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16/07/2017 às 04h39min - Atualizada em 16/07/2017 às 04h39min

O que parece lixo pode ser reciclado e voltar para a indústria

Produtos eletrônicos usados não se decompõem naturalmente, contaminam o solo e lençóis freáticos

LETÍCIA PETRUCCELLI | APRIMORAMENTO PROFISSIONAL
Lixo eletrônico é totalmente reaproveitável pode ser destinado às indústrias específicas / Foto: Divulgação

 

Na era da tecnologia, surgem novos eletrônicos todos os dias. Celulares, monitores, televisores acabam se tornando facilmente ultrapassados. Quando não é possível vender, quase sempre o destino desses e de outros objetos é o lixo. É comum se deparar com pilhas, baterias, carregadores, lâmpadas queimadas no meio do entulho. Mas o lixo eletrônico, que é todo o resíduo material produzido pelo descarte de equipamentos eletrônicos, não deve ser jogado na natureza. Estes produtos possuem substâncias químicas como chumbo, cádmio, mercúrio, berílio, níquel, nas composições e podem provocar contaminação na água do subsolo, no próprio solo e na atmosfera, caso sejam queimados.

O biólogo e engenheiro ambiental Daniel Fernandes Loureiro explica que materiais eletrônicos não se decompõem naturalmente, prejudicando ainda mais o meio ambiente. “Os eletrônicos são feitos com metais pesados, que só prejudicam a natureza. Além do meio ambiente, esses minerais também podem causar danos para a nossa saúde”, conta Loureiro. “Esses componentes se tornam ainda mais perigosos quando misturados a substâncias do lixo comum, podendo causar várias doenças”, relata.

Leonardo Brune, proprietário de uma empresa que realiza o serviço de coleta de lixos eletrônicos gratuitamente, diz que recolhe por mês duas toneladas desses produtos, mas que Uberlândia produz bem mais que isso. “Uma cidade do porte de Uberlândia produz diariamente mais lixos do que recebemos. Queremos começar a coletar mais”, relata Leonardo.

 

DESTINAÇÃO

O lixo eletrônico é praticamente 100% reaproveitado e volta ao mercado. Cada material é separado e destinado à indústria de reaproveitamento. “Cada tipo de material vai para uma indústria específica. Placas de metal são exportadas; o plástico vai para indústria automobilística; o cobre é retirado e reutilizado. Tudo é reaproveitado e reinserido no mercado”, conta Leonardo Brune.

Ainda segundo ele, falta consciência da população no momento do descarte de eletrônicos velhos. “O nosso desafio é que a população se conscientize. Quanto mais pessoas se conscientizarem, menor será o descarte irregular deste lixo”, enfatiza.

Tereza Maria dos Santos, dona de casa, conta que joga os restos eletrônicos no lixo por não saber em qual local levar as pilhas e lâmpadas queimadas. “Eu sempre joguei no lixo comum mesmo, nem sei em qual local devo levar isso”, relata a dona de casa.

No próprio comércio há opções para fazer o descarte correto destes objetos. Os produtos menores como pilhas, baterias, carregadores, podem ser entregues em lojas de eletrônicos, que fazem o recolhimento desses materiais. Já os grandes, como televisão, geladeira, monitores, podem ser entregues em empresas que fazem a destinação correta, e ainda vão buscar na casa da pessoa. Na esfera pública tem os Ecopontos espalhados por vários bairros de Uberlândia e o serviço de Cata-treco da prefeitura, que faz o descarte adequado para esses produtos. Além do caminhão de coleta seletiva, que passa em 28 bairros da cidade e recolhe também eletrônicos velhos.

 

REMÉDIOS

Medicamentos vencidos são nocivos à saúde

Quem tem uma “mini farmácia” em casa com analgésicos, antiácidos e comprimidos, ou passou por algum tratamento é provável que tenha no estoque medicamentos vencidos. Esses produtos também não devem ser jogados no lixo comum, nem no esgoto. Eles são perigosos para quem tem crianças, bem como para os adultos que podem ingerir sem olhar a data, podendo gerar intoxicação e em casos severos até levar a morte.

