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17/09/2017 às 05h39min - Atualizada em 17/09/2017 às 05h39min

Uberlândia recicla apenas 1,5% dos resíduos coletados

Falta cooperação da população, apontam Associações da cidade

VINÍCIUS ROMARIO | REPÓRTER
Marcos Donizete Ferreira é presidente da Cooperativa de Recicladores de Uberlândia (Coru) / Foto: Vinícius Romario

 

De todo o lixo coletado em Uberlândia entre janeiro e agosto deste ano, somente 1,5% foi destinado à reciclagem. Os números foram calculados com base em dados informados pelo Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae), responsável pela coleta comum e seletiva de resíduos, e pelas associações de recicláveis de Uberlândia. 

Nesse período, 118,07 mil toneladas de lixo foram recolhidas pela coleta comum e 1,260 mil tonelada apanhadas pela coleta seletiva, um total de 119,3 mil toneladas de resíduos sólidos coletados. Em Uberlândia, existem cinco associações e uma cooperativa de recicláveis conveniadas a Prefeitura e que recebem os resíduos da coleta seletiva. Somadas, as seis entidades conseguem separam cerca de 240 toneladas por mês de material reciclável, que, entre janeiro e agosto, deu um total de 1,920 mil tonelada.

De acordo com os presidentes das associações, há a possibilidade de aumentar esse número, mas é necessário investimento em maquinário e, principalmente, na conscientização da população. Atualmente, a coleta seletiva está presente em 29 bairros dos 85 bairros da cidade e, de acordo com o Dmae, no momento, não há previsão de expansão do projeto.

Cleomildo Martins dos Santos é presidente da Associação de Coletores de Plástico, PET, PVC e outros Materiais Recicláveis (Acopppmar), que, desde 2010 existe no antigo aterro sanitário, na zona norte da cidade. De acordo com ele, hoje são 13 pessoas trabalhando dentro da associação e 20 associados fora, que, no fim do mês, conseguem separar cerca de 70 toneladas de materiais que serão enviados para fábricas de reciclagem.

“Com o pessoal que tenho hoje, conseguiria aumentar muito a minha produção, até dobrar, chegando a 150 toneladas de recicláveis por mês, mas a população tem que se conscientizar. É muito simples separar o reciclável do orgânico. Isso, além de ajudar o meio ambiente, ajuda a dar uma condição mais digna às famílias que trabalham com a gente”, afirmou Santos. 

Essa afirmação também foi feita por todos os outros presidentes. Segundo eles, com conscientização e mais investimentos daria para se trabalhar com cerca de 350 toneladas de recicláveis por mês. 

 

GERAÇÃO DE RENDA

Associações contam com 100 funcionários 

As cinco associações e a cooperativa de recicláveis de Uberlândia empregam atualmente cerca 100 pessoas. Marcos Donizete Ferreira, presidente da Cooperativa de Recicladores de Uberlândia (Coru), fundada em 2001 no bairro Jardim Brasília, zona norte da cidade, afirma que, pelo menos na Coru, a rotatividade é pequena. “A maioria trabalha há muitos anos aqui, eu mesmo tenho 16 anos de associado”, disse Ferreira.

Este é o caso de Luciene Souza Alves, que também trabalha na associação há 16 anos. “Trabalhamos muito, e foi com esse emprego que consegui criar meus três filhos. É realmente uma família que se formou aqui”, afirmou.

Já Roosevelt Martins dos Santos é presidente da Associação dos Catadores e Recicladores do Bairro Taiaman (Assotaiaman), fundada em 2011 e atualmente instalada em um barracão no bairro Daniel Fonseca, no setor central. Ele conta que pela associação já passaram dois filhos e atualmente trabalham na Assotaiaman a mulher e outro filho. “Com o que conquistamos aqui, minha esposa e meu filho pagam a faculdade. É um trabalho duro, mas digno, e excelente, para quem saiu do ‘lixão’, onde tinha que separar material em meio a restos até de animais”, afirma Santos. 

 

DIFICULDADES

Das seis entidades de catadores de recicláveis de Uberlândia, somente uma delas, a Acopppmar, consegue vender o material separado diretamente para fábricas. O restante ainda depende da venda para atravessadores, que são pessoas que pegam o material já prensado, por um preço menor, e repassa para as fábricas. 

O presidente da Associação de Catadores e Recicladores de Uberlândia (ACRU), localizada também no Daniel Fonseca, Alessandro Inácio Pereira, explica o motivo. “As fábricas fecham contratos, nos quais exigem determinada quantidade de material todo o mês, o que não podemos garantir, e também pagam em 25 dias. Já os atravessadores pagam na hora em que pegam o material e pegam qualquer quantidade”, afirma Pereira. 

Ainda segundo ele, enquanto a fábrica pagaria R$ 2,10 pelo quilo da PET, os atravessadores pagam R$ 1,35. Já pelo quilo do papelão os atravessadores pagam R$ 0,40, enquanto nas fábricas o preço chega a R$ 0,60. “Mas como eu disse, os atravessadores pagam na hora, e precisamos do dinheiro para manter a associação”, diz Pereira.

 

ESTRUTURA

Dez caminhões fazem coleta seletiva na cidade

Em Uberlândia, o método de coleta seletiva utilizado é porta a porta, onde o caminhão percorre as residências em dias e horários específicos. Os moradores dispõem os materiais recicláveis nas calçadas acondicionados em sacos plásticos comuns.

“O serviço e realizado uma vez por semana em cada bairro, e os caminhões começam a rodar a partir das 8h. Então, pedimos que os moradores dos bairros contemplados coloquem os resíduos na porta de casa até esse horário”, disse a gerente de gestão de resíduos do Dmae, Maria do Rosário. Atualmente, na coleta seletiva são utilizados dez caminhões com dois coletores em cada. 

Ainda segundo Maria do Rosário, neste ano, o custo da coleta seletiva já chega a R$ 1,8 milhão. No ano passado o valor foi de R$ 3,5 milhões. “A Prefeitura cede os galpões onde as associações estão instaladas, custeia a água e a energia, além da segurança desses locais”, afirmou a gerente. 

Outro ponto abordado por ela foi a lei sancionada em novembro do ano passado, que dispõe que todos os condomínios da cidade devem ter um local destinado à colocação de materiais recicláveis. “Ainda estamos em um processo de conscientização da lei, de divulgação, mas, após notificados, os condomínios que não se adequarem estarão sujeitos à multa entre R$ 800 e R$ 2 mil”, ressaltou Maria do Rosário.

 

SAIBA MAIS

Lixo produzido por dia em Uberlândia

476,4 toneladas por dia
Cada cidadão produz 732 g de lixo por dia

 

Coleta de janeiro a agosto de 2017

Lixo coletado: 119,3 mil toneladas

Material separado para reciclagem: 1,920 mil tonelada 

 

Tempo de degradação de materiais recicláveis 

Alumínio: 200 a 500 anos
Embalagens PET: mais de 100 anos
Papel e papelão: cerca de 6 meses
Plásticos (embalagens, equipamentos): até 450 anos
Sacos e sacolas plásticas: mais de 100 anos
Nylon: 30 anos
Tampas de garrafas: 150 anos


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