Viajar pelas estradas que cortam Minas Gerais pode ficar 32% mais caro devido às condições das vias. O cálculo foi feito de acordo com os resultados apresentados pela 21ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias divulgada no último mês. O estudo leva em consideração a condição da pista, sinalização, segurança, entre outros aspectos. O resultado mineiro fica acima da média nacional, que é de 27% de acréscimo nos custos. No estado, apenas 4% das rodovias estão em ótimo estado.
“Se a estrada está ruim, tem buracos, os custos logicamente aumentam. Você precisa dar mais manutenção ao veículo, gasta mais com combustível, passa mais tempo parado, troca mais peças e pneus. Isso afeta a todos, mas principalmente aos caminhoneiros, que necessitam das estradas para a fonte de renda”, afirmou o diretor executivo da CNT, Bruno Batista.
Em Minas, que tem a maior malha rodoviária do país, com 269.546 km de rodovias, é justamente a questão da qualidade das pistas que mais pesa negativamente quando se considera o custo das viagens. Em todo o estado foram avaliados 15,076 km. Desse total, 69,8% encontra-se péssimo, ruim ou regular, o que representa cerca de 10,5 mil km. Do restante, 26,2% está em bom estado e somente 4% das estradas mineiras estão em ótimas condições.
Devido a isso, o estudo mostra que Minas Gerais é a unidade que mais necessita de investimentos para a recuperação das estradas, cerca de R$ 9,2 bilhões. No ano passado, o valor era de R$ 8,7 bilhões. Para restaurar as estradas de todo o país neste ano seriam necessários R$ 51 bilhões.
“No ano passado, as estradas do estado em condições péssimas, ruins ou regulares representavam 61%, então foi um salto grande, o que é preocupante. O governo não tem dinheiro para investir e recuperar e os problemas vão aumentando, deixando a conta ainda mais cara”, disse Batista.
ACIDENTES
Conforme a pesquisa, os 96.362 acidentes, com 6.398 óbitos, registrados em 2016 nas rodovias federais policiadas resultaram em um custo de R$ 10,88 bilhões para o país. Esse valor é superior ao investimento feito em rodovias no ano passado, que foi de R$ 8,61 bilhões.
PROFISSIONAIS
Flávio Martinele é caminhoneiro em Uberlândia há dez anos e, de acordo com ele, as condições das rodovias do estado estão realmente deixando a desejar. “O pior é que traz muito prejuízo para a gente. Às vezes, teremos um lucro com o valor do frete, mas com esses buracos a gente estoura um pneu, quebra uma roda, e lucro vai para a manutenção”, afirmou.
Já Luiz Gonzaga, natural de Santa Catarina, diz que passa por Minas Gerais todas as semanas e dá nota 0 para as estradas. “Mas não é só aqui não, é em todo o Brasil. Estamos sofrendo com as condições das vias.”
Agostinho Kosinski está na profissão de caminhoneiro há 31 anos e diz ter vivido épocas em que as pistas do país estavam piores, mas ainda classifica o momento atual como ruim. “O problema é que está assim em todas as rodovias, até onde tem pedágio, que na teoria seria um lugar com boa manutenção”, ressalta Kosinski.
Segundo o presidente do Sindicato de Transporte Alternativo do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba (Sindtransp-TAP), Célio Moreira, os resultados apresentados pela pesquisa são lamentáveis. “Principalmente se levarmos em consideração que algumas rodovias foram entregues para a iniciativa privada, como as BRs 153 e 050 na nossa região”, afirma Moreira.
Ainda de acordo com ele, mesmo com esse investimento, ainda existem muitos buracos e falta sinalização, o que pode causar riscos de acidentes.
“Tudo isso traz insegurança para quem trafega pelas estradas do estado, mas, principalmente para o caminhoneiro que necessita da rodovia.”
O sindicalista diz ainda que a categoria tem pressionado o governo por meio de ofícios para que haja mais investimentos nas rodovias e que pavimentos e a sinalização sejam recuperados, mas a resposta não tem sido positiva. “Antes havia mais manifestações, mas já estamos nos movimentando e conversando com caminhoneiros para organizar um protesto e chamar a atenção para o nosso problema”, afirmou Moreira.
TRIÂNGULO MINEIRO
Quanto às rodovias que cortam Uberlândia, as federais tiveram melhor avaliação na Pesquisa CNT. De acordo com o estudo, tanto na forma geral, quanto no pavimento e sinalização, as condições das BRs 153 e 050 são boas. Já BR-365 é classificada de forma geral como regular, tem um bom pavimento e a sinalização é regular.
A MG-452 foi avaliada como regular de maneira geral, mesma classificação para o pavimento, porém tem sinalização ruim.
Os resultados da MG-497 mostram uma rodovia ruim, com pavimento regular e sinalização ruim.
A MG-455 também apresenta as condições gerais e de pavimento como ruins e tem uma sinalização regular.
Saindo de viagem com a família, quando foi ouvido pela reportagem, o empresário Márcio Victor Santos afirmou que anda bastante pelas estradas da região e pediu melhorias. “A viagem pode ficar mais cara mesmo, mas o que mais preocupa é em relação à segurança, pois com buracos, faixas ruins de acostamento e sinalização fraca, muitos pontos se tornam perigosos na região”, disse.
PEDAGIADAS
A 21ª Pesquisa CNT de Rodovias constatou que a piora do estado geral atingiu tanto as rodovias sob gestão pública quanto aquelas sob gestão concedida.
Entre as rodovias geridas pelo setor público, 70,4% da extensão foram avaliadas como regular, ruim ou péssimo e 29,6% foram consideradas com estado geral ótimo ou bom. Na pesquisa do ano passado, esses percentuais foram 67,1% e 32,9%, respectivamente.
No caso das rodovias concedidas, em 2017, 25,6% tiveram o estado geral classificado como regular, ruim ou péssimo e 74,4% atingiram a classificação ótimo ou bom. No ano passado, esses índices foram 21,3% para regular, ruim ou péssimo e 78,7% para ótimo e bom.
A Pesquisa CNT de Rodovias avaliou, neste ano, 105.814 km de rodovia em todo o Brasil, sendo 20.348 km (19,2%) de rodovias concedidas e 85.466 km (80,8%) de rodovias sob gestão pública.
DADOS
21ª Pesquisa CNT de Rodovias
Brasil
Regular 33,6%
Bom 29,3%
Ruim 20,1%
Ótimo 8,9%
Péssimo 8,1%
Minas Gerais
Regular 36,9%
Ruim 27%
Bom 26,2%
Péssimo 5,9%
Ótimo 4%
- Situação das rodovias que cortam Uberlândia e região
BR-153: Bom Pavimento: Bom Sinalização: Bom
BR-365: Regular Pavimento: Bom Sinalização: Regular
BR-050: Bom Pavimento: Bom Sinalização: Bom
MG-452: Regular Pavimento: Regular Sinalização: Ruim
MG-497: Ruim Pavimento: Regular Sinalização: Ruim
MG-455: Ruim Pavimento: Ruim Sinalização: Regular
- Rodovias mineiras:
> 269.546 km
7.689 km de rodovias federais
23.663 km de rodovias estaduais
238.191 km de rodovias municipais
> 26.126 km pavimentados
> Frota de 10,4 milhões de veículos