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31/12/2019 às 07h52min - Atualizada em 31/12/2019 às 07h52min

Tita Lima fala de “Titanium”, novo álbum que representa um divisor de águas em sua carreira

Produção do álbum é de Carlos Eduardo Miranda, falecido em 2018, a quem Tita Lima credita grande parte do resultado alcançado

ADREANA OLIVEIRA
Capa do álbum que marca nova fase de Tita Lima | Foto: Divulgação
O ano do qual nos despedimos nesta terça-feira (31) deixará para a cantora, compositora e instrumentista paulistana Tita Lima o significado de renascimento, de força, de realização após um período em que nada parecia certo. O álbum “Titanium”, disponível nas plataformas digitais, foi batizado dessa forma depois da artista sobreviver a um grave acidente de carro, em Los Angeles, em 2013, quando trabalhava na mixagem do álbum.

Seis anos depois, o titânio não só representa a resistência. O material também foi usado para reconfigurar o lado direito do corpo de Tita, que hoje se sente fortalecida, com mais mobilidade e totalmente grata por poder andar e dançar de novo. Nascida em São Paulo, radicada nos Estados Unidos, Tita Lima não se vê presa a um estilo. Sua música é movimento, e “Titanium” deixa isso bem claro.

A produção do álbum é de Carlos Eduardo Miranda, falecido em 2018, a quem Tita Lima credita grande parte do resultado alcançado. O álbum pode ser considerado um divisor de águas na carreira da artista e Miranda, que parecia estar sempre à frente de seu tempo, faz parte disso.

“Miranda sempre esteve presente em todos os meus discos. Ele produziu duas músicas para o ‘11:11’ (primeiro disco, 2007) e participou da mixagem do segundo CD, ‘Possibilidades’ (2010). Esse terceiro disco eu lhe entreguei de coração aberto e adorei todos os arranjos que ele fez”, disse a cantora, em entrevista ao Diário de Uberlândia.

Segundo Tita, no palco, o disco fica mais forte e pulsante. “Tenho músicos maravilhosos aqui e no Brasil, eles são detalhistas e brilhantes. Tenho uma admiração enorme por todos os músicos com que trabalhei.”

A artista sabe que várias cenas, como a de Uberlândia, estão de olhos e ouvidos abertos para novas produções; tem gente se virando para organizar os próprios festivais e tem também muito artista buscando seu lugar ao sol com sua música autoral.

Morando há muitos anos fora do Brasil, tanto pela carreira quanto pela qualidade de vida, Tita fala um pouco a respeito dessa formação do público do artista e da cena em que ele se forma, muitas vezes lutando para ir fora do que o mainstream impõe, principalmente no rádio e na televisão brasileiros.

“Meu primeiro e segundo discos foram lançados no Brasil enquanto eu morava aí. Tive vários convites para festivais no exterior e minha música tocou e toca em várias rádios aqui nos Estados Unidos. Então a decisão de mudar foi fácil, mas não significa que eu não possa passar e morar um tempo aí no Brasil. Só não fui este ano por conta da polarização política desses tempos obscuros. Estou esperando a poeira baixar para chegar aí no começo de outono de 2020. Meu novo clipe vai ser lançado em breve no Multishow e na MTV e a música tocará em algumas rádios também. Com o Spotify e o Instagram eu não sinto tanto a distância, pois fico ligada em tudo que acontece por aí”.

Tita Lima fez faculdade de cinema e trabalhou como fotógrafa por muito tempo e percebe que com a tecnologia de hoje está muito mais fácil filmar e editar imagens, e que os artistas devem utilizar essas facilidades para estarem presentes nas plataformas.

“Quando me mudei para o deserto, passei um mês filmando cada detalhe da minha vizinhança. Fiz o clipe da música ‘Bittersweet’ com cenas das redondezas desta vizinhança. Uma semana após filmar tudo, vi a Billy Eilish filmando ‘Belly Ache’ na mesma avenida e achei o vídeo dela incrível também. Aqui é bonito demais, muito cinematográfico e a falta de umidade faz tudo ter mais foco e ficar mais colorido”.

A artista não teve a distribuição digital dos primeiros discos, e ficou chocada quando viu a rapidez com que a plataforma de distribuição Onerpm fez o upload nas plataformas. “Estou finalizando o upload dos dois primeiros discos nas plataformas de streaming. Sei que não ganho a mesma divulgação e espaço como artistas mais pop e os sertanejos que vendem bem, mas estou feliz com o alcance que posso conseguir se eu trabalhar direto”.

FAMÍLIA
Tita Lima vem de uma família muito musical que sempre incentivou sua carreira. Filha de Liminha, produtor musical e baixista dos Mutantes, o pai é sua principal referência.

“Aprendi tudo com ele e com meus avós, graças a eles tenho um gosto musical eclético: muito rock, muito soul, bossa e jazz. Meus avós ouviam Frank Sinatra e Elis Regina; já meus pais, rock and roll. Meu pai sempre foi mega trabalhador e no começo da carreira dele de produtor não tinha como me deixar com babás, então eu passava dias e às vezes madrugadas com ele no estúdio. Então, aprender a gravar e mixar foi inevitável”, recorda Tita.

