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20/03/2017 às 08h33min - Atualizada em 20/03/2017 às 08h33min

Jovens estão se tornando empreendedores

Pesquisas apontam que realização de sonho, qualidade de vida e altos ganhos financeiros são motivos para empreender

MARGARETH CASTRO – EDITORA
Da Redação
Felipe Ferraz abriu o próprio negócio há quase três anos para realizar um sonho

Há mais de dois anos, o empresário Felipe Ferraz, 27 anos, conseguiu realizar o sonho de muitos jovens brasileiros de ter o seu próprio negócio. Ele pode ser enquadrado na pesquisa divulgada recentemente pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), que apontou que dois em cada três jovens brasileiros pretendem se tornar empreendedores. Além disso, 82% dos 5.681 entrevistados já passaram por um primeiro emprego formal antes de empreender e estão montando o seu primeiro negócio, o que constata que o empreendedorismo não é uma opção para desempregados, mas uma escolha.

Felipe se formou em Marketing de Negócios e tinha um emprego estável como servidor público, onde ganhava quase R$ 3 mil mensais e largou tudo para se dedicar ao seu projeto de ter uma loja de açaí.  “O meu primeiro negócio foi aos 18 anos, um estacionamento com lava jato no Centro da cidade, mas, o contrato do ponto venceu e eu acabei indo trabalhar na prefeitura. Porém, o sonho era investir em um açaí”, contou.

Felipe então comprou um ponto no bairro Saraiva, reformou a estrutura, decorou no estilo tropical e desenvolveu a receita do produto que vende hoje. “Só para chegar na receita do açaí que eu queria foi quase um ano”, revelou. Há pouco tempo chamou o pai para investir em umas máquinas para produção do produto e com isso conseguiu desenvolver o negócio, que hoje já conta com outras duas lojas na cidade em um sistema semelhante à franquia.

A pesquisa da Confederação Nacional dos Jovens Empreendedores (Conaje), divulgada em 2016 e realizada em 26 estados e no Distrito Federal, com cinco mil entrevistados, mostrou que as empresas dos empreendedores jovens estão se tornando estáveis e duradouras, comprovado com o aumento do faturamento. Os jovens entrevistados pela Confederação acreditam que o que determina o sucesso de uma empresa é oferecer um produto/serviço diferenciado (48%), enquanto ter uma equipe capacitada (24%) ocupa a segunda posição.

Para Felipe Ferraz o crescimento só foi possível graças a qualidade do produto que vende e ao bom atendimento, fatores que contribuem para que, mesmo com a crise em que o País atravessa, o negócio não sofresse perdas no faturamento.

 O jovem empresário diz que a principal mudança em ser dono do próprio negócio é ter a liberdade nas ações, mas aconselha àqueles que querem empreender que façam com foco e dedicação. “É preciso acreditar no seu sonho, mas buscar se preparar, porque nada é fácil.”

 

MICROEMPREENDEDORES

Milena Pinheiro diz que o principal desafio é encontrar mão de obra qualificada

Em Uberlândia, até 4 de fevereiro deste ano haviam 28.545 Microempreendedores Individuais (MEIs), sendo que deste total, 6.503, ou seja, 22,78% pertencem a pessoas entre 16 e 30 anos, segundo dados do Sebrae-Minas Gerais.

É o caso de Milena Pinheiro, natural do Espírito Santo, ela chegou em Uberlândia em abril de 2016, junto com o marido, que foi transferido pela empresa. Depois de observar o custo de vida da cidade e os salários pagos, que segundo ela são baixos, decidiu usar o dinheiro que tinha guardado e  investir em um negócio próprio. Formada em Administração de Empresas e com 25 anos, ela abriu, em novembro, uma esmalteria no Centro da cidade, onde oferece serviços de manicure, pedicure e outros ligados à estética. Para atuar na área, ela procurou se especializar e fez vários cursos na área de estética, como depilação, alongamento de cílios e design de sobrancelhas.

A  empresária conta que apesar de ser formada em Administração, a prática é bem mais complicada que a teoria, mas que a formação ajudou no processo de abertura do negócio, especialmente na elaboração do plano de negócios, e também na desenvolvimento do projeto. Milena conta que ser dona do próprio negócio exige mais da pessoa do que trabalhar como funcionário, pois é preciso estar presente o tempo todo, se doar e trabalhar muito. Para ela, a maior dificuldade em gerir um negócio é encontrar profissional qualificado no mercado.

 

PESQUISAS

Realização de sonho e qualidade de vida estão entre as principais motivações

A pesquisa da Firjan aponta que as principais motivações para empreender são realização de um sonho (76,4%), qualidade de vida (75,6%), altos ganhos financeiros (70%), mercado promissor (66,1%) e não ter chefe (64,5%). Para o estudo, foram realizadas 5.681 entrevistas com homens e mulheres na faixa etária dos 25 aos 35 anos, das classes AB e C, com ensino superior completo ou em andamento. Metade dos consultados já era empreendedor.

