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24/12/2017 às 05h46min - Atualizada em 24/12/2017 às 05h46min

‘Trucks’ crescem e pedem formalização

Número de food trucks aumentou 17 vezes em três anos, mas setor segue sem regularização em Uberlândia

VINÍCIUS LEMOS | REPÓRTER
Negócio especializado em comida mexicana foi aberto há oito meses por amigas / Foto: Vinícius Lemos

 

Uma tendência no ramo gastronômico, uma alternativa em tempos de crise, uma moda, uma reformulação dos antigos lanchinhos ou apenas um bom negócio. O rótulo não importa diante do fato de que os food trucks são uma realidade em Uberlândia que ganha espaço, é assunto legislativo e, principalmente, emprega. O que falta no Município, de acordo com os próprios empreendedores, é finalizar a regulamentação do setor, que até já têm legislação aprovada na Câmara e sancionada pelo Executivo. Por sua vez, o mercado segue aquecido.

Estima-se que no Município haja mais de 200 pessoas trabalhando com os food trucks e cujas rendas dependam total ou parcialmente dos lanches, espetos, comidas típicas, doces ou bebidas oferecidas nessas cozinhas móveis. O ramo despontou no mercado local há cerca de três anos, quando um primeiro festival foi organizado com apenas quatro veículos da cidade e uma série de convidados de outros Municípios.

O evento no Centro de Tecelagem, no bairro Morada da Colina, é considerado o ponto de partida de um negócio que hoje aglutina cerca de 70 empreendimentos. De acordo com a presidente da Associação Comboio de Food Trucks de Uberlândia, Renata Gusmão, o crescimento do setor se dá por uma série de fatores, como o ingresso de desempregados, que viram no setor uma maneira de se fazer dinheiro, ou pequenos empreendedores atrás de uma maneira prática de ter o próprio negócio. Fato é que a quantidade de trucks na cidade multiplicou-se 17 vezes no período, o que não chega a assustar a associação, ainda que o público tenha sido dividido e as vendas desacelerem na ordem de 30% por empreendedor, em média.

“É um mercado viável. Vai depender do que você vai vender e de como você trata o próprio negócio. Para manter o mercado girando é preciso inovar, por exemplo”, afirmou Renata Gusmão.

 

ASSOCIAÇÃO

A organização criada em 2015 hoje conta com 40 food truck associados e busca organizar ações em Uberlândia. Há agenda de terça a domingo e os membros se revezam entre eventos, praças e ruas da cidade. O objetivo é ocupar espaços públicos e até privados, quando solicitados. São aceitos apenas dois membros de cada tipo de cardápio para manter diversidade e existe uma mensalidade de R$ 90 por associado usada na manutenção da organização, que não tem fins de lucro.

 

OPORTUNIDADE

Para crescer, donos ‘ralam’ e se especializam

As histórias das pessoas que montaram food trucks e hoje servem pratos pelas ruas de Uberlândia são variadas, mas terminam em horas de trabalho e a busca por um cardápio que chame a atenção do cliente. Como explicou uma das sócias de um truck de comida mexicana, Camila Reis Miziara, os pratos são iniciados horas antes do trailer abrir e nem sempre dentro deles, mas nas casas dos cozinheiros. No caso dela, o negócio começou há oito meses, depois que ela e a sócia, Vanessa Miranda, deram consultoria ao antigo dono do food truck, que o ofereceu às duas. No negócio, elas aplicam conhecimentos adquiridos com a vida de trabalhos com restaurantes. Vanessa é chef e Camila trabalhou em uma grande cadeia de temática australiana, entre outros lugares.

“Hoje eu trabalho para mim, essa é a grande diferença. Já a comida é uma ideia diferente para tirar as pessoas de casa. Não fiz projeto, apareceu a oportunidade. Temos que nos estimular todos os dias. Se deixar de participar ou ficar atento a todas novidades ele não vai para frente”, disse Camila.

