do Diário de Uberlândia visitou empresas da região. O setor predominante nos dois bairros é o comércio, no qual se destacam as empresas de alimentação e de materiais de construção, o que é natural para os locais em que casas foram entregues sem muros e passam por expansão. Lojas de calçados, roupas ou materiais diversos para casa também são comuns. Bares ou depósitos de bebidas que oferecem mesas e até espetinhos também são fáceis de serem encontrados em uma visita aos bairros.

Em relação aos serviços, barbearias, salões de beleza, manicures e borracharias são mais comuns. Nestes casos, foi mais fácil de verificar que esses negócios foram montados em ambientes mais improvisados, dentro das próprias casas. A comparação é feita com os comércios que, em sua maioria, já se estabeleceram em espaços construídos para o aluguel de empresas ou em construções contíguas às casas dos comerciantes.


Moreira começou empório dentro de carro há um ano | Foto: Vinícius Lemos

OPORTUNIDADE

Dizem os amigos e conhecidos que o Antônio Moreira da Silva, conhecido só como “Moreira”, começou seu empório no Pequis dentro do próprio carro, quando foi visto com uma caixa de ovos e um pacote de refrigerantes, os quais se tornaram sua primeira venda no local. Desde então, se passou um ano e três meses. Hoje, um dos mercadinhos mais antigos do bairro emprega quatro funcionários e continua com o refri e ovos em seu mix de produtos, que já se diversificou bastante e vai do arroz e do feijão à cerveja e produtos como mangueiras, chinelos, tintura para cabelo ou desodorantes. “Acho que contribuo com a população e ganho meu dinheiro. Abro 7h e fecho lá pela meia-noite. Não dá para o cara ir buscar produto em qualquer lugar, a gente está longe”, disse.

Entre roupas, produtos para casa e pequenos eletrônicos, Lilian Felipe toca uma loja na principal avenida do Pequis. Ela mora no bairro desde dezembro e disse que o comércio ganha corpo no local, seguindo o próprio desenvolvimento do bairro. “Desde que a escola aqui perto passou a funcionar, por exemplo, muita gente que mora em ruas mais afastadas começou a conhecer melhor”, afirmou.

NECESSIDADE

Se o Moreira e a Lilian viram oportunidade comercial, a alguns quilômetros dali, no Monte Hebron, Genovan Fernandes apostou em uma lan house e na prestação de serviços quando se tornou um empreendedor, há dois meses. No caso, foi a necessidade que levou o antigo segurança a juntar o acerto de três anos de serviço, construir um pequena sala na frente de casa e criar ali o ambiente de seu negócio. Ele e a esposa trabalham no local e, no fim das contas, o acesso à internet é apenas um dos meios de ganhos da família. “Xerox, segunda via de contas, documentos do Detran e agendamentos são mais procurados. A gente vende acessórios para aparelhos eletrônicos também.” 

Fernandes disse que esperava mais do negócio, mas que “enquanto tiver pagando as contas e prestação, ‘tá’ bom”.

MERCADO

Primeiros comércios atendem necessidades básicas

As histórias relatadas nesta página sobre os negócios no Monte Hebron e Pequis refletem o mercado de empreendedorismo no Brasil. Segundo Marcílio Ribeiro, consultor do Sebrae em Uberlândia, o brasileiro se lança no mercado ou por conta de uma oportunidade, ou por necessidade. “O perfil é 30% por necessidade, e 70%, por oportunidade”, afirmou. 

Ribeiro faz um trabalho de desenvolvimento e apoio a pequenos negócios em bairros novos como o Pequis e Monte Hebron. Mais recentemente, após a ampliação do Shopping Park, na zona sul, outro mercado pronto a ser explorado surgiu na cidade. Lá, Ribeiro apresentou palestras e teve reuniões com pequenos empresários locais para orientar em planos de negócios, precificação e marketing.

Segundo o consultor, em bairros novos, necessidades mais básicas são atendidas primeiro, com a venda de alimentos e produtos de primeira necessidade, como higiene. Posteriormente, o oferecimento de serviços e lazer acompanha o adensamento da população.

A dica para quem quer empreender é ouvir o que a população demanda, enquanto o interessado monta uma estrutura básica para o atendimento do cliente. “Invista o mínimo possível. Melhor atender o cliente em uma garagem, do que começar com algo requintado e depois não atender à necessidade. É preciso ouvir o que cliente quer, e se você atender bem, pode ganhar”, disse Marcílio Ribeiro.

INFORMALIDADE

A maior parte dos entrevistados começou seus negócios de maneira informal e, parte deles, ainda procura resolver a situação com o Município. A burocracia, segundo o Sebrae, pode ser resolvida, inicialmente, por meio do chamado MEI, o Microempresáio Individual, uma maneira de criar pessoa jurídica para aqueles que têm ganhos de até R$ 81 mil anuais. 

Contudo, é preciso que cada atividade seja estudada para que cada particularidade seja atendida a fim de ter liberação municipal para funcionamento.
 

Artur Lopes comprou uma mercearia no bairro Monte Hebron | Foto: Vinícius Lemos

VIZINHOS

Moradores de outros locais veem oportunidades

Diariamente, Rosana Bernardes se dirige do bairro Brasil, na região central de Uberlândia, para o Pequis, na zona oeste, onde há uma mês abriu uma loja de calçados femininos, masculinos e infantis. Depois de dois anos fora do mercado, ela resolveu usar parte de seu acerto de 14 anos em uma grande empresa do agronegócio para empreender. “[Tenho] Esperança de um bom negócio aqui. Vai bem e penso em conseguir me mudar para mais perto”, afirmou.

Foi com o mesmo olhar de conseguir desbravar um mercado novo e com pouca concorrência que Artur Lopes, morador do bairro Jardim Holanda, também na zona oeste, comprou uma pequena mercearia no bairro Monte Hebron.

Com o dinheiro de um consórcio, o antigo vendedor autônomo se transformou no dono de um empório há sete meses. De frutas até cigarros, o comércio teve bons ganhos nesses meses, mas se viu em dificuldade por conta da criminalidade. 

“Fui furtado uma vez que entraram aqui e limparam a loja e também já fui assaltado a mão armada. [Tive] Uns R$ 18 mil de prejuízo nos dois casos”, disse.

SEGURANÇA

O comando do 32º Batalhão da Polícia Militar (PM) informou ao Diário de Uberlândia que há viaturas específicas para fazer rondas nos dois bairros, Pequis e Monte Hebron. 

Na visão da PM, um passo importante para a segurança na região pode ser a formação de células da chamada Rede de Comércios Protegidos e também da Vizinhança Solidária, que aproximam policiais e empresários.

A polícia ainda salientou que as estatísticas não coloca os dois bairros nos índices de zonas quentes de criminalidade e que, por isso, o trabalho realizado na região é voltado para a prevenção.
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90