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09/07/2017 às 05h45min - Atualizada em 09/07/2017 às 05h45min

Número de idosos atuantes no mercado formal cresce no país

Participação de pessoas com mais de 65 anos aumentou 58% em 5 anos

WALACE TORRES | EDITOR
O porteiro Selmo Nunes trabalha desde os 11 anos de idade e hoje, com 60 anos, diz que não pensa em parar de trabalhar tão cedo / Foto: Walace Torres

 

Selmo Nunes da Costa pegou literalmente na enxada bem cedo. Aos 11 anos de idade já ajudava a família na roça, em Tupaciguara. Ao completar 18 anos, veio para Uberlândia se alistar no Serviço Militar e fincou raízes. Desde então, não parou mais. Foi cobrador de ônibus, fiscal de loja em supermercado, promotor de vendas em uma multinacional e representante comercial em empresas de grande expressão no mercado. Hoje, aos 60 anos, exerce a profissão de porteiro em um condomínio da região central, onde trabalha no regime de 12 por 36 horas. Aos fins de semana, ainda trabalha como voluntário nas obras de uma igreja no bairro onde mora. Pelas suas contas, ainda faltam três anos para ter direito à aposentadoria. É que uma das empresas onde trabalhou recolheu a contribuição mas não repassou para a Previdência, e ele acabou perdendo esse período. Mas, vai perguntar para ele se quer cruzar os braços! “Se eu mantiver essa saúde de hoje, quero continuar trabalhando”, diz o porteiro, que afirma nunca ter precisado se deitar em uma cama de hospital.

Selmo faz parte de uma parcela da sociedade produtiva que só cresce. Segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), divulgados pelo Ministério do Trabalho, o número de pessoas entre 50 e 64 anos no mercado formal de trabalho cresceu cerca de 30% entre 2010 e 2015. Em 2010 havia 5,8 milhões trabalhadores com carteira assinada nessa faixa etária, e o número passou para 7,6 milhões em 2015.

A participação de trabalhadores com mais de 65 anos também registrou aumento no mesmo período, passou de 361,3 mil em 2010 para 574,1 mil em 2015, um aumento de 58,8%. O setor de serviços é o que tem mais receptividade aos trabalhadores mais velhos. Quase 2,6 milhões de trabalhadores entre 50 a 64 anos estavam empregados com carteira de trabalho nesse segmento em 2015. Outros 200,4 mil tinham mais de 65 anos. No mesmo ano, a administração pública empregava 2,5 milhões de pessoas entre 50 e 64 anos, seguido da indústria de transformação, com 923 mil empregados nessa faixa etária, e do comércio, com 864 mil trabalhadores.

A crise econômica também afetou em cheio essa faixa etária, mas não impediu que o mercado continuasse absorvendo a mão de obra mais experiente.

De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mais de 2 milhões de pessoas de 50 a 64 anos e 99,2 mil com mais de 65 anos perderam o emprego nos últimos 12 meses. No mesmo período, houve 931,4 mil contratações de pessoas nas duas faixas etárias.

Os dados do Ministério do Trabalho não trazem as estatísticas por município, mas os dados sobre as intermediações de trabalhadores feitas através do Sine em Uberlândia reforçam o aumento das vagas formais entre pessoas acima dos 50 anos. No primeiro semestre de 2016, 52 pessoas com idade entre 50 a 64 anos foram colocadas no mercado de trabalho formal, a partir do Sine, enquanto que no mesmo período deste ano esse número subiu para 197 contratações. Em relação ao público com 65 anos ou mais, as contratações saltaram de uma no mesmo período em 2016 para oito em 2017. 

 

POPULAÇÃO IDOSA

A queda da taxa de fecundidade e o aumento da expectativa de vida têm contribuído para o envelhecimento da população mundial. De acordo com dados do IBGE, esse fenômeno também é verificado no Brasil. No período entre 2005 e 2015, o contingente de pessoas com 60 anos ou mais de idade passou de 9,8% para 14,3% da população brasileira. Prognóstico da Agência Nacional de Saúde (ANS) aponta que no ano de 2030 pelo menos 20% da população esteja acima dos 60 anos de idade.

O Ministério do Trabalho já estuda a criação de uma nova divisão para cuidar de questões de discriminação, entre elas contra idosos no mercado de trabalho. A expectativa é dar uma atenção maior ao combate ao preconceito no ambiente de trabalho.

 

EMPRESA

Comprometimento é um ponto forte, diz coordenadora de TH

Se há mais gente idosa no mercado de trabalho é porque também há uma abertura das empresas para receber esse público em seu quadro de funcionários. Juliana Ribeiro Afonseca é coordenadora de Talentos Humanos numa multinacional brasileira que oferece soluções de Gestão de Tecnologia e de Clientes e que tem 12 mil funcionários. Acima de 50 anos de idade são 407 contratados, o que representa 3% do contingente. “Considerando que 80% das vagas são de call center, é um número até alto com essa idade”, aponta Juliana, destacando que a empresa não tem um programa específico de contratação na terceira idade, mas também não há restrição quanto a faixa etária, desde que a pessoa tenha acima de 18 anos. “Hoje temos um aprendiz com 59 anos na área de TI”, diz.

A coordenadora de Talentos Humanos conta que em um ambiente em que as faixas etárias menores são predominantes, como é o caso de um call center, os associados acima de 50 anos não deixam nada a desejar, ao contrário, eles até servem de estímulo em uma área que tem grande rotatividade. “A minha percepção é que existe um comprometimento muito maior desse público. Eles trazem uma experiência de vida, já possuem filhos, são mais concentrados, têm uma necessidade financeira, e compartilhar essa vivência com os mais jovens é muito importante”, diz Juliana Ribeiro.

Maristela Oliveira Cruz de Souza, 54 anos, faz parte dessa turma. Em seu local de trabalho, a maioria tem idade bem inferior, o que segundo ela, não faz nenhuma diferença no relacionamento ou na rotina diária. Com nove anos e meio de empresa, a atendente no call center teve seu desempenho no trabalho premiado. Ela fez parte de um seleto grupo de associados que se destacou pelo cumprimento de algumas metas e critérios como produtividade e assiduidade ao longo do último ano. Como resultado, se credenciou para participar de um sorteio, do qual saiu com um carro 0km. “Depois de nove anos e meio conseguir um prêmio desses foi uma surpresa. Não estava esperando por isso”, admite Maristela, que sempre procurou cumprir as metas que foram estabelecidas. 


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