A pesquisa da Conaje, publicada a cada dois anos, aponta que 77%  dos entrevistados deseja abrir um novo negócio e 80% não se prepara para empreender. E ainda que a maioria possui bom nível de escolaridade, demonstrado pelos indicadores de ensino superior e pós-graduação (42% e 39%, respectivamente).

Também foi constatado pelas pesquisas que a maioria das empresas abertas por jovens são do ramo de serviços, que necessitam de menor capital de investimento.  Outro dado é que 25% dos jovens empresários investiram em uma empresa por identificação de oportunidade de negócio, 86% relataram que não se prepararam para empreender e 23% não buscaram nenhum apoio para abertura ou crescimento da empresa. Na questão de geração de empregos, 70% possuem até nove funcionários.

O presidente da Aciub Jovem, Frederico Prudente de Queiroz, diz que a geração Y não está muito ligada a padrões e que o ambiente dá mais espaço para empreender. “Esta é uma geração que tem muita vontade de criar algo novo, pensa e age diferente”, explicou. Por outro lado, ele alerta para a necessidade de mudar modelos existentes, como linhas de crédito para abertura de negócios e melhorar o planejamento.

A pesquisa da Firjan ouviu jovens de nove cidades do mundo, incluindo Rio de Janeiro e São Paulo. Os brasileiros são os que mais citam o cenário econômico e político como um limitador da atividade (67,3%). A pesquisa da Conaje, divulgada em 2016, um ano de incertezas nos meios político e econômico, trouxe importantes resultados em relação à percepção do jovem empreendedor para o Brasil e de como empreender no País. A maioria dos participantes revelou que estava pessimista sobre o cenário político-econômico brasileiro (54%) e citou a elevada carga tributária (58%), burocracia (23%) e legislação (8%) como principais desafios externos à atividade.

 

ACIUB JOVEM

Projeto de mentoria capacita jovens empreendedores

 Aciub Jovem realiza reuniões mensais na sede da Associação

A Aciub Jovem é um projeto da Associação Comercial e Industrial de Uberlândia (Aciub) e funciona há três anos e meio baseada em pilares como network, capacitação e negócios. Desde 2016 desenvolve o projeto de mentoria, com apoio de três empresários, com o objetivo de capacitar jovens empreendedores. Além disso, realizam o evento “Happy Business”, com presença de palestrantes e reuniões toda primeira terça-feira do mês na sede da Associação.

O presidente da Aciub Jovem, Frederico Prudente de Queiroz, conta que no projeto de mentoria, os jovens participam de encontros com empresários mentores e aplicam as experiências adquiridas em seus negócios. “A Aciub Jovem tem como objetivo criar um ambiente que facilite as pessoas a enxergarem oportunidades”, explicou.

 

LIGA EMPREENDEDORA

Instituição uberlandense tem missão educacional

 

Paulo Rogério Lázari é diretor de recursos humanos da Liga Empreendedora

A Liga Empreendedora de Uberlândia foi fundada há três anos, com a missão educacional, por jovens empresários que hoje atuam em São Paulo. A instituição, que funcionou por um período nas dependências da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), não tem vínculo com nenhuma instituição e é totalmente independente. Segundo o diretor de recursos humanos, Paulo Rogério Lázari, o papel da Liga Empreendedora é selecionar jovens de alto perfil empreendedor, por meio de um cadastro on-line e depois por um processo imersivo alinhado com o que há de mais moderno em processo seletivo, para que eles se conectem om referências empreendedoras do mercado uberlandense e, agora, até nacional, como Lindalia Junqueira, que é a atual presidente global da Lumiar; João Kepler Braga, da Bossa Nova Investimentos e ainda Robson Chiba, da China in Box. “A ideia é que estas mentorias acelerem o processo de aprendizado sobre negócios, visão de mundo e marketing, tudo que um grande empreendedor precisa para se formar”, explicou.

Lázari diz que ficar perto de pessoas que estão dispostas a ensinar faz com que os empreendedores errem menos. Ele esclareceu ainda que a seleção dos futuros empreendedores é feita baseada em valores como irmandade, honestidade, lealdade e sigilo. O processo seletivo é realizado semestralmente e último aconteceu há menos de 50 dias. Lázari adianta que o 8º processo seletivo deve acontecer ainda neste semestre. “Entre 100 e 130 jovens já passaram pelo processo seletivo e neste tempo temos grandes cases de empresas que deram certo, como a Vitta Saúde e a VR Brasil”, contou.