O remédio contém substâncias químicas que mesmo dentro do prazo de validade podem ser nocivas à saúde e à natureza. De acordo com a diretora do Conselho Regional de Saúde (CRS), Gizele Leal, os medicamentos mais perigosos são os controlados. “Na realidade todo remédio prejudica o meio ambiente. Por exemplo, o anticoncepcional contém hormônio, se a pessoa joga no esgoto, esses hormônios acabam indo para o rio, os peixes ficam com hormônios femininos, pois a água não é tratada corretamente. E esse peixe vai parar na mesa do consumidor depois”, relata Gizele.

Se jogado no lixo comum, os remédios vão parar nos aterros sanitários e as substâncias podem chegar até os lençóis freáticos. Há ainda o risco de outras pessoas manipularem o medicamento vencido. “A substância do medicamento entra no solo, podendo gerar para a população que entrar em contato com esta química, doenças graves como câncer”, diz o biólogo e engenheiro ambiental Daniel Loureiro.

A forma correta de realizar o descarte é por meio de incineração, o que precisa ser feito em local adequado. Segundo a diretora do CRS, toda farmácia é obrigada a fazer o descarte correto das próprias substâncias que sobram, seja de manipulação ou que estão vencidos, no entanto, não são obrigadas a incinerar os remédios dos consumidores. “Nós temos um projeto que incentiva as farmácias e drogarias a destinarem os medicamentos dos consumidores. Aconselho as pessoas procurarem a farmácia mais próxima e verificar se eles fazem esse recolhimento”, diz Gizele Leal.

Pela falta de conhecimento, muitas pessoas acabam realizando o descarte irregular dos produtos. A contadora Sophia Silva conta que sempre jogou na privada, por achar menos nocivo do que jogar no lixo. “Sei que é perigoso jogar no lixo, porque outras pessoas podem entrar em contato com o remédio, mas nunca me toquei do mal que faz jogar no esgoto. A gente pensa que a água é bem tratada. Nunca me toquei que as substâncias vão parar na água”, reconhece.

Os medicamentos vencidos adquiridos nas Unidades de Atendimento Integrado (UAIs) ou postos de saúdes podem ser devolvidos no mesmo local. Algumas farmácias e drogarias fazem o descarte de medicamentos da população. Portanto, o recomendável é procurar a mais próxima e verificar se eles fazem esse descarte.

 

GORDURA

Óleo de cozinha impede a oxigenação da água para peixes e plantas

Aquele resto de óleo que sobrou da fritura feita no dia anterior, que não é possível reutilizar, também não deve ser jogado na pia. Ângela Magalhães, responsável pelo programa de reciclagem de óleo de cozinha do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae), diz que cada litro de óleo jogado no esgoto pode poluir o equivalente a um milhão de litros de água. “Além de poluir a água, que depois o consumidor irá beber, o óleo jogado no esgoto também pode entupir a caixa de gordura da pessoa, ou a rede de esgoto. Isso gera ônus tanto para a própria pessoa, que terá que contratar um encanador, quanto para o Dmae”, alerta.

Segundo o biólogo e engenheiro ambiental Daniel Loureiro, o tratamento de esgoto não consegue tratar a gordura. “O excesso de gordura acaba dificultando o tratamento. O óleo cria uma película que impede a oxigenação da água, podendo matar peixes e plantas necessários para a vida do rio”, conta o engenheiro ambiental.

O óleo velho pode ser entregue em alguns pontos de recolhimento na cidade. Esses locais enviam para empresas que fazem o aproveitamento na produção de sabão e de biodiesel. “A pessoa só precisa colocar o óleo em garrafas pets e fechar bem. Além de não poluir o meio ambiente, também está gerando renda para associações e cooperativas que refinam este óleo de cozinha”, conta Ângela Magalhães, responsável pela reciclagem de óleo de cozinha do Dmae.

A Estação de Tratamento de Água do bairro Bom Jardim e a sede administrativa do Dmae (na rua Martinésia, 245) fazem o recolhimento de óleo de cozinha. Também é possível fazer o descarte no Centro Administrativo Municipal, no Parque Santa Luzia, na Icasu e pelos caminhões da coleta seletiva.


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