Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90
31/05/2022 às 18h04min - Atualizada em 31/05/2022 às 18h04min

Casos suspeitos de hepatite aguda em Uberlândia acendem o alerta de especialistas

Avanço da doença ainda tem origem desconhecida, aponta infectologista ouvida pelo Diário

IGOR MARTINS I DIÁRIO DE UBERLÃNDIA
Mais comum em crianças, hepatite misteriosa já tem mais de 600 casos registrados no mundo I Foto: AGÊNCIA BRASIL
Na última semana, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que dois casos suspeitos de hepatite aguda estão sob investigação em Uberlândia. Ainda de origem desconhecida, a nova doença já tem mais de 600 notificações confirmadas e nove mortes em todo o mundo, acendendo o alerta de especialistas da área da saúde.
 
De acordo com a infectologista Silvia Nunes Szente Fonseca, o avanço da chamada “hepatite misteriosa” preocupa. Em conversa com a reportagem, a médica pede cuidado aos casos suspeitos em que o agente infeccioso não é confirmado e explica que muitas notificações chamam a atenção pela gravidade dos sintomas, incomuns em casos de hepatite A, B ou C.
 
“Muitas crianças apresentaram essa hepatite, mas constataram que não era a hepatite A, B ou C. O que chama a atenção é que 75% dos casos são em crianças com menos de cinco anos, e algumas ficaram internadas, o que não é comum na hepatite. Algumas tiveram um caso muito grave e foram para a UTI e 10% precisaram de transplante hepático. É uma hepatite relativamente grave e não é causada por nenhum dos agentes que a gente sabe que causa os outros tipos da doença”, detalhou.
 
Segundo a SMS, as notificações em Uberlândia correspondem a duas crianças que foram internadas na cidade, sendo uma residente no município e outra em Araguari. Uma delas estava hospitalizada em uma unidade particular e havia sido transferida ao Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-USP). Ainda não há informações sobre a outra criança internada.
 
Conforme apontado pela infectologista, ao contrário do que tem sido dito em redes sociais, a vacina contra a covid-19 não possui relação com a hepatite misteriosa. Entretanto, estudiosos têm levantado hipóteses sobre o encontro do vírus SarsCov2, responsável pelo coronavírus, com o adenovírus 41, encontrado nas crianças internadas, mas nada foi confirmado até o momento.
 
“Setenta e cinco por cento das crianças tinham menos de cinco anos, e essa idade ainda não recebe a vacina contra a covid-19, então sabemos que a vacina não tem essa ligação. Muitas das crianças internadas tiveram covid há algum tempo ou estavam com a suspeita de estarem com a doença. Estão levantando uma hipótese nesse sentido. Será que o adenovírus 41 e o SarsCov2 podem dar essa hepatite? Nós ainda não sabemos”, disse a médica.
 
Ainda de acordo com a infectologista, a principal preocupação das autoridades de saúde é identificar o agente infeccioso da hepatite aguda, já que isso pode facilitar o tratamento e ações de combate na transmissão da doença. Segundo a especialista, é importante que os pais fiquem atentos e levem os filhos ao médico ao notar os primeiros sintomas da enfermidade.
 
“Se uma criança ou até mesmo um adulto ficar com o branco dos olhos amarelados, começar a ter fezes esbranquiçadas, urina escura e dor abdominal, tem que ir ao médico. Só ele pode fazer o diagnóstico de hepatite. Se não for um dos vírus já conhecidos, pode ser que seja a chamada hepatite misteriosa”, disse a pediatra.
 
HEPATITES A, B e C
A hepatite é uma doença infecciosa que provoca um processo inflamatório no fígado e pode levar a morte. As hepatites virais mais comuns são causadas pelos vírus A, B e C. A doença apresenta sintomas variados, sendo os mais recorrentes a febre, fraqueza, mal-estar, dor e desconforto abdominal, além de enjoos, urina escura, perda de apetite, olhos e pele amarelada e fezes esbranquiçadas.
 
A hepatite A é uma doença transmissível, aguda e causada pelo vírus HAV, que em geral não apresenta sintomas na fase inicial. A transmissão é fecal-oral, muitas vezes associada a condições precárias de saneamento básico de água, de higiene pessoal e de alimentos contaminados.
 
A hepatite B não tem cura e é classificada como infecção sexualmente transmissível. Já a hepatite tipo C pode se manifestar na forma aguda ou crônica e é transmitida pelo contato com sangue contaminado, pelo compartilhamento de agulhas, seringas e materiais de manicure.
 
Segundo a especialista ouvida pelo Diário, as vacinas contra os tipos A e B de hepatite são oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e estão disponíveis nos postos de saúde. A do tipo C não tem imunizante próprio, mas existe tratamento também disponibilizado pelo SUS de maneira gratuita.
 
COBERTURA VACINAL
A médica Silvia Nunes Szente Fonseca também alertou para a baixa cobertura vacinal contra as hepatites A e B. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), a imunização da hepatite B para crianças com menos de 30 dais era de 74% em 2020, número que diminuiu para 64% em 2022.
 
O caso do imunizante da hepatite B para crianças com menos de um ano é ainda mais grave. Em 2020, a cobertura vacinal atingiu um índice de 96%. Neste ano, a taxa é de 28%. A hepatite A teve cobertura similar em 2020 e caiu para 32% neste ano.
 
“As vacinas são a maneira mais eficiente de prevenção e infecção. As vacinas são vítimas da própria eficiência, as doenças desapareceram e as pessoas acham que elas não precisam mais vacinar. A pandemia piorou o acesso à vacinação, mas nós precisamos repensar isso. Felizmente, não temos um movimento anti-vacina muito grande no Brasil, mas é uma lástima que as pessoas começaram a duvidar das vacinas por causa de fake news”, disse Silvia.


• Compartilhe esta notícia no WhatsApp
• Compartilhe esta notícia no Telegram

Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »
Diário de Uberlândia | jornal impresso e online Publicidade 1140x90