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24/12/2017 às 05h40min - Atualizada em 24/12/2017 às 05h40min

70% das rodovias mineiras não estão em boas condições

Pesquisa CNT aponta que apenas 4% das estradas de Minas Gerais estão em ótimo estado

VINÍCIUS ROMARIO | REPÓRTER
Cerca de R$ 9,2 bilhões são necessários para recuperar as estradas mineiras / Foto: Vinícius Romario

 

Viajar pelas estradas que cortam Minas Gerais pode ficar 32% mais caro devido às condições das vias. O cálculo foi feito de acordo com os resultados apresentados pela 21ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias divulgada no último mês. O estudo leva em consideração a condição da pista, sinalização, segurança, entre outros aspectos. O resultado mineiro fica acima da média nacional, que é de 27% de acréscimo nos custos. No estado, apenas 4% das rodovias estão em ótimo estado.

“Se a estrada está ruim, tem buracos, os custos logicamente aumentam. Você precisa dar mais manutenção ao veículo, gasta mais com combustível, passa mais tempo parado, troca mais peças e pneus. Isso afeta a todos, mas principalmente aos caminhoneiros, que necessitam das estradas para a fonte de renda”, afirmou o diretor executivo da CNT, Bruno Batista.

Em Minas, que tem a maior malha rodoviária do país, com 269.546 km de rodovias, é justamente a questão da qualidade das pistas que mais pesa negativamente quando se considera o custo das viagens. Em todo o estado foram avaliados 15,076 km. Desse total, 69,8% encontra-se péssimo, ruim ou regular, o que representa cerca de 10,5 mil km. Do restante, 26,2% está em bom estado e somente 4% das estradas mineiras estão em ótimas condições.

Devido a isso, o estudo mostra que Minas Gerais é a unidade que mais necessita de investimentos para a recuperação das estradas, cerca de R$ 9,2 bilhões. No ano passado, o valor era de R$ 8,7 bilhões. Para restaurar as estradas de todo o país neste ano seriam necessários R$ 51 bilhões.

“No ano passado, as estradas do estado em condições péssimas, ruins ou regulares representavam 61%, então foi um salto grande, o que é preocupante. O governo não tem dinheiro para investir e recuperar e os problemas vão aumentando, deixando a conta ainda mais cara”, disse Batista.

 

ACIDENTES

Conforme a pesquisa, os 96.362 acidentes, com 6.398 óbitos, registrados em 2016 nas rodovias federais policiadas resultaram em um custo de R$ 10,88 bilhões para o país. Esse valor é superior ao investimento feito em rodovias no ano passado, que foi de R$ 8,61 bilhões.

 

PROFISSIONAIS

Lucro do frete se perde em manutenção, diz caminhoneiro

Flávio Martinele é caminhoneiro em Uberlândia há dez anos e, de acordo com ele, as condições das rodovias do estado estão realmente deixando a desejar. “O pior é que traz muito prejuízo para a gente. Às vezes, teremos um lucro com o valor do frete, mas com esses buracos a gente estoura um pneu, quebra uma roda, e lucro vai para a manutenção”, afirmou.

Já Luiz Gonzaga, natural de Santa Catarina, diz que passa por Minas Gerais todas as semanas e dá nota 0 para as estradas. “Mas não é só aqui não, é em todo o Brasil. Estamos sofrendo com as condições das vias.”

Agostinho Kosinski está na profissão de caminhoneiro há 31 anos e diz ter vivido épocas em que as pistas do país estavam piores, mas ainda classifica o momento atual como ruim. “O problema é que está assim em todas as rodovias, até onde tem pedágio, que na teoria seria um lugar com boa manutenção”, ressalta Kosinski.

Segundo o presidente do Sindicato de Transporte Alternativo do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (Sindtransp-TAP), Célio Moreira, os resultados apresentados pela pesquisa são lamentáveis. “Principalmente se levarmos em consideração que algumas rodovias foram entregues para a iniciativa privada, como as BRs 153 e 050 na nossa região”, afirma Moreira.

