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03/07/2021 às 08h00min - Atualizada em 03/07/2021 às 08h00min

Deixe estar

IARA BERNARDES
Pixabay
Essa semana estava conversando com uma mãe chorosa, entenda aqui no bom sentido, ela não reclamava, mas estava bem chateada porque não se sentia confiante com a educação que dá para os filhos dela, pois alguém sempre insiste em criticá-la e apontar quão insegura ela é, passando essa característica para as crianças, além de não hesitarem em reforçar o quão confortáveis eles vivem, podendo deixar os pequenos “mal-acostumados” com tantas “facilidades”. Enquanto ela discorria sobre os julgamentos disparados contra ela eu pensava: a mãe sempre leva a culpa mesmo, até quando faz o seu melhor: se é pobre devia ganhar mais; se é rica devia dar menos; se tem poucos filhos, é pouco; se tem muitos filhos, é muito; e por aí vai.

Com isso, muitas cenas se passaram na minha cabeça, situações em que eu fui vítima, mas também algoz. Momentos em que me senti extremamente desprezível pelas vezes em que, alguém que amo muito e confio, colocar em xeque todo meu esforço diário em fazer o meu melhor na criação dos 3 pimpolhos aqui de casa. Mas também quando eu fui a que apontou o dedo, sentou no próprio rabo e disparou todo aquele lixo tóxico numa mãe que queria verdades mais bem articuladas, faladas com amor e não com crítica.

Então, nesse contexto e, trazendo à tona tantos outros, pensei o quanto temos que estar preparadas para acolher as nossas dores, traumas, inseguranças, além de saber que não podemos fazer o mesmo com outras mães e pessoas, afinal, quem está pronto a fazer isso com alguém que mal conhece, certamente não poupa esforços em fazê-lo em casa, com os seus amores, que na maioria são os mais fracos: os filhos.

Percebo o quanto somos injustos com nossas crianças, jogando sobre elas qualquer frustração e questões tão nossas que, por não sabermos lidar, transferimos para esses pequenos seres traumas que nos pertencem, reforçando o ciclo de crenças em que estamos inseridos. Vivemos constantemente apavorados com a reprovação alheia, preocupados com o que vão pensar de nós: sou boa mãe? O que vão pensar se me virem gritar? Não tenho condições de pagar uma boa escola. Tenho condições de ter o carro do ano, mas e quem não tem? Estou ostentando? Estou sendo sovina? Poderia estar fazendo mais? E se eu arrumar outro trabalho? E se eu ficar mais com meus filhos? E se...? Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!!! Perguntas demais, olhares demais, vozes alheias demais! Enquanto isso nos perdemos de nossa própria voz.

Minha proposta hoje é que você pare, respire e ouça. Ouça você, seu coração. Depois, ouça seus filhos e então pare de ouvir. Se cale, aproveite o silêncio e comece a ouvir o turbilhão dentro de ti. Vá fundo dentro do tornado, chegue ao centro e observe tudo aquilo que gira ao redor, pegue o que te serve e deixe todo o resto virar pó, sair disperso por aí e evaporar no ar. Saiba escolher as vozes que te constroem e dispensar as que são marreta na viga. Além disso, saiba que como todo furacão, ele vai deixar estragos, sujeira e necessidade de reconstrução. Sente sob os destroços e priorize o que mais ama, coloque o que mais lhe é precioso em primeiro lugar e se refaça com bases sólidas, utilizando cada uma daquelas coisas que você buscou lá no centro de si mesmo, enquanto observava a bagunça girar a seu redor. Pegue dores e as misture às conquistas, faça das lágrimas rega para seu jardim e de cada crítica destrutiva não se recorde mais, pois, estas foram aos ventos.

Com isso, depois de ter se refeito, coloque uma composteira no seu coração e propósito firme de depositar lá o que for resto, o que não te serve, fazendo disso utilidade certa afim de não depositar seu lixo emocional nesses pequenos seres que dependem primeiramente de nós. Seja primeiro justo consigo mesmo para não ser injusto com quem lhe é mais caro.


Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.
 
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