Mesmo assim, a música não foi sua primeira escolha. “Meu pai teve que batalhar muito para chegar onde chegou e até hoje fico admirada como ele consegue lidar com tantas bandas, artistas, egos, empresários, gravadoras ... e além disso achar tempo para compor e tocar cada vez melhor. Ele é ponta firme demais. Adoro chamar ele para tocar as faixas de groove, pois é onde ele se solta e se diverte. Ouça as guitarras da música ‘Cais’, ele arrasou”.

Fica a dica de “Cais” e todo “Titanium” para iniciar 2020 com uma boa vibração.  Confira, nesta página, Tita Lima explicando cada faixa do álbum.
 
FAIXA A FAIXA DO ÁLBUM POR TITA LIMA
Pioneira (Adrian Quesada/ Tita Lima / Fernando Torrico)
Escrevi quando tomei a decisão de me mudar para os Estados Unidos, na época eu estava entrando para uma banda chamada The Echocentrics, radicada em Austin, Texas. Estava de saco cheio da dureza que passava no Brasil e me mudei com US$ 300 dólares no bolso, apostando todas as fichas e mergulhando com tudo.

Sweet Sunday (Peter Pedro e Tita Lima)
O Peter Pedro me deu a base, bateria e syntch, coloquei a slide guitar e percussão, o trombone é dele. A letra fala sobre a saudade de um grande amigo, daqueles que você telefona no domingo quando está triste ou saudosa, mas esse amigo na época havia me bloqueado nas redes sociais a mando da nova esposa, que era superciumenta, e a letra fala sobre um possível reencontro, mas que nunca aconteceu.

Cais (Tita Lima, BOSQ, Evan Laflamme)
Essa música escrevi indo para uma festa de réveillon em Paraty, na ilha do Sapeca, aquelas festas históricas que a gente nunca esquece. Eu tinha vinte e poucos anos, não era mãe ainda, era livre como uma pluma e estava entre amigos maravilhosos. Uma das minhas viagens de ácido que deixam as cores mais vivas e os sentimentos mais aguçados. Eu guardei o refrão na cabeça e usei quando Evan Laflame e Bosq me trouxeram um loop como base.
 
Solitária Solidão (Adrian Quesada e Tita Lima)
Adrian Quesada, da banda Echocentrics, escreveu a base e o Miranda desconfigurou o arranjo original totalmente. A música tem uma vibe dark e de revolta, a letra fala sobre um dia chuvoso e sobre as chuvas em São Paulo que destroem casas e alagam bairros, deixando muita gente desabrigada e sem nenhum suporte.
 
Bittersweet (Ili Naldekova e Tita Lima)
Eu tinha a base e o refrão na cabeça prontos e mandei para Ili, musicista brasileira/ búlgara radicada em Los Angeles que escreve lindamente em inglês. Gravamos literalmente tudo em um take, eu queria que fosse assim, a primeira valendo! A música fala sobre a contradição de ter um relacionamento à distância.
 
Beijo Seus Lábios (Baron Retif, Concepcion, Silvia Vasconscellos e Tita Lima)
Essa letra foi um poema escrito por Silvia Vasconcellos (Minadosom) que, para mim, significava o assassinato de um amante. A original dizia sangue escorrendo e eu cantei sangue esquentando porque não me sentia confortável com a imagem que a letra me trazia. A base é de Baron Retif, C Perez, amigos do produtor francês Fulgeance. Os barítonos sax e clarinete foram todos tocados lindamente por Eva La Flamme.
 
Go Beyond (Peter Pedro e Tita Lima)
Go Beyond é tudo que precisava ouvir após o meu acidente. Durante os dias de dores, aprendi a meditar e a colocar minha mente em lugares lindos que meu corpo não podia ir.
 
Novidade (Ricardo Kudla, Cris Cado e Tita Lima)
Música e letra original de Ricardo Kudla, minha e de Cris Cado. Fizemos a letra da parte em inglês que encaixou perfeitamente. A letra fala sobre estar no pico da meia idade, feliz e satisfeito com a rotina, rodeado por experiências e pessoas incríveis. Fala sobre focar no positivo para se ter beleza e abundância diariamente. Arranjos de Miranda, adoro os teclados e a guitarra dessa música!
 
El Amor Del Perro Por La Paloma (Tita Lima, Liminha, Guilherme Held)
Música do meu pai que era para ser uma bossa, mas Miranda mudou o arranjo trazendo uma vibe pop anos 80. A letra fala sobre amores platônicos, é a paixão de um cachorro que sonha em ter asas para voar e ter um romance com uma pomba.
 
Você sabe muito bem o que me resta (Saulo Duarte e Daniel Groove)
Essa faixa foi amor à primeira vista (escuta). A versão que Miranda e eu fizemos teve influência de Korgis 1970, “Everybody ‘s got learn sometimes”. E a letra, por coincidência, fala também sobre o autoconhecimento e aprendizado de cada um em situações de vulnerabilidade.









 

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