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23/07/2017 às 10h37min - Atualizada em 23/07/2017 às 10h37min

Tenente Lúcio sinaliza que deve deixar o PSB

Deputado Federal não concorda com comando do partido, que cobra oposição ao governo Temer

WALACE TORRES | EDITOR
Tenente Lúcio disse que votará a favor das reformas em discussão no Congresso Nacional / Foto: Layla Tavares

 

Eleito em 2014 pelo PSB com 67.459 votos para o primeiro mandato de deputado federal, Tenente Lúcio pode não disputar a reeleição do próximo ano pelo mesmo partido. Com a direção do PSB tendo declarado oposição ao presidente Michel Temer, o deputado uberlandense pode seguir a maioria dos colegas de bancada e migrar para outra legenda de sustentação ao governo. Por enquanto, há duas opções colocadas à mesa: uma migração e até fusão com o DEM ou abrigar-se no PMDB do próprio Temer.

Em entrevista ao Diário do Comércio,  Tenente Lúcio sinalizou descontentamento com as orientações contrárias do comando pessebista e afirmou que votará a favor das reformas colocadas em discussão no Congresso Nacional. Também afirmou ser um deputado municipalista, tendo atuado em mais de 50 municípios mineiros, e, mesmo tendo apoiado outro candidato a prefeito em 2016, pediu aos vereadores de seu partido que não fizessem oposição ao prefeito Odelmo Leão.

 

Diário - Na última semana, o PSB ensaiou uma possível saída do governo, com possibilidade de migração e até fusão com o DEM. Também houve convite do presidente Michel Temer para que deputados do partido se filiem ao PMDB. Como estão essas negociações?

Tenente Lúcio – Essas conversas começaram há uns 15 dias, um mês, onde o Rodrigo Maia (presidente da Câmara dos Deputados) nos convidou para ir para o DEM ou até montar um partido maior que possa ter mais forças dentro do Congresso Nacional. Essas conversas estão sendo feitas pela líder do PSB, deputada Tereza Cristina, e o ministro [de Minas e Energia] Fernando Bezerra Coelho. Eu participei de algumas reuniões, há um convite mas não tem nada acertado. E é até bom deixar claro que não teve nenhum tipo de desavença entre o Rodrigo Maia e o presidente Temer para levar os deputados do PSB para um ou outro lado. A mídia nacional, não posso dizer que ela forjou, mas teve alguma coisa que não bateu. O Rodrigo Maia e o Michel Temer estão em perfeita harmonia e sintonia.

 

Mas o presidente Temer esteve na casa da líder do PSB, depois que o presidente da Câmara também se reuniu com a bancada do partido.

Sim, mas nessa reunião ele deixou bem claro que aqueles que não tiverem o acolhimento local no DEM serão muito bem-vindos no PMDB. E os dois partidos são parceiros tanto na Câmara como no Senado.

 

Essa conversação já significa um possível desembarque do governo, senão de toda a bancada, pelo menos de parte do PSB?

Com certeza isso irá acontecer. Hoje não há uma sintonia de ideias, o partido não pode obrigar você a votar do jeito que o partido quer. Dou o exemplo da reforma trabalhista e, antes dela, a votação da terceirização. Não tem como defender só o trabalhador, que depende de emprego. E se ele depende de emprego, depende dos empresários. Não adianta quebrar as empresas e continuar gerando emprego. 95% das ações trabalhistas do mundo são do Brasil, então alguma coisa está errada. Muitos empresários estavam com medo de dar emprego ou de crescer com receio de falir e pagar ações trabalhistas. Essa reforma foi um ato corajoso do governo, bem como da Câmara e do Senado. Temos que preservar o emprego, mas para isso temos que ter uma boa sintonia entre o trabalhador e empresários.

 

O senhor votou a favor da reforma trabalhista. E com relação as outras reformas que ainda estão por vir?

Voto todas a favor, sem exceção. O que estou lutando é para que tenhamos uma diminuição dos impactos em qualquer reforma. Mas o Brasil precisa passar por essas reformas para voltar a entrar nos eixos, o que já está começando, para que possamos crescer. Eu não posso compactuar com uma coisa onde eu estava lá no governo Dilma e ela ia fazer a reforma trabalhista, ia fazer a reforma da previdência, o discurso de todos os petistas clamava os deputados para votar a favor, e depois que a Dilma caiu eles vieram a fazer um discurso de sobrevivência, fingindo estar do lado do trabalhador. Temos que estar do lado do Brasil e de pessoas sérias. O empregado precisa do patrão e o patrão precisa do empregado, e o Brasil precisa de ambos.

