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01/03/2017 às 08h53min - Atualizada em 01/03/2017 às 08h53min

Nem só de sangue carece o corpo

Banco de leite da universidade precisa de doadoras para manter o estoque

ADREANA OLIVEIRA | EDITORA
Freezers do Banco de Leite Humano da UFU precisam de mais doadoras

Alessandra Aparecida Silva afirma de forma um pouco arrependida que “brigou” com uma enfermeira do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (HC-UFU) por causa de 1 ml de leite. O ano era 2001, quando nasceu Gabriel, seu primeiro filho, prematuro de 26 semanas. “Ele tomava 4 ml de leite e a enfermeira levou 3 ml. Perguntei se não podia levar mais um porque o Gabriel tinha que seguir essa dieta à risca”, afirma ela, que depois falou com a médica e o Gabriel recebeu seus 4 ml de leite na UTI Neonatal.

Esse caso é um dos que serve para ilustrar a importância da doação do leite humano para a nutrição dos bebês internados. Muitas lactantes às vezes desistem de doar pelo fato de, na hora da retirada, não conseguirem o que consideram um volume significativo do alimento. “Da mesma forma que não existe leite fraco não existe uma quantidade ideal para doação”, afirma Marília Neves Santos, coordenadora técnica do Banco de Leite Humano (BLH) da UFU, que esclarece apenas que, para o processo de pasteurização do leite é preciso o mínimo de 100 ml.

“A doadora pode juntar o leite em casa por até 15 dias e não importa em quantas retiradas”, afirma Marília Santos. As doadoras recebem em casa um kit composto, entre outros itens, por recipiente de vidro com tampa de plástico, toca e máscara e todas as instruções necessárias para a retirada do leite. “É para evitar que haja qualquer contaminação do leite porque os bebês que irão recebê-lo estão muito fragilizados”, explica Marília Neves, que informa ainda que todo leite doado passa por um rigoroso processo de qualidade. Exames de sangue são requeridos às doadoras. Porém, elas não precisam se preocupar em se deslocar. A equipe do BLH da UFU tem pessoas responsáveis pela coleta do sangue feita também em domicílio.

Até o fechamento desta reportagem, o berçário da UFU estava com 40 bebês internados. Em média, um litro de leite humano pode alimentar até dez bebês. A média de doadoras no ano passado foi de 80 por mês. Porém, em período de férias, como nos primeiros meses do ano, esse número diminui. “Em janeiro tivemos 54 doadoras. Muitas mães viajam nesta época”, comenta a diretora técnica do BLH da UFU.

Criado em 1988, no setor de Lactário, ligado ao Serviço de Nutrição e Dietética da universidade, o BLH uberlandense foi credenciado em 1990 pela Rede Brasileira de Bancos de Leite Humano. O banco existe para apoiar, promover o aleitamento materno e incentivar a doação de leite humano. Além de receber as doações pelo Disque Amamentação, os profissionais do local também auxiliam mães que estejam com alguma dificuldade para amamentar.

FORÇA

Mãe foi doadora para o filho e para outros bebês do berçário

A Organização Mundial de Saúde recomenda que os bebês sejam alimentados exclusivamente por leite materno até os seis meses de idade. O alimento tem tudo que o bebê precisa para o início de seu desenvolvimento. Por motivos diversos, alguns bebês, principalmente prematuros, precisam de cuidados especiais quando nascem e o leite humano coletado por Bancos de Leite como o da UFU são fundamentais para eles.

Alessandra Silva teve deslocamento e amadurecimento precoce de placenta. Era como se seu corpo entendesse que Gabriel já estivesse preparado para nascer com 26 semanas de gestação. Ela tinha leite, e muito. Porém, o menino nasceu com a saúde muito fragilizada e não tinha condições de sugar. Ele começou com 1ml de leite a cada duas horas injetado via sonda nas primeiras semanas. Quando chegou aos 5ml tinha a ajuda de uma máquina para a ingestão do leite porque só o ato de ele sugar levava à perda de peso. Gabriel nasceu com 1,689 kg e caiu para 869 g. Durante alguns dias, Alessandra foi doadora não só para o próprio filho, como também para outros bebês. “Eu tinha muito leite, mas ele não conseguia sugar. Doei para o Banco de Leite por pouco mais de duas semanas. Acredito que por todo estresse da situação parei de produzir leite 15 dias depois que o Gabriel nasceu, o que me deixou muito triste”, recorda Alessandra Silva, também mãe de Marina e Victor.

Alessandra chegou a ser alertada pelos médicos que Gabriel poderia passar a vida deitado em uma cama. Ele perdeu massa encefálica. “Acredito que o leite que ele recebeu nessa fase ajudou muito no seu desenvolvimento. Com os estímulos certos ele hoje é uma criança feliz, reconhece as pessoas, interage, mesmo que tenha suas limitações”, afirma Alessandra Silva.

 

OUTROS TEMPOS

“Mães de leite” eram alternativa no passado

ARQUIVO PESSOAL
Rosa Maria Teixeira foi amamentada por uma amiga da família

Rosa Maria Teixeira vai celebrar sete décadas de vida em 2017. A aposentada, mãe de três filhos e avó que já tem quatro netos, não conheceu a mãe. Foi criada pela avó e foi amamentada por uma vizinha, amiga da família, que tornou-se sua mãe de leite. A costureira que amamentou Rosa Maria teve cinco filhos biológicos.

Nesse ponto de vista, ela se considera uma pessoa de sorte com praticamente três mães: a biológica, com quem teve pouco tempo; a avó que a criou e a mãe de leite. “Eram outros tempos, os mais velhos da família é que me contaram sobre minha mãe, me mostraram fotos. Já com a minha mãe de leite convivi até a morte dela, há muitos anos. Naquela época, a gente brincava na rua, à luz do luar, e muita coisa mudou. E assim foi com o leite humano que hoje tem onde ser coletado e armazenado para beneficiar mais bebês que por algum motivo não podem ser amamentados pelas mães biológicas”, afirma Rosa Maria, que amamentou os três filhos.

Para ela, não importa como, mas é preciso dar aos bebês a chance de serem alimentados com o leite materno. “Dizem que nasci tão pequenininha que cabia em uma caixa de sapatos, que forravam com algodão para me aquecer. Sei que o leite que recebi me ajudou a crescer mais forte e saudável. As mães que têm condições de doar devem fazê-lo e assim multiplicar ainda mais esse amor que só elas têm”, finaliza Rosa Maria.

ARTE 1

SERVIÇO

O Banco de Leite Humano da UFU fica na Rua Maranhão, 1.720, no Campus Umuarama. Interessadas em doar podem ligar para o Disque Amamentação: 3218-2666. A equipe também está preparada para instruir lactantes que precisam de orientação para amamentar.

 

ARTE 2 - SCORE

SAIBA MAIS

Número de bebês no berçário da UFU em 23-02-2017: 40

1l de leite pode beneficiar até 10 bebês

Para ser pasteurizado e preciso o mínimo de 100ml de leite.Em 2016 o Banco de Leite Humano da UFU recebeu em média a doação de 80 mulheres por mês


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