Os food trucks também são definidos por muitos como um trabalho de família, devido à grande participação de casais e filhos à frente do negócio. Um bom exemplo é o de Paulo Roberto Ferreira, que, com a esposa, montou uma hamburgueria em um trailer há quatro anos ainda em São Paulo. Ele era um dos convidados em 2014, no primeiro evento de food trucks da cidade. Gostou tanto do mercado e da cidade que ficou desde então.

Especialização no setor alimentício e trazer novidades também fazem parte da receita do negócio. “Minha esposa é formada em gastronomia e eu sempre faço cursos e especializações em carnes e hambúrguer. Os que conhecem o ramo, o mercado, escolhem por causa da qualidade do produto”, afirmou. Hoje ele tem um trailer fixo em um food park e uma bike que roda por eventos.

 

ESTRUTURA

‘Food park’ é alternativa de negócio no ramo

Fugindo do conceito inicial do food truck, a chamada comida de rua também busca alternativas para o próprio ramo, como os chamados food parks, que reúnem, em pontos fixos, uma série de trailers de diversos cardápios.

Em Uberlândia, o primeiro começou a funcionar em setembro no bairro Santa Mônica, e de acordo com a sócia-proprietária Tatiane Ribeiro, a ideia surgiu justamente com o crescimento do setor na cidade e a visão de quem veio de Goiânia (GO), onde existe cerca de 10 empreendimentos do tipo.

O food park de Uberlândia também é um negócio de família, entre Tatiane e seu irmão. Segundo os proprietários, o público tem aumentado e, atualmente, chega a 400 pessoas em uma noite de fim de semana.

O local tem oito food trucks, bar e banheiro. O retorno dos empresários vem de uma porcentagem das vendas dos pratos. “Foge um pouco do conceito, mas fornecemos benefícios que a cidade não tem. Não é qualquer lugar que eles podem parar, precisam de pontos de luz e água, fora a estrutura física. Aqui fornecemos isso e mais, como atrações musicais”, disse.

 

LEGISLAÇÃO

Regulamentação do setor segue parada há 1 ano

Apesar de ser um negócio crescente na cidade e ter até legislação sancionada pelo Executivo Municipal, tecnicamente todo o setor ainda trabalha na irregularidade. Isso porque nenhum food truck têm alvará de funcionamento ou sanitário, mesmo que boa parte já tenha pleiteado junto à Prefeitura.

O projeto de Lei 1121/2015, de autoria do vereador Helvico Queiroz, foi aprovado em plenário em março de 2016. O texto trazia regras básicas para comercialização de alimentos em trailers, vans e veículos similares em vias e áreas públicas. Em dezembro do ano passado, uma revisão estabeleceu mais normais do projeto de Lei, entre elas a determinação de que poderia haver até um food truck para cada 10 mil pessoas em Uberlândia e que seria necessário manter distância mínima de 100m de entradas e saídas de outros estabelecimentos do setor de alimentação.

O projeto foi sancionado em janeiro de 2017 pelo prefeito Odelmo Leão, sendo montada uma comissão para no último mês de junho para elaboração das atribuições e observâncias que cada secretaria municipal vai utilizar para o exercício da atividade na cidade. Desde então, nada ficou definido. Procurada pela reportagem do Diário do Comércio de Uberlândia, a Prefeitura informou que o status dos trabalhos não mudou desde o meio do ano.

A presidente da associação do food trucks em Uberlândia, Renata Gusmão, mesmo com a espera, que já dura quase um ano, é otimista quanto à finalização do texto e sua aplicação. Para ela, a maior questão a ser debatida são as particularidades em relação à Vigilância Sanitária. Neste momento, os trucks são equiparados a restaurantes em pontos fixos.

“A Vigilância Sanitária tem que enquadrar a Lei para o food truck sem trazer prejuízo à saúde de ninguém, mas desde que dê certo para que a gente possa trabalhar. Não é possível manter banheiros ou separações de cozinhas iguais aos outros estabelecimentos num trailer, por exemplo”, afirmou. Renata Gusmão ainda avalia que sem poder ter em mãos os alvarás, o Município deixa de arrecadar dentro um filão que quer se formalizar.


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