A Liga Empreendedora de Uberlândia está dando tão certo, que Lázari conta que já replicou o modelo em São José dos Campos, onde criou recentemente a Liga do Vale, na região do Vale do Paraíba. O diretor de RH da Liga diz que os jovens estão incentivados pela nova era da mídia em empreender, porque hoje eles têm referências como Flávio Augusto, do site meusucesso.com, Jorge Paulo Lemes e Marcelo Teles. “Antes, a referência das gerações passadas eram fazer faculdade, trabalhar para alguém ou em alguma grande corporação e ter uma vida estável. Era uma geração com menos adaptabilidade à mudanças”, disse Lázari, que completou afirmando que o que falta para essa geração de agora é uma base mais próximo, que possa alertá-los das dificuldades e desafios de se empreender.

“O jovem está vivendo a busca da era emocional, na qual a estabilidade, tão sonhada em outras gerações já não é mais tão importante, e sim, o prazer de fazer o que gosta e conviver com quem se quer. É preciso cuidado no querer fazer as próprias regras, pois não se pode esquecer que já existe um ecossistema estabelecido com leis e regras e empreender na prática é mais mão na massa e não só motivação”,  esclareceu Lázari. Ele aconselha ainda que os jovens precisam juntar o que têm de diferente, que é a motivação e energia acima da média com o que as outras tinham, que é embasamento. “Só motivação e vontade não são suficientes. É preciso buscar a base para alimentar tudo isso, que é conhecimento, treinamento, teste e validação”, concluiu.

 

ARTE 1

Porque empreender:

  1. Realizar um sonho – 76,4%
  2. Qualidade de vida – 75,6%
  3. Altos ganhos financeiros – 70%
  4. Mercado promissor – 66,1%
  5. Não ter um chefe – 64,5%

Fonte: Sistema Firjan

 

ARTE 2

PERFIL DO JOVEM EMPREENDEDOR BRASILEIRO

• 71% do sexo masculino e 29% do sexo feminino

• 35% com idade entre 26 e 30 anos, 28% de 31 a 35 anos e 18% de 21 a 25 anos

• 32% com renda familiar de 6 a 10 salários mínimos, 22% de 3 a 5 salários mínimos e 21% de 11 a 19 salários mínimos

• 42% com ensino superior, 39% pós-graduação e 12% com ensino médio

• 25% decidiram serem empresários por identificar oportunidade de negócio, 25% sempre quiseram ser empreendedores e 18% por querer mais independência

• 86% não se prepararam para empreender

• 62,8% utilizam sites e redes sociais para se informar sobre empreendedorismo, 57,5% também participam de eventos e 53,9% conciliam em atividades de movimentos de jovens empreendedores

• 57% participam de entidades representativas de jovens empreendedores, sendo 51% em Associações de Jovens Empreendedores (AJEs), 22% em movimento jovem do comércio

• 51% participam de entidades representativas por causa da rede de contatos, 17% devido à geração de novos negócios, 17% para discussão de pautas e 15% para capacitação

• 63% possuem apenas uma empresa, 25% têm duas, 7% três empresas, 3% mais de quatro e 2% possuem quatro

• 51% dos jovens empreendedores possuem micro empresa, 20% empresa de pequeno porte, 18% são MEI, 9% com média empresa e 1% com grande

• 70% possuem até nove funcionários, 21% de 10 a 49 funcionários, 5% mais de 100 funcionários e 4% de 50 a 99 funcionários

• 31% conseguem faturamento de R$ 60 e R$ 360 mil, 29% até R$ 60 mil, 29% entre R$ 360 mil a 3,6 milhões, e 10% entre R$ 3,6 milhões e R$ 48 milhões

• 49% possuem cinco ou mais anos de empresa, 20% um ano, 13% dois anos, 11% três anos e 8% quatro anos

• 52% desejam abrir um novo negócio em um segmento diferente, 25% no mesmo segmento e 23% não pretendem abrir nova empresa

• 66% não possuem empresa familiar e 34% sim

• 54% conseguiram investimento por meio de financiamento bancário, 39% através de família e/ou amigos, 5% investimento-anjo e 2% por fundos de capital de risco

• 27% buscaram apoio do Sebrae para abertura ou crescimento da empresa, 23% nenhum apoio, 23% internet, 17% consultoria, 6% Universidades e 4% por incubadoras

• 30% possuem dificuldades de gestão financeira, 27% de gestão de pessoas, 25% no planejamento, 12% no marketing e 5% outros

• 58% listam a carga tributária elevada como principal desafio externo, 23% a burocracia, 8% a legislação, 6% a logística e 5% outros

Fonte: Conaje – Confederação Nacional dos Jovens Empresários

 

ARTE 3

Total de MEIs em Uberlândia: 28.545

MEIS com idade entre 16 e 30 anos: 6.503, ou seja 22.78%

Faixa etária predominante no MEI – 31 a 40 anos – São 9.220 


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