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30/10/2017 às 13h02min - Atualizada em 30/10/2017 às 13h02min

'É preciso desmistificar a maçonaria', diz Ballouk

Líder maçom fala de como a entidade se relaciona com a política

VINÍCIUS LEMOS | REPÓRTER
Ballouk Filho é candidato a Grão Mestre Geral da maçonaria / Foto: Divulgação

 

Atual Grão Mestre Estadual do Grande Oriente de São Paulo, o advogado Benedito Marques Ballouk Filho hoje é candidato a Grão Mestre Geral da maçonaria brasileira pela chapa Novo Rumo. Em campanha, ele esteve em Uberlândia e em Uberaba na última semana, com agenda que envolvia encontros com maçons nas duas cidades. O momento vivido por ele, pelo País e no qual a maçonaria busca maior inserção e relevância envolve, em resumo, o debate político. Uma história que ele gosta de ressaltar que já teve grande participação de maçons, mas sem envolvimento direto da instituição.

Em entrevista ao jornal Diário do Comércio, Ballouk Filho ainda falou sobre como a entidade precisa ser desmistificada para evitar o folclore que permeia a sociedade em relação à atuação dos maçons. Entre os assuntos bordados também está a importância de Uberlândia para os planos do candidato e para a política maçônica, cujo grupo tem atuação histórica mais conhecida e direta na saúde e educação do Município.

 

Diário - O senhor passa por campanha, assim com o País vai passar no ano que vem. O senhor pode explicar do que se trata a sua campanha?

Ballouk Filho - Essa é uma campanha de classe, que não é política partidária. É uma entidade de classe e representativa no País, que é a entidade maçônica. A maçonaria chegou ao Brasil 1822, completamos 195 anos aqui e fomos fundados na Inglaterra em 1717. Há uma administração do Grande Oriente do Brasil, que disciplina a ordem maçônica tanto no âmbito Federal quanto Estadual e Municipal, que se assemelham à Presidência, ao Governo de Estado e prefeitos. A cada cinco anos há uma mudança democrática, em termos de votação, onde os irmãos, de forma voluntária, oferecem sua dedicação para continuar o trabalho maçônico. Ele é inteiramente voltado para a própria sociedade e no âmbito interno é um trabalho filosófico, de princípios, de ação moral e ética.

 

Do que se trata o cargo de Grão Mestre Geral e por qual razão se candidatou a esse cargo?

Fazendo um paralelo, é como se fosse um presidente da República. O que nos diferencia é que não temos uma remuneração pelo trabalho que você faz. Estamos numa ordem que pregamos um ideal, e a maçonaria consegue manter uma chama de solidariedade e fraternidade para tornar a sociedade melhor. Quando estamos em uma instituição como essa, você se dedica a esse ideal. Eu faço isso por prazer, ainda que pese o sacrifício da minha vida profissional e familiar.

 

Qual a importância da visita a Uberlândia?

É a cidade modelo do Triângulo, com PIB maçônico muito importante, e não falamos do aspecto financeiro. Esse PIB é de entusiasmo, de entrega para entidades e valorização de cada uma das pessoas que compõem a maçonaria. Não temos como visitar 5,5 mil municípios, ainda mais em uma campanha que se faz do próprio bolso. Então escolhemos cidades-polo para multiplicação.

 

A maçonaria é uma entidade aberta a novas ideias ou conservadora?

É uma entidade aberta tanto no sentido latto quanto sentido stricto. No latto, é uma entidade não governamental comprometida com a pátria, com a humanidade e com a construção social do País. Nós temos uma ideia de que maçonaria é uma ouvidoria social da comunidade. Ela abre suas portas para discutir questões de cidadania, social de educação ou política. No sentido stricto, a maçonaria não é uma entidade como muitos folcloristas falam. Como poderia ser uma entidade secreta se há domicílio e seus estatutos registrados em cartórios, tem CNPJ? A ação da maçonaria em âmbito interno é discreta. Ela não professa segredos. Ela vai fazer seus ensinamentos sem que aquilo seja vinculado a sectarismos. Há muitas coisas que a sociedade ainda tem pela maçonaria como desinformação. Principalmente entre os detratores. Mas é folclore.

 

Muitos maçons falam abertamente de política e parte deles questionaram a esquerda, principalmente durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Isso é um consenso na maçonaria, de pesar lados e tomar partido?

A maçonaria nunca se dividiu com relação à política. Fazemos a política ideária, que vai importar para o bem da pátria. O que não temos no Brasil é uma entidade politizada partidariamente. Não temos posições políticas. Somos uma ordem que pregamos pela liberdade, igualdade e fraternidade. Cada uma faz o que pode fazer em nome próprio e não da maçonaria.

 

Como a maçonaria se insere na política?

Com 195 anos de Brasil, ela nunca fez nada por esse País. Mas todos os grandes movimentos da História, quem realizou foram maçons. E isso continua até hoje. Enquanto entidade ela é abstrata, mas os grandes maçons passaram e fizeram transformações.

 

O senhor diferencia as pessoas da instituição, mas o conjunto dessas pessoas não faz a instituição?

Se isso acontecesse, teríamos uma instituição politizada em termos partidários. O que tentamos desenvolver é o espírito ecumênico. Nós maçons não podemos ser sectários. A partir do momento que estou filiado a qualquer partido e prego pela cartilha dele, estou sendo sectário com meus irmãos. Agora imagine se em Uberlândia temos dois candidatos a Prefeito e eles discutem se vão fazer uma Unidade de Pronto-Atendimento ou se uma biblioteca, isso não é política partidária, mas ideária. Isso vem para a maçonaria para discutirmos. Temos um trabalho chamado Grupo Nacional de Ação Política, cuja ideia é tirar um corrupto para colocar um homem de bem, não necessariamente maçons. Isso não é privilégio da maçonaria, há muitas entidades fazendo isso. E grande parte dos maçons tem uma envergadura republicana e acredita nas instituições do País dele. É uma tendência natural, mas dentro do grupo há pessoas avessas a isso e pregam pela ditadura militar ou pelo comunismo, há todo tipo de pessoas.

 

Pode existir apoio direto a um candidato?

A maçonaria nunca, mas grupos de maçons, sim. São livres, não há tutela.

 

O senhor fala muito sobre desmistificar a maçonaria. Dessa forma, então, como o senhor vê a questão de trazer de volta uma influência política do grupo de forma que as pessoas em geral não se sintam politicamente controladas pela maçonaria?

A detração da maçonaria é cultural. A Igreja Católica colocou o maçom em uma condição de excomunhão. Isso imperou durante anos, até que em 1983 houve revogação do Código Canônico. É pouco tempo. Então você ainda encontra muita resistência. Você precisa desmistificar e mostrar que isso é ignorância. Dessa forma, a maçonaria pede caráter, ética, retidão, fraternidade, que são princípios universais.


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