 

A próxima reforma que deve entrar na pauta é a política. O que deve de fato ser aprovado para 2018?

É muito difícil afirmar, pois ali [no Congresso] acontecem as coisas momentaneamente. Cada dia está de um jeito. Mas o alinhamento mais forte e concreto até a entrada do recesso é o distritão e o fim das coligações. E parar as negociações dos micro e pequenos partidos que ficam na maioria das vezes se vendendo para os partidos grandes. Isso acontece para presidente da República, para governador, para prefeito em qualquer cidade do Brasil. O candidato mais poderoso, mais forte e mais rico sai comprando os partidos menores. Hoje temos quase 50 partidos e isso não pode continuar. Temos que ter poucos partidos e com seriedade.

 

Voltando a questão do PSB, o senhor diria que está mais para sair do partido ou prefere esperar uma decisão da bancada?

Já está praticamente acertado entre 10 e 12 deputados que vamos marchar juntos. Não adianta eu ficar num partido onde eu penso de um jeito e o partido obriga votar de outro jeito. A gente não se sente bem ter que votar contra a reforma trabalhista, contra a reforma da previdência, contra a reforma política. Isso vai de encontro com os meus ideais. E boa parte dos meus eleitores pensam como eu. Eu faço consultas constantemente, visito associações comerciais, prefeituras, câmaras de vereadores para conversar e trocar ideia. Mas hoje, com zap zap, tem muitas mentiras e calúnias. Dou o exemplo de deputados e senadores que falam que ganham o 14º, 15º salário. Eu já estou no sétimo mandato consecutivo, quatro de vereador, dois de deputado estadual e um como deputado federal, e nunca me lembro de ter recebido 14º, 15º salário.

 

As redes sociais para o político favoreceram para divulgar seus projetos e ações ou elas mais contribuem para difamar a imagem?

Tem as duas coisas. Ajuda pra ter uma comunicação rápida com seu eleitor, mas por outro lado você cai na difamação de pessoas que vão mentir usando o seu nome. Tem casos de deputados que entraram na Justiça porque soltaram o seu nome em listas mentirosas. Então, às vezes, mais atrapalha do que ajuda.

 

O governo está sinalizando que deve aumentar impostos. Qual a sua avaliação sobre isso?

O mês passado foi o que mais gerou empregos com carteira assinada. E se aprovar todas as reformas, acho difícil falar em aumentar impostos. O próprio ministro da Fazenda disse isso. Vamos torcer para que não tenhamos aumento de impostos e que as reformas sejam aprovadas.

 

Como deputado federal, o senhor tem percorrido muitos municípios, principalmente os espaços deixados pelos ex-deputados Gilmar Machado e Odelmo Leão? E ainda, o senhor acredita que Uberlândia tem espaço para aumentar a representatividade já que hoje só temos dois deputados federais?

Como deputado estadual você tem poucos recursos e, portanto, precisa trabalhar em poucos municípios, senão não dá nada pra ninguém. Então eu trabalhava no máximo umas 15 cidades no entorno de Uberlândia. E agora, como federal, estou trabalhando mais de 50, primeiro porque você tem mais recursos, e disposição para trabalhar sempre tive. Os prefeitos, vereadores, nos procuram muito, eu sou um deputado municipalista. Eu atendo muito no meu gabinete em Brasília e também viajo muito em toda região. Desde o Pontal do Triângulo, lá em Carneirinho, até a Chapada Gaúcha na divisa da Bahia, eu estou trabalhando. Em João Pinheiro, Pirapora, Buritizeiros, e vem descendo pelo Alto Paranaíba, como Santa Rosa da Serra, Campos Altos, Rio Paranaíba, São Gotardo, Guimarânia, indo para o lado de Uberaba tem Planura, Frutal, Conceição das Alagoas, Prata, Monte Alegre, são mais de 50 cidades. Em todas elas eu levo recursos nas áreas da saúde, transporte, educação, esporte, mas principalmente na área da saúde que hoje é o maior problema que temos. Ajudando as pequenas cidades você evita também que chegue para as grandes cidades todas as demandas. Em Araguari, por exemplo, nós mandamos R$ 500 mil que foram empenhados para cirurgias cardíacas, ou seja, se opera lá, não precisa vir pra cá. Para Monte Alegre foram outros R$ 400 mil para cirurgia de catarata; para asfalto, R$ 1 milhão para Tupaciguara; R$ 1 milhão também para Planura e para Capinópolis; para Uberlândia vem agora R$ 2,5 milhões.

