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11/02/2018 às 05h03min - Atualizada em 11/02/2018 às 05h03min

Crescem alunos com deficiência na rede

Maior desafio é adequar estrutura das escolas e preparar profissionais para o atendimento dos estudantes

LAURA FERNANDES | APRIMORAMENTO PROFISSIONAL
Sesi Roosevelt é uma das escolas que conta com alunos com deficiência desde o ensino infantil / Foto: Arquivo Pessoal

Aos poucos, Uberlândia tem conseguido aumentar a inclusão de alunos com deficiência no sistema de ensino regular. De acordo com o Senso Escolar, na rede municipal, o número de matrículas teve maior crescimento no ensino fundamental, que passou de 1.279 inscritos em 2013, para 2.240, no último ano, o que representa alta de 75%. Já na rede estadual, o ensino médio teve maior crescimento no período avaliado, passando de 57 matrículas em 2013, para 310 em 2017 (alta de 443%).

A coordenadora de ensino da educação especial da Secretaria Municipal de Educação, Maria Isabel de Araújo, afirma que os aumentos das matrículas aconteceram por conta das orientações legais do Ministério da Educação, do Estado e da política de inclusão adotadas pelo município desde 1990.

"A procura está muito grande porque os pais estão sabendo dessa política de respeito às diferenças. Isso não está acontecendo só por conta das questões legais, há todo um movimento de direitos humanos que respeita o potencial da pessoa", disse.

Sobre o maior índice de crescimento de matrículas no ensino fundamental, a coordenadora justifica o fato de inexistir, anteriormente, a educação inclusiva no período escolar infantil. "Começou primeiro no ensino fundamental, porque muitos alunos já tinham a idade escolar, mas estavam fora do sistema regular de ensino, em escolas especiais. Com a política de educação inclusiva eles começaram a adentrar no sistema tradicional. Daí como a maioria já tinha idade escolar, já entrou para o ensino fundamental", explicou.

Segundo o Senso, em 2017 o número de matrículas de pessoas com deficiência no ensino infantil da rede municipal foi quase o dobro do de 2013, com 481 contra 243, respectivamente.

Maria Isabel afirmou que cabe ao sistema educacional possibilitar aos alunos com deficiência as melhores condições para o desenvolvimento de habilidades. "A educação era excludente, mas hoje não. A educação tem que buscar trabalhar com práticas pedagógicas, com a organização do trabalho pedagógico da escola, de forma a atender a todos que estão na escola", afirmou.

SUPORTE

A coordenadora conta que os alunos com deficiência matriculados no ensino regular e no universo da escolarização têm atendimento educacional especializado, que é trabalhado para atender as necessidades de cada um. "No turno da escolarização, alguns têm um acompanhador que faz o trabalho de higiene, alimentação e locomoção dos que não conseguem e também tem o professor de apoio", disse.

Ela afirmou que o Centro Municipal de Ensino disponibiliza formação contínua e sistemática. De acordo com a coordenadora, para atuarem na educação especial os professores têm obrigação de cumprir um módulo de formação em educação especial. Ela explicou que são disponibilizados cursos para cuidador, professor de apoio, professor de 1° ao 5° ano para a educação especial e professor do 6° ao 9°.

Quanto à estrutura, a coordenadora afirma que as escolas têm de estar sempre aptas a se adequarem. "Não diria sempre preparada porque a gente nunca está completamente preparada. Cada caso é um caso", justifica Maria Isabel.

ESTADO

O superintende regional de ensino de Uberlândia, Jakes Santos, afirmou que o Estado também conta com diretrizes estaduais para a inserção de estudantes com deficiências, Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) e Altas Habilidades/Superdotação. Ele afirmou que, para isto, também há formação continuada dos educadores, bem como a adequação dos espaços escolares.

