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07/09/2017 às 05h08min - Atualizada em 07/09/2017 às 05h08min

Moda Sustentável: ONG e estilista unem-se em ação social

No Mulheres de Renda, as bordadeiras aprendem mais do que uma profissão: têm noções de cidadania

ADREANA OLIVEIRA | EDITORA
Essas são algumas das mulheres que participam do Mães de Renda na ONG Ação Moradia / Foto: Adreana Oliveira

 

Ponto reverso, ponto casa de botão, ponto francês ou ponto russo? No início deste ano, Lucília Gomes da Silva não fazia a menor ideia do que isso se tratava. Estes são alguns exemplos dos diversos pontos possíveis no bordado. Porém, dentro do projeto social Mulheres de Renda, Lucília descobriu uma habilidade que nem desconfiava ter. “Antes de concluir o curso de seis meses eu já levava peças para bordar em casa, e comecei do zero”, contou ela, que participa projeto social Mulheres de Renda, na ONG Ação Moradia, em parceria com a estilista uberlandense Fabiana Milazzo.

Voltado para mulheres chefes de família que almejam conciliar a geração de renda para o sustento familiar e, ao mesmo tempo, cuidar dos filhos, o Mulheres de Renda oferece cursos de bordado em pedrarias, customização de roupas e empreendedorismo comunitário que proporcionam a cerca de 25 mulheres por turma a chance de aprender um ofício que lhes permita ficar perto dos filhos.

Durante a entrevista para o especial de Aniversário de Uberlândia do jornal Diário do Comércio, mesmo não sendo dia de atividades na ONG, Debora Aparecida Rodrigues estava com a filha no colo. E a pequena já quer aprender a bordar também. “É lindo e gratificante ver nosso trabalho ganhar o mundo, estar nas capas de revistas, vestindo apresentadores de TV e artistas, mas o melhor é que podemos trabalhar de casa e ficar perto dos nossos filhos, contou ela.

Quando as mães fazem o curso, os filhos têm atividades lúdicas de desenvolvimento no contraturno escolar. Além do ensino técnico de diversos pontos de bordado em pedraria e a customização de roupas, também é trabalhada a profissionalização da categoria com temas como: fidelização de clientes, comprometimento com a qualidade do serviço, cumprimento de prazos, estabelecimento de horário de trabalho, produtividade, vantagens da abertura de Micro Empresa Individual (MEI), emissão de nota fiscal de prestação de serviços e gestão financeira.

Depois de formadas no curso, as bordadeiras podem se juntar à Unidade Produtiva de Bordado. E até mesmo quem já tem experiência não se arrepende. Maria Evangelista entrou no projeto há um ano e meio, com mais de 30 anos de profissão. “Geralmente, dependendo do tamanho da peça, eu pego de manhã, paro para o almoço e bordo até a meia-noite”, contou ela, que já pegou peças que demoraram um mês para ficar prontas – mais de 400 horas de trabalho.

Para Maristela Nascimento, o bordado é algo mais artístico do que artesanal. Genivan Felix Lopes, que já trabalhou como gari e passou por outros cursos profissionalizantes, encontrou-se no bordado e concorda com a colega. “Além de ser arte, tem a flexibilidade de que a gente precisa para conseguir dar conta de todo o trabalho do nosso dia a dia”, completou Genivan, mãe de dois filhos, de 9 e 13 anos.

Fabiana Milazzo aparece de vez em quando por lá e, segundo as bordadeiras, sempre é muito simpática. As bordadeiras se sentem realizadas quando percebem seus trabalhos em passarelas como da São Paulo Fashion Week (SPFW), onde Fabiana estreou neste ano, com a top Isabeli Fontana entre os destaques na passarela.

 

REGIONALIZAÇÃO

O olhar para dentro é uma possibilidade de ampliar horizontes

Angélica Coelho de Lima durante palestra em Uberlândia / Foto: Adreana Oliveira

Iniciativas como o projeto Mulheres de Renda vão ao encontro da moda sustentável, que, mais do que roupas, quer reproduzir estilos de vida. Por exemplo, nas etiquetas dos vestidos de Fabiana Milazzo vai uma etiqueta com o nome da bordadeira e quantas horas de trabalho foram dedicados à peça. O trabalho manual valorizado e com garantia de origem, livre de exploração de mão de obra.

Durante o lançamento do caderno “Inova Moda Utopias – Inverno 2018”, em Uberlândia, parceria entre Senai e Sindicato da Indústria do Vestuário de Uberlândia (Sindivestu), houve uma palestra provocativa e inspiradora. A responsável por ela foi a consultora técnica do Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Cetiqt) do Senai Angélica Coelho de Lima, que trouxe sua experiência para lojistas, estilistas, designers, empresários e estudantes de moda no auditório da Fiemg – Regional Vale do Paranaíba. A moda sustentável não está ligada somente à diminuição de impacto no meio ambiente por sua produção, mas a muitos propósitos.

A presidente do Sindivestu, Alba Lima, já havia comentado a necessidade de mobilizar-se neste sentido. “Nessa edição a pesquisa reforça a preocupação com uma moda sustentável e destaca a era da tecnologia, da inovação e novidades constantes que estão presentes em todas as áreas, principalmente na moda.”

Além de falar sobre o guia, fruto de uma pesquisa colaborativa e multidisciplinar realizada em nível nacional por colaboradores da Rede Senai Têxtil e de Confecção e Sebrae com o Sindivestu, Angélica Coelho trouxe um panorama do que esperar de um futuro não muito distante.

“Estamos vivendo a quarta revolução industrial, a indústria 4.0 chegou e não tem mais volta. E agora, o que você pode oferecer para o seu consumidor? Para se destacar, esqueça o mundo globalizado e abrace o seu lugar. Essa é a nova globalização, nosso mundo é o nosso local e o único é o novo luxo”, comentou a consultora. Quanto a personalização, ela mostra alguns exemplos de como contar a história de um artefato faz diferença na hora de encontrar seu mercado.

Grifes, grandes ou pequenas, precisam trabalhar com inteligência artificial, analisar os dados e promover a compra assertiva. Angélica Coelho afirma que o investimento na formação do profissional deve ser constante. “Você precisa saber como e para quem mostrar o seu produto. A moda não tem um público-alvo, não tem idade e cada vez mais as marcas precisam, sim, levantar bandeiras e criar uma empatia com seu consumidor”, disse Angélica Coelho.

Alguns dos exemplos apresentados, o uso de realidade aumentada, a produção sob demanda ou mesmo a degustação dos produtos podem parecer um pouco distante do mercado local no momento, porém quem participou da noite entendeu que, para deixar a sua marca, ousar com responsabilidade é preciso.


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