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27/08/2017 às 05h37min - Atualizada em 27/08/2017 às 05h37min

Camisa 10 relembra o Verdão de 84

O ex-meia Carlos Roberto ajudou o Uberlândia Esporte na maior conquista do clube e vive hoje em Belo Vale

ÉDER SOARES | REPÓRTER
Aos 65 anos, o ex-jogador ainda trabalha em uma escolinha de futebol / Foto: Divulgação

 

Peça fundamental do meio de campo do Uberlândia Esporte Clube (UEC) na maior conquista de sua história, que é a Taça CBF de 1984 (Campeonato Brasileiro – Série B), o ex-meia Carlos Roberto relembra com saudades o que considera como a sua melhor fase no futebol. Ele mora atualmente na pequena cidade de Belo Vale, com pouco mais de 7 mil habitantes, a 87 km de Belo Horizonte. 

Em sua cidade, aos 65 anos, o campeão alviverde leva uma vida simples, alternando entre a pequena propriedade que possui na zona rural e o trabalho em uma escolinha de futebol. Carlos tem prazer em ensinar para seus alunos um pouco das técnicas que o fizeram um dos principais meias de articulação no futebol mineiro na década de 1980.

Canhoto, dono de lançamentos milimétricos e já veterano para aquela época, com 32 anos, o meia se encaixou como uma luva no esquema de jogo do técnico Cento e Nove, do Verdão. Os lançamentos precisos que municiavam o ataque, que tinha a velocidade de Zé Carlos, Vivinho e Geraldo Touro, eram o ponto forte do craque alviverde.

“Hoje moro na zona rural, crio umas galinhas, umas vaquinhas e, no futebol, sou professor em uma escolinha de futebol. Sou feliz aqui, mas sinto muitas saudades do tempo em que vesti a camisa do Uberlândia, um time forte, que sempre era muito respeitado pelos adversários. Sem dúvidas, vivi no Verdão o auge da minha carreira”, disse Carlos Roberto, que vestiu a camisa 10 no Uberlândia Esporte.

Mas a passagem do meia pelo Verdão acabou sendo curta. Depois do título histórico contra o Remo (PA), pelo Brasileiro, ele acabou se desentendendo com a diretoria e deixou o Furacão. “Depois do título, eu não me lembro muito bem quem era o novo presidente que entrou no lugar do Pietro Paladini, mas ele começou a inventar e eu pedi para sair. Pensei até em parar, fiquei três meses no Blumenau (SC) e encerrei no Boa Vista de Sete Lagoas(MG)”, conta.

 

TÍTULO

Carlos Roberto começou a carreira em 1975, no Valério de Itabira (MG). Passou ainda por clubes como Atlético Mineiro, Goiás, Guarani de Divinópolis (MG), clube pelo qual jogou por sete anos, e também no Villa Nova de Nova Lima. O fato de já conhecer o técnico Cento e Nove foi determinante para a vinda de Roberto para o Verdão em 1984.

“Já tinha jogado com ele (Cento e Nove) no Valério. Conversei com ele e aceitei o convite. Tinha muito menino bom de bola subindo da base e alguns mais experientes, uma boa mescla. Conversando com a gente, o Cento e Nove falava que dava pra ir longe, pois o time era muito bom. Pegamos firme, todo mundo abraçou a proposta e o time jogou para caramba”, disse.

“Apesar de ter jogado em clubes importantes, como o Atlético treinado pelo técnico Telê Santana, acho que o Uberlândia foi o pico da minha carreira. Vou falar uma coisa: ‘O pessoal aí de Uberlândia fez um trabalho espetacular. Sinto falta demais de Uberlândia. Nunca mais voltei depois que saí do time. Tenho muita vontade de conhecer o CT Ninho do Periquito, visitar o estádio Parque do Sabiá. Lembro-me de todos os membros da imprensa daquela época, um por um’”, afirmou.

Levando uma vida tranquila em Belo Vale, Carlos Roberto afirma que acaba sabendo pouco sobre o Uberlândia Esporte. “Na medida do possível, eu acompanho, mas é muito difícil. Às vezes, a gente sabe alguma coisa. A imprensa nacional tinha que dar mais valor ao Uberlândia, que foi campeão nacional. Raros times do interior conseguiram tal feito. O Uberlândia merece maior apoio e tem de estar entre os principais clubes do futebol brasileiro. O que eu vivi no Verdão não vou esquecer nunca. Foi um sonho maravilhoso”, disse.