“Quando as escolas recebem a matrícula do estudante da educação especial, ou a informação de que este será matriculado em escola da nossa rede, a equipe multiprofissional é acionada para realizar visita à escola, para tomar conhecimento do caso e, a partir de então, organizar a melhor estratégia de capacitação para os profissionais da unidade que irão atender este aluno”, disse.

Ainda de acordo com o superintendente, o objetivo da rede estadual é  tornar a escola um espaço democrático que acolha e garanta a permanência de todos os alunos, sem distinção social, cultural, étnica, de gênero ou em razão de deficiência e características pessoais.
 
SALA DE AULA

Pais dividem opiniões sobre preparo das escolas

Mesmo com o crescimento da inclusão do aluno com deficiência nas escolas comuns, alguns pais ainda se queixam da falta de profissionais capacitados para o atendimento às necessidades e limitações dos filhos no sistema de ensino. Por outro lado, também há quem esteja satisfeito.

No geral, ainda de acordo com os pais, o atendimento varia de escola e profissional. Mesmo os que reclamaram do atual serviço disseram que, em algum momento da educação do filho, encontraram com serviços de qualidade e educadores especializados.

É o caso da Sueli Ferreira da Costa, mãe do estudante Admisson Antônio Eugenio Junior, deficiente físico (não cadeirante) e auditivo, que hoje está com 21 anos, aluno do 3° ano EJA da escola estadual José Ignácio de Sousa, no bairro Brasil, setor central.

A mãe contou que a escola não possui profissional especializado para acompanhá-lo e que os professores não estão capacitados. "Quando eu fui lá fazer a matrícula, eles disseram que não teria pessoa especializada para ficar com ele, no caso, se ele fosse cadeirante. A dificuldade dele é só na audição, mas ele ganhou um aparelho auditivo da UFU e leva para a sala de aula ", disse.

Ela também afirmou que, apesar de não serem especializados, os professores procuram sempre ajudar seu filho. "Eles procuram fazer o melhor, colocando-o na frente, explicando. Ele conseguiu passar o primeiro, o segundo, agora ele foi para o terceiro ano", disse.

Em comparação, Sueli afirmou que quando o filho frequentava a Escola Estadual Rotary, no Tibery, na zona leste, onde fez do 3° ao 8° ano do fundamental, havia sempre visita de pedagoga especializada da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD) para orientar os professores de acordo com as necessidades de Admisson. "Nos primeiros dias que ela ia funcionava, mas depois passava o tempo e não faziam mais nada", afirmou.

Mesmo assim, entre um acompanhamento especializado e outro, o menino foi encaminhando a educação. Pegou algumas dependências, mas conseguiu concluir o fundamental.

Diferentemente de Sueli, Nubia Menezes Gonçalves Maraques, mãe de Vinícius Menezes de Freitas, que também é deficiente físico (cadeirante), portador de Mielomeningocele, afirma que apesar da ausência do atendimento especializado, o suporte que os professores dão ao filho contempla suas necessidades. Hoje o estudante está com 18 anos, matriculado no 1° ano do ensino médio da Escola Estadual João Rezende, no bairro Custódio Pereira, na zona leste.

Na escola existe um banheiro especial para o aluno. "Ele consegue realizar todas as atividades de higiene sozinho, por isso não há necessidade de acompanhamento profissional", disse. Sobre a estrutura da escola, Nubia também não tem reclamações. "Quando fui fazer a matrícula eles já haviam feito a rampa e estavam adaptando o banheiro. O elevador ainda não tinha, mas eles colocaram depois", finalizou.

Rosalina Cândida Teixeira, mãe de Fernanda Teixeira dos Reis, de 17 anos, também não tem reclamações do atendimento dos professores. A filha estuda no 1° ano do ensino médio na Escola Sesi Roosevelt, também na zona leste, onde frequenta desde o ensino infantil. "Lá não tem psicopedagoga, mas a pedagoga está sempre acompanhando e tem aula de reforço. A escola está preparada para atender às necessidades dela, os profissionais são muito bem preparados e até hoje não tenho nada para reclamar", disse.
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