 

A nossa região tem condições de aumentar a representatividade com os quadros que temos hoje e ainda com as renovações que estão acontecendo na política?

Para deputado federal, o que eu acredito que vai entrar para somar e vai ganhar de novo é o Gilmar [Machado], outro não consigo visualizar porque não tem voto fora. O Gilmar vai ter os votos que o PT sempre teve na normalidade e mais a região, porque hoje ele está sozinho, em todas as cidades da região é o Gilmar que tem as comissões provisórias do PT. Antes era o Weliton, só que ele saiu do PT e ficou o caminho livre para o Gilmar. A lógica de acontecer é continuar eu e o Weliton e entrar o Gilmar.

 

Como o senhor avalia o primeiro ano do prefeito Odelmo Leão, tendo em vista que o senhor já foi um aliado dele e na última eleição lançou um outro candidato a prefeito?

Nós lançamos o Alexandre Andrade, eu o apoiei, e para mim as eleições já passaram.

 

Mas o senhor já esteve com o prefeito, em seu gabinete?

Já tive uma vez no gabinete acompanhando o ministro da Saúde. Estivemos por outras duas vezes com o prefeito, uma na vinda do deputado Rodrigo Maia para uma reunião com empresários, e tive com ele também no quartel do Exército.

 

Mas então foram encontros ocasionais, não houve ainda uma agenda oficial.

Não, mas como disse, as eleições passaram. A única coisa que falei para os quatro vereadores do meu partido é que não fizessem oposição, porque hoje não é inteligente ser oposição quando você sabe que a pessoa está no caminho certo. O Odelmo entrou com uma maioria esmagadora de votos, com uma esperança muito grande da população de Uberlândia e a gente tem que respeitar. Então não seria inteligente da nossa parte e nem prudente deixar o Odelmo puxar para um lado e nós puxarmos para outro. Falei com os nossos vereadores para não serem oposição e que ajudem o prefeito nesse momento de dificuldade, e isso eu não falo só aqui em Uberlândia mas em todas as cidades onde participo. Não tem nenhum prefeito que queira o mal para a sua cidade. Logicamente se tiver projetos que estejam bastante destoantes com a população, que você converse e ajude.

 

Se o senhor sair do PSB, os quatro vereadores também deixam o partido?

Nós nem falamos sobre isso, porque não há nada certo ainda, isso está caminhando para que possa acontecer. Mas na política, se você pensar uma coisa e começar a falar, pode mudar tudo. Eu não conversei nem com o presidente do partido, o Carlos Siqueira, que eu prezo muito. Vou sentar com ele e também com o Márcio Lacerda que é o nosso pré-candidato ao governo do Estado e que também está em rota de colisão com um deputado do partido. O Márcio pensa como eu, tanto é que em todas as votações eu peço orientação a ele.

 

O Márcio Lacerda é bem conhecido na região Metropolitana de BH, mas pouco conhecido no interior. É um capital político suficiente para lançar candidatura ao governo do Estado?

Por isso ele precisa de todos nós, ele foi considerado um dos melhores prefeitos da América Latina quando esteve à frente da Prefeitura de Belo Horizonte. Recebeu prêmios, foi condecorado em vários setores, então está apto. Se acompanhar ele pelas redes sociais, no Instagram, vai perceber que cada dia ele está numa cidade. E no dia 10 de agosto ele estará em Tupaciguara.

 

Para 2018, o senhor fará dobradinha com Alexandre Andrade aqui em Uberlândia, ele para estadual e o senhor para federal?

Tanto eu quanto ele estamos conversando. Ele também tem várias propostas de outros candidatos a deputado federal que querem dobrar com ele, da mesma forma que tem vários deputados estaduais que dobram comigo. Logicamente que em Uberlândia será nossa dobradinha principal. Em algumas cidades eu vou dobrar com ele, em outras com o Leonídio, em outras com o Lerin, com o Luiz Humberto, mas lógico que em Uberlândia o nosso candidato principal é o Alexandre.

Na edição do próximo domingo a entrevista será com o deputado federal Weliton Prado.


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