 

QUEM VIU

Jornalistas relembram habilidades do meia

Com o time de 84, Carlos Roberto está agachado e é o segundo da direita para  a esquerda / Foto: Divulgação

Luis Antônio Figueira era repórter de rádio e cobria o Uberlândia em 1984 durante a Taça CBF. Ele descreve como era o meia Carlos Roberto dentro das quatro linhas. “Ele era um meia de técnica refinada, que sabia cadenciar e encorpar o meio de campo. Era um jogador tranquilo, porém exercia liderança sobre os demais. Fazia lançamentos de 40 e 50 metros com uma precisão incrível. Foi um dos melhores meias que passaram pelo UEC e pelo futebol mineiro. Se fosse hoje, jogaria em qualquer grande clube”, disse o jornalista.

O ex-presidente do UEC de 2002 a 2005, Eduardo Anchieta, fez parte do grupo no início da competição e também destacou as características do meia. “Canhoto, posicionava bem em campo, tinha ótimo de toque e colocava os companheiros na cara do gol. Atleta clássico e que sabia também esconder a bola dos adversários, era complicado tomar a bola dele”, afirmou.

O jornalista, narrador e escritor Odival Ferreira trabalhava em uma rádio de Uberlândia em 1984 e também fez questão de colocar a sua visão sobre a importância de Carlos Roberto na história do Uberlândia Esporte. “Carlos Roberto era a peça que faltava àquele time que se sustentava em seis atletas já com certa experiência (Moacyr, Luizinho, Batata, Chiquinho, Geraldo Touro e Zé Carlos) e era completado por jovens ali revelados. Era participativo nos momentos em que era preciso defender”, disse Odival, que completou. “Mostrava toda a sua técnica e criatividade quando era hora de armar as jogadas que decidiam, destacando-se aí os famosos lançamentos que levavam Geraldo Touro a aterrorizar os zagueiros e especialmente os goleiros adversários.” 

Comandante da equipe esportiva da Rádio América AM de Uberlândia, Donizete Moreira era garoto em 1984, mas se lembra de Carlos Roberto. “Ele contribuiu muito com a experiência que tinha. Me lembro muito dele aqui, era um jogador forte, técnico, organizado e, com a bola dominada, sabia o que iria fazer”, disse. 

 

NEGOCIAÇÃO

Jogador veio para o UEC em troca por lateral direito

Em 1984, na gestão do presidente Pietro Carlos Paladini, o empresário do ramo de cinemas Pedro Naves era o diretor de futebol do Uberlândia Esporte. Antes da disputa da Taça CBF, ele partiu para o arbitral, em Belo Horizonte, apenas com o intuito de comunicar para a Federação Mineira de Futebol (FMF) que o Verdão não iria participar do Brasileiro naquele ano. 

Havia uma combinação entre Uberlândia, Uberaba e Nacional de Uberaba, que nenhum dos times entraria na disputa, mas chegando à reunião as equipes uberabenses, com o intuito de dar um golpe apenas para deixar o Verdão de fora, confirmaram as suas participações, o que obrigou Pedro Naves a também confirmar o UEC na disputa. 

“Sentado na mesa da reunião eu comecei a imaginar a equipe com que iríamos disputar o Brasileiro, pois não tínhamos um time montado. Comecei a esboçar na minha cabeça e pensei em algumas peças que precisávamos com urgência para começar os trabalhos. Eu precisava de um meia experiente e veio na cabeça o Carlos Roberto, que estava no Guarani de Divinópolis”, afirmou Pedro, que falou o que fez para tirar o jogador do Guarani.

“Ofereci ao presidente do Guarani um lateral direito que tínhamos, pois ele estava precisando de um. Em troca, ele me ofereceu o Carlos Roberto. Era tudo o que eu queria”, disse Naves, que ainda voltou de Belo Horizonte com mais dois jogadores de ataque, Geraldo Touro, saindo do Villa Nova, e Zé Carlos, do América.

“O Carlos Roberto foi o cérebro do time, ele era um meia que, além de armar, também marcava. Como tínhamos dois pontas rápidos, precisávamos de um meia para fazer os lançamentos. Ele, além de um meia extraordinário, era um homem digno e que honrou tudo o que se comprometeu conosco”, completou.


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