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04/06/2017 às 05h20min - Atualizada em 04/06/2017 às 05h20min

Uberlândia tem museu dedicado ao algodão

Especialista veio à cidade para montar a exposição definitiva que receberá visitas a partir de julho

ADREANA OLIVEIRA | EDITORA
O professor Jorge José de Lima veio a Uberlândia para a montagem do Museu do Algodão da Amipa / Foto: Adreana Oliveira

 

Inaugurada recentemente em Uberlândia, a sede da Associação Mineira dos Produtores de Algodão (Amipa) é um prédio bonito e imponente que passou a fazer parte da paisagem de Uberlândia para quem passa pela avenida que dá acesso ao aeroporto da cidade. A estrutura de 2.500 metros quadrados recebeu um investimento de R$ 9 milhões e abriga, entre outros espaços, o Museu do Algodão, que será aberto ao público em geral no próximo mês.

A reportagem do Diário do Comércio foi ao local durante a montagem da exposição permanente do Museu, que ficou sob a responsabilidade de um dos maiores especialistas em algodão do país, o professor Jorge José de Lima, com quem qualquer conversa informal vira uma aula.

Ele se propôs a fazer um trabalho demorado, porém compensador, para realizar um sonho: ver das sementes jogadas no jardim de uma escola a produção de produtos como blusa e toalhinha de mão. "Brinco que era para ser do sonho à passarela. Plantei o algodão de forma selvagem com os alunos. Levei dez anos para fazer isso e todo esse material ficará na exposição permanente do museu. Tem algodões cultivados, fiados, tecidos e confeccionados no Senai Cetiqt; descaroçados no Instituto Matogrossense do Algodão e analisados no Senai Cetiqt do Rio, ou na Unicotton", explica.

A exposição "Algodão de casa faz milagre" é esse sonho concretizado no espaço do Senai Cetiqt do Rio de Janeiro, que tem uma área de 50 mil metros quadrados e um jardim feito pelo arquiteto, paisagista e artista plástico brasileiro Burle Marx (1909-1994). "Falei com a direção e nos espaços de grama fiz o jardim de forma selvagem, não de forma agrícola. Joguei as sementes desse algodão arbóreo e plantei de uma forma que chamei de 'asselvajada'", conta.

Ali, eles e os alunos acompanharam todo o ciclo do algodão, que na agricultura tem ciclos aproximados de 180 dias - no método artesanal foi de um ano. Os alunos puderam acompanhar o surgimento do botão floral, a flor antes da fecundação, a flor após a fecundação, botões florais, a maçã (o fruto), o interior da maçã no início da formação e a maçã madura.

Por aí, os interessados descobrem que a fibra, quando eclode, morre. "Ela se desidrata e se for madura, tiver palha de celulose, ela torce. Quanto mais camadas de celulose tiver ali, mais resistente é a fibra. A maturidade é a principal característica física da fibra. Se ela não for madura, não adianta ter comprimento se não tem resistência. A gente procura uma fibra madura, longa, de pelo menos uma polegada, e resistente para dar mais poder de fiabilidade para as indústrias", explica ele, que também é escultor autodidata e claro, tem obras permeadas pela história do algodão.

 

ALÉM DA INDÚSTRIA TEXTIL

Jorge José de Lima chama o algodão de ouro branco, devido à sua aplicabilidade. Nas variações branco, bege, verde e marrom são usados na indústria têxtil, mas nada dele se desperdiça. "Muita gente não sabe, mas o algodão está presente no papel moeda, em materiais de higiene pessoal por meio do seu óleo bruto usado na indústria da beleza e da limpeza, e até na medicina, com um tecido que conduz eletricidade", explica.

Os arbustos plantados por Lima têm vida útil de até 15 anos. "O algodão é um arbusto, foi o homem quem o achatou para reduzir seu ciclo. Acelerou, mexeu na arquitetura da planta e tem que jogar regulador de crescimento para fazer a colheita mecânica", conta, completando que o algodão é hermafrodita, se fechar a flor, ela se autofecunda.

 

ESPAÇO

Mostra deixa clara a grande variedade de aplicações para o algodão

Jorge José de Lima é carioca, pós-graduado em Gestão Pela Qualidade e graduado em Matemática. Se formou como técnico têxtil há 44 anos. Chegou a cursar Arquitetura, mas parou para chefiar uma fiação em Minas Gerais entre 1979 e 1982. Orgulha-se de dizer que conhece todos os processos das fábricas, mas sua paixão está no algodão e no ensinar. Já formou 12 turmas de classificação de algodão.

"Acho importante deixar essa história registrada no Museu do Algodão.Quando comecei havia teares de 90 cm que rodavam a 100 batidas por minuto, hoje eles têm no mínimo 2 metros de largura com 800 batidas por minuto. Por isso, precisamos de fios resistentes, e nesta exposição a pessoa descobre como chegar a eles", afirma o professor.

E ele é paciente. O projeto realizado com o Senai Cetiqt do Rio foi feito de 2004 a 2012 e Jorge viu seu sonho realizado, da semente do algodão jogada na terra à confecção de peças feitas do seu fruto. "Saímos do jardim para a passarela. Foi turma entrando e saindo e eu continuava lá. Em casa, plantei com meu neto e mostrei tudo para ele porque ensinar e aprender é uma via de mão dupla; é ensinando que se aprende", diz ele, que ainda leciona.

Lício Pena de Sairre, supervisor da Amipa, explica que o Museu do Algodão foi concebido pela instituição para ser um local de preservação da história do algodão em Minas Gerais e no Brasil. "Também demonstra a grande aplicabilidade tecnológica da fibra, presente não somente em roupas, mas em inúmeros produtos, como linha automotiva, farmacêutica, náutica, construção civil, óleos, alimentação animal, cosméticos, etc", afirma.

A partir de julho será adotado o procedimento de contagem e estatísticas de visitantes. O museu recebeu seu primeiro acervo no final de março, portanto ainda não abriu oficialmente ao público. "Os maiores interessados em visitar o museu são comitivas de estudantes primários e secundaristas das escolas públicas e privadas, além de estudantes de faculdade superior de cursos como: Engenharia Têxtil, História, Arquitetura, Agronegócios e Agronomia. Cursos técnicos também demonstraram interesse em levar comitivas com técnicos em agricultura e técnicos têxteis", comenta.

 

SERVIÇO

Museu do Algodão

Endereço: Rua Francisco Cândido Xavier, 50, Alto Umuarama, na sede da Amipa.

Visitação: a partir de julho, de segunda a sexta-feira, das 8h às 11h e das 14h às 17h, aos sábados das 8h às 11h.

O agendamento pode ser feito pelos telefones: 2589-8902 ou 2589-8903.

 

CURIOSIDADES*

01 fardo de algodão pode produzir

- 21.960 lençóis

- 1.217 camisetas

- 765 camisas

- 2.104 cuecas

- 215 calças jeans

- 4.321 meias

- 217 kg é o peso aproximado de 1 fardo de algodão

*Fonte: Museu do Algodão da Amipa


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