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06/10/2019 às 08h00min - Atualizada em 06/10/2019 às 08h00min

Trabalho, homens e máquinas

ALEXANDRE HENRY

No Brasil, ainda vivemos uma situação relativamente confortável em relação à disputa entre homens e máquinas por postos de trabalho. A quantidade de robôs em nossas fábricas não é pequena, mas está longe de atingir o que se vê em nações fortemente industrializadas. Atividades que já não existem em muitos países ricos, como a de frentista de posto e cobrador de ônibus, são comuns por aqui. Pequenas e médias empresas no Brasil ainda se apoiam na mão de obra relativamente barata para realizar serviços que poderiam ser feitos por menos funcionários, caso tivessem o apoio de mais máquinas, em áreas como limpeza, conservação e até em vendas. Em resumo, estamos há duas ou três décadas atrás de muitos países no tocante à “robotização” do trabalho, algo que diminui nossa competitividade no mercado internacional, mas protege empregos.

Só que a realidade que já bateu lá fora vai chegar aqui, ainda que de forma mais lenta. Aliás, vem chegando aos poucos. Nas lavouras de cana da região, por exemplo, quase não mais se vê aquela multidão diária de trabalhadores. Uma simples colheitadeira dá conta do esforço de dezenas de seres humanos. É uma situação boa por um lado, pois produtividade maior significa preços menores, mas ruim por outra, vez que muita gente perde o emprego. De toda forma, é uma realidade em relação à qual não adianta fechar os olhos e muito menos achar que há uma forma de reverter esse processo. As máquinas vieram para ficar, não é de hoje, e a tendência é que assumam cada vez mais o lugar do homem no processo produtivo.

Por enquanto, ainda há escapes para muita gente. A explosão do comércio eletrônico, ao mesmo tempo em que fecha lojas físicas, cria uma necessidade gigantesca de mão de obra para entregas e todo tipo de logística. Os aplicativos de transporte permitiram a milhares de pessoas no Brasil conseguir uma forma de sobrevivência, ainda que com renda não muito grande, mas evitando o desespero do desemprego absoluto. Só que essa esfera também tende a ser afetada em breve por novidades tecnológicas. Computadores já começam a fazer serviço de atendimento telefônico ou por mensagens para empresas, a pesquisa em veículos autônomos recebe bilhões de dólares todos os anos e máquinas para entregar produtos sem o auxílio de ninguém estão na mira das gigantes do comércio eletrônico, que já conseguem bons resultados nessa área.

O que fazer então para dar emprego à multidão que tende a perder seus postos de trabalho para máquinas? A resposta a essa pergunta é buscada por muita gente, especialmente nos países mais desenvolvidos. Frequentemente, deparo-me com palestras no TED sobre essa questão, além de ouvir vários programas na internet debatendo o que fazer com a massa de desempregados que se avizinha. Como eu disse, é um caminho sem volta. Você consegue imaginar a volta das operadoras de sistemas telefônicos, aquelas pessoas cujo trabalho era conectar duas linhas telefônicas em uma máquina para que as pessoas pudessem conversar entre si? Consegue pensar no retorno ao trabalho dos operadores de telégrafo? Dos datilógrafos? Das locadoras de fitas de videocassete? Eu poderia passar o dia citando tarefas e profissões que não fazem mais sentido (ou estão prestes a não mais fazer) e estou certo de que você não desejaria a permanência de nenhuma delas, pois o que as substituiu é mais eficiente e melhor para a sociedade como um todo.

Infelizmente, ainda não há uma solução clara para o problema da robotização do trabalho. A minha filha ainda é pequena, mas quando chegar o momento dela escolher o caminho profissional, eu quero sugerir a ela que reflita sobre os trabalhos mais distantes do alcance das máquinas. Que trabalhos são esses? São os que exigem doses cavalares de particularidades que só o ser humano tem. Pense em você e pense em um robô. O que diferencia você dele? O que você poderia fazer para outro ser humano que o robô dificilmente seria capaz de fazer? Felizmente, ainda há muita coisa nessa área. Tudo o que é mecânico tende a ser feito de forma mais eficiente pela máquina, mas tudo o que é humano, que envolve qualidades que apenas nós temos, isso ainda vai permanecer por um bom tempo. É justamente essa a reflexão que deve ser feita por quem está prestes a entrar no mercado de trabalho. Desista de competir com as máquinas e tente buscar um lugar ao sol que não possa ser alcançado por elas.

*O conteúdo desta coluna é de responsabilidade do autor e não representa, necessariamente, a opinião do Diário de Uberlândia.

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