Ainda de acordo com ele, mesmo com esse investimento, ainda existem muitos buracos e falta sinalização, o que pode causar riscos de acidentes.

“Tudo isso traz insegurança para quem trafega pelas estradas do estado, mas, principalmente para o caminhoneiro que necessita da rodovia.”

O sindicalista diz ainda que a categoria tem pressionado o governo por meio de ofícios para que haja mais investimentos nas rodovias e que pavimentos e a sinalização sejam recuperados, mas a resposta não tem sido positiva. “Antes havia mais manifestações, mas já estamos nos movimentando e conversando com caminhoneiros para organizar um protesto e chamar a atenção para o nosso problema”, afirmou Moreira. 

 

TRIÂNGULO MINEIRO

Federais que cortam Uberlândia estão melhor que as estaduais

Quanto às rodovias que cortam Uberlândia, as federais tiveram melhor avaliação na Pesquisa CNT. De acordo com o estudo, tanto na forma geral, quanto no pavimento e sinalização, as condições das BRs 153 e 050 são boas. Já BR-365 é classificada de forma geral como regular, tem um bom pavimento e a sinalização é regular.

A MG-452 foi avaliada como regular de maneira geral, mesma classificação para o pavimento, porém tem sinalização ruim.

Os resultados da MG-497 mostram uma rodovia ruim, com pavimento regular e sinalização ruim.

A MG-455 também apresenta as condições gerais e de pavimento como ruins e tem uma sinalização regular.

Saindo de viagem com a família, quando foi ouvido pela reportagem, o empresário Márcio Victor Santos afirmou que anda bastante pelas estradas da região e pediu melhorias. “A viagem pode ficar mais cara mesmo, mas o que mais preocupa é em relação à segurança, pois com buracos, faixas ruins de acostamento e sinalização fraca, muitos pontos se tornam perigosos na região”, disse.

 

PEDAGIADAS

Queda da qualidade também atinge vias concedidas

A 21ª Pesquisa CNT de Rodovias constatou que a piora do estado geral atingiu tanto as rodovias sob gestão pública quanto aquelas sob gestão concedida.

Entre as rodovias geridas pelo setor público, 70,4% da extensão foram avaliadas como regular, ruim ou péssimo e 29,6% foram consideradas com estado geral ótimo ou bom. Na pesquisa do ano passado, esses percentuais foram 67,1% e 32,9%, respectivamente.

No caso das rodovias concedidas, em 2017, 25,6% tiveram o estado geral classificado como regular, ruim ou péssimo e 74,4% atingiram a classificação ótimo ou bom. No ano passado, esses índices foram 21,3% para regular, ruim ou péssimo e 78,7% para ótimo e bom.

A Pesquisa CNT de Rodovias avaliou, neste ano, 105.814 km de rodovia em todo o Brasil, sendo 20.348 km (19,2%) de rodovias concedidas e 85.466 km (80,8%) de rodovias sob gestão pública.

 

DADOS

21ª Pesquisa CNT de Rodovias

 

Brasil

Regular 33,6%

Bom 29,3%

Ruim 20,1%

Ótimo 8,9%

Péssimo 8,1%

 

Minas Gerais

Regular 36,9%

Ruim 27%

Bom 26,2%

Péssimo 5,9%

Ótimo 4%

 

- Situação das rodovias que cortam Uberlândia e região

BR-153:     Bom   Pavimento:  Bom   Sinalização:      Bom

BR-365:     Regular     Pavimento:  Bom   Sinalização:      Regular

BR-050:     Bom   Pavimento:  Bom   Sinalização:      Bom

MG-452:     Regular     Pavimento:  Regular     Sinalização:      Ruim

MG-497:     Ruim  Pavimento:  Regular     Sinalização:      Ruim

MG-455:     Ruim  Pavimento:  Ruim  Sinalização:      Regular

 

- Rodovias mineiras:

> 269.546 km

      7.689 km de rodovias federais

      23.663 km de rodovias estaduais

      238.191 km de rodovias municipais

 

> 26.126 km pavimentados

> Frota de 10,4 milhões de veículos


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