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01/03/2018 às 19h35min - Atualizada em 01/03/2018 às 19h35min

Chuva é sinônimo de medo e prejuízo no Shopping Park

Moradores falam dos problemas do bairro e se dizem sem esperança

WALACE TORRES | EDITOR
Equipes de limpeza retiraram lixo, barro e pedaços de asfalto dos bueiros | Foto: Walace Torres


“Mãe, quero ir embora daqui”. Esse é o desabado de um garoto de 6 anos de idade para sua mãe, após presenciar mais uma noite de medo, perdas e tristeza. O desabafo também reflete o sentimento de boa parte dos moradores da rua Antônio Carlos Martins Ribeiro, no bairro Shopping Park, zona Sul de Uberlândia. Após o último temporal, no fim da tarde de quarta-feira (28), que transformou a rua em rio, o desejo de Lucimaura de Freitas - mãe do pequeno Francisco - é de arrumar as trouxas e partir.

“É de dar dó. A cada chuva meu menino olha pra mim e diz: ‘mãe, toda vez que chove entra água na nossa casa. Quero mudar de casa’. Não aguento mais”, diz a mãe, que hoje ouviu o lamento mais uma vez enquanto conversava com a reportagem. “Da outra vez, ele disse: ‘ainda bem que não molhou a TV’”.

Desta vez, a chuva invadiu dez casas na mesma rua, além da Estação de Tratamento de Esgoto do Dmae. Até granizo caiu do céu. A água chegou a mais de um metro de altura na rua, segundo os moradores. E não foi só a enxurrada que causou estragos. Houve refluxo na rede de esgoto e os detritos se misturaram ao barro que se espalhou por todos os cômodos.

Nos seis anos em que mora no bairro com o marido e os dois filhos, Lucimaura diz que houve perdas. É só chover forte que a água invade a residência e provoca estragos. Num dos alagamentos a família perdeu um guarda-roupas. Em outro, foram três jogos de sofá. Também houve a perda de um tanque de lavar roupas e um conjunto de ferramentas do marido, que é chaveiro. No temporal da última quarta foi o portão eletrônico que estragou.

A vizinha do lado direito, a dona de casa Antônia Pereira Reinaldo Oliveira, jogou fora um colchão de casal danificado na enxurrada, que alcançou um palmo dentro de casa. Outro colchão, de solteiro, foi aproveitado depois de ficar toda a manhã de hoje no sol. Já o kit escolar que o netinho de 9 anos havia recebido no dia anterior foi todo perdido com a chuva. “Hoje ele foi só com um caderno para a escola”, conta a avó.

O filho de Antônia Pereira está construindo um cômodo nos fundos e também teve prejuízo com a chuva, que levou toda a brita e areia que se encontravam no passeio. “Foi a segunda vez esse mês que a água leva todo o material dele”, diz Antônia, reforçando que a chuva de quarta-feira foi “a pior de todas”.

A constatação também é compartilhada pela diarista Marlene Hilário da Silva, que mora três casas ao lado. “Nunca vi tanta água assim. Já tô cansada, querendo ir embora daqui”, diz Marlene, que ainda brinca perguntando à reportagem se não gostaria de comprar seu imóvel. Segundo conta, dois moradores já se mudaram do bairro por causa dos problemas enfrentados na região.

“As nossas casas são condenadas”, completa em tom de lamento a vizinha Selva Madalena.
 
MUROS DE ARRIMO 

As residências da rua Antônio Carlos Martins Ribeiro que mais sofreram com a chuva da última quarta-feira também enfrentam outro problema decorrente dos muros de arrimo construídos em 2013 para amenizar a falha no terreno do loteamento, que foi entregue no ano seguinte pela Prefeitura e a Caixa Econômica Federal.

A diarista Marlene Hilário conta que a obra foi mal compactada. A pressão gerada no solo coberto pela terra provoca rachaduras dentro das casas. Na fissura aberta na parede da cozinha da diarista cabe uma mão inteira. Segundo ela, quando chove forte e a água invade a casa, o problema se agrava. “Eu já gastei R$ 10 mil só com reformas na casa”, conta Marlene, que ainda tem mais quatro anos de prestação para quitar. “A vontade é de mudar, mas nem isso eu posso”, diz.

Alguns moradores da rua são autores de ação por danos morais que tramita na Justiça contra o Município, a Caixa e a empreiteira responsável pelo loteamento. “Só que até agora não saiu nada”, diz Marlene.
 
RUA

Rede pluvial não suporta escoamento da água

A rede pluvial existente na rua onde a chuva gerou inundações no Shopping Park é pequena para suportar a vazão de água que escorre das partes mais altas do bairro. Além disso, a quantidade de lixo que é levado para as bocas de lobo agrava ainda mais a situação. Segundo o Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae), após o temporal as equipes de limpeza retiraram um caminhão de entulho somente da rua Antônio Carlos Martins Silva. Hoje pela manhã ainda havia equipes fazendo a limpeza dos bueiros e a capina dos terrenos no entorno.

Segundo nota divulgada pela Prefeitura, serão feitas outras intervenções pelo Município para aumentar a capacidade de escoamento, com a instalação de grelhas e ampliação das galerias. “As obras serão realizadas assim que as condições climáticas permitirem”, informou.

Em relação ao esgoto, as casas afetadas passaram por um processo de desinfecção. “O refluxo é provocado principalmente pelo descarte incorreto de lixo e pelas ligações cruzadas”, diz a nota.

A enxurrada ainda danificou as obras de contenção na erosão da avenida Nicomedes Alves dos Santos, no cruzamento com a avenida Argemiro Evangelista Ferreira no córrego Lageado. Um dissipador que estava sendo construído para dar maior vazão à água foi levado pela enxurrada. Segundo o Dmae, será feita outra intervenção antes do ponto mais crítico para ajudar a conter o volume de água. O trabalho foi retomado ainda hoje.
 
FENÔMENO 

Chuva de quarta-feira se concentrou na região sul, onde nuvens formaram o fenômeno cúmulo-nimbus | Foto: Alessandro Gomes/Divulgação

A chuva forte de quarta-feira se concentrou na região sul de Uberlândia e foi provocada por nuvens do tipo cúmulo-nimbus, que ao ganhar massa e volume podem atingir mais de quinze quilômetros de altura. Uma de suas principais características é o formato de bigorna que forma-se em seu topo, resultado dos ventos da alta troposfera. Esse fenômeno produz muita chuva, principalmente durante os meses mais quentes do ano, e vem acompanhado de fortes ventos e granizo.

O fotógrafo Alessandro Gomes registrou o momento exato em que o fenômeno se formou no céu de Uberlândia. Uma das imagens está nesta página e a outra na capa da edição. A Defesa Civil e o Instituto de Climatologia da UFU não conseguiram constatar a quantidade de chuva que caiu na região sul de Uberlândia. O único equipamento que faz a medição na cidade fica instalado no campus Santa Mônica.
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