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14/02/2020 às 08h00min - Atualizada em 14/02/2020 às 08h00min

A ligação que não fiz

CELSO MACHADO

Há uns dias fiquei sabendo que a doença de um amigo muito especial, que estava praticamente curada, voltou. É o tipo da informação que a gente não gostaria de saber, mas a realidade nem sempre é tão gentil quanto gostaríamos que fosse. Eu que gosto tanto de usar as palavras,  diante de uma situação dessas me julgo ainda mais incompetente para usa-las.

O que dizer? Falar que imagino o que está sentindo poderia até ser,  se não tivesse a convicção que tenho,  de que diante de certas circunstâncias só quem as está vivendo é capaz de saber. Os amigos como eu, no máximo podem ser solidários, mas a dor é sempre um sentimento único e ninguém é capaz de senti-la  na sua intensidade.

Claro que nos baqueia e toca. Entristece e machuca, mas nada comparado a quem a está sofrendo. Fica um impasse, porque se não temos o que dizer que possa amenizar, também não podemos omitir, porque as amizades verdadeiras  não são aquelas que são cultivadas exclusivamente nos momentos alegres. Ao buscar alguma coisa que possa fazer sentido para manifestar nossa solidariedade e inspirar uma caminhada menos pesada inevitavelmente passamos a refletir mais intensamente sobre o significado de viver.

O que mantém a vida viva? O oxigênio que respiramos, o coração que pulsa, os órgãos em atividade ou o que dá sentido e significado a ela? Quem conhece seus segredos e mistérios? A quem ela autoriza diagnósticos irreversíveis?

Em momentos assim, não faria sentido a pessoa inverter recomendações tão corriqueiras como “viva hoje como se não houvesse o amanhã, para viver agora sempre projetando o futuro? Fazendo planos, compromissos, metas, nunca antecipando tudo que poder adiar?

Penso que cada momento, cada minuto é um sopro que mantém acesa a chama de viver. Que a fé é capaz de ir muito além de onde a limitada dimensão do conhecimento humano é capaz de alcançar. Pena que ele mora longe, porque certas manifestações dizem mais pelo toque do que pelas palavras. Um abraço carinhoso, apertado e demorado fala tudo que queremos manifestar mas não damos conta. Mas as orações, a energia, pensamento positivo emitidos certamente não tem distância que os impeça de darem nossos recados.

E a ligação, essa melhor não adiar...

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.














 

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