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22/08/2020 às 14h47min - Atualizada em 22/08/2020 às 14h47min

O tal dia 24!

IARA BERNARDES
Dia 24 é meu aniversário! SIIIIMMMMM, mais uma primavera na minha vida. Na verdade um inverno seco, cheio de vento e com direito a pipas no céu, do jeitinho que agosto nos promete.

Nossa cultura é cruel com o envelhecimento, somos direcionados a pensar que o velho não é bom, seja objeto ou pessoa. No caso das mulheres, uma cobrança cada vez maior para que esteja sempre jovial, com ares de 20 e poucos anos e sempre com a mesma disposição e aparência que tinha nessa fase, porém com o currículo consolidado, família constituída, casamento estável e independência financeira adquirida. Com isso, cada vez mais o movimento de esconder a idade e lutar diariamente para se sentir e parecer mais nova consome a saúde mental de milhares de nós.

O que precisamos entender é que apenas com a experiência dos anos, que o amadurecimento chega e com ele a satisfação de não cometer os mesmos erros praticamente inevitáveis da juventude, bem como aquelas atitudes infantis que vira e mexe constrangem-nos depois de anos, quando a lembrança vem.

Mas voltando ao tópico inicial: Por que eu gosto tanto de aniversário? Por que esse frio na barriga da contagem regressiva me faz tão bem e faço questão de movimentar todos em volta acerca desse evento tão particular? Fazer aniversário, para mim, não representa estar em festa, nem estar cercada de dezenas de pessoas para assoprar as velhinhas. Amo aniversariar porque me remete às melhores lembranças da minha infância.

Quando pequena, em absolutamente todos os aniversários, a casa acordava com um cheiro diferente, um bálsamo que não era aroma de comida, aliás, não só! Era um perfume de felicidade, fragrância de limpeza extra, de arrumação mais que arrumada e de bolo prestígio que minha mãe fazia e faz como ninguém! - Mãe, podia rolar um esse ano, hein? -. Voltando... Era cheiro de roupa nova, de festa na varanda, cada cheia e presente. Por isso, me lembro particularmente do meu aniversário de 12 anos: ganhei um urso “adoro você!”, aqueles que era o sonho de qualquer menina na década de 1990 e só quem viveu esses tempos irá se lembrar.
Nessa mesma data, 24 de agosto de 1997, há 23 anos, eis que acordo e olho ao lado da cama, lá está um pacote grande, azul Royal, papel de presente do Magazine Luiza, - uma das poucas lojas grandes da época -, pulei de alegria,  um misto de empolgação e cuidado para não danificar aquela preciosidade de papel, porque naquela época era assim: a gente guardava o papel debaixo da cama para ganhar mais, além de reaproveitar em caso de eventualidade. Que felicidade, mirei aquele urso branco, tão branco que dava dó de pensar que podia sujar; e sua pelúcia? Tão macia que era impossível não se entregar aos abraços fofinhos. E tinha mais, talvez a única coisa que tenha restado, materialmente, daquele dia: um cartão lindo com figura da Turma da Mônica em que meus pais falavam que me amam, escrito com a letra inconfundível de minha mãe, uma letra linda que sempre sonhei em ter.

Naquele dia, a casa estava mais iluminada, mais leve, mais cheirosa, mais silenciosa e aconchegante. Depois desse aniversário vieram outros, 22 a mais, porém, esse foi o que marcou mais, nossa casa antiga, antes da reforma, um lugar que sempre amei, com as pessoas que mais amei! Dia 24, segunda-feira, a essa hora não estarei com todos eles, mas estarei aqui com os meus, com a minha própria aglomeração de 5 pessoas, meu legado, com esses que eu mesma escolhi e construí e que entraram na lista dos mais amados, eu com o parceiro de vida que escolho todos os dias e com os pequenos que me esforço para criar memórias belas como as que tenho.

Quando alguém me pergunta quantos anos vou fazer, tenho orgulho de dizer: TRINTA E CINCO, 4 filhos, um marido, algumas faculdades, algumas pós-graduações, mais de 135 cicatrizes distribuídas em 1,78m e 72 kg, muitos erros, várias escolhas e decisões ruins, dezenas de amigos que se foram e um outro tanto que me aceita desse jeitinho que eu sou, meio maluquete, inconstante, explosiva e amorosa; para os que não gostam, deixo eles lá, quietinhos no canto deles, cada um sendo feliz ao seu modo.

A contagem regressiva não é pelo aniversário, é pelo resgate das memórias, pela criação de novas e por momentos que nos proporciona construir mais um trecho da própria história. Celebro a OPORTUNIDADE e vontade que a mudança de idade provoca em mim de fazer melhor, de errar, cair, quebrar a cara e me levantar para começar mais uma vez. Para os que escondem a idade, por medo de não parecer tão jovem, só te digo: liberte-se, honre sua história e abrace cada pedacinho que construíste de si mesmo. No mais, parabéns para mim!




Este conteúdo é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

 
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