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13/12/2019 às 16h42min - Atualizada em 13/12/2019 às 16h42min

Festival celebra longevidade do vinil em Uberlândia

Formato inédito do Vinil é Cultura tem atrações neste sábado (14) e domingo (15) no Sesc

ADREANA OLIVEIRA
O produtor Luiz Calanca, da loja e selo Baratos Afins, participa do evento neste domingo | Foto: Divulgação
Você tem Instagram? Se a resposta é positiva, possivelmente, nos últimos dias, você compartilhou e recebeu compartilhamento de seus amigos com informações sobre quais estilos de músicas mais ouviram, quantas horas no ano, qual o artista da década...tudo isso dentro de uma plataforma digital.

Porém, se você não tem esse levantamento, não se preocupe, você não é o único e provavelmente tem seu jeito analógico de compartilhar, o que, muitas vezes, vem com a agradável surpresa indicada por um amigo que chega a ter um brilho nos olhos quando fala daquele “discão”.

A tecnologia de compartilhamento e seu formato mudam, mas a essência da música boa permanece. E para além da nostalgia, celebrar a cultura do vinil não é reunir um grupo de saudosistas, é reunir um grupo de entusiastas que não pararam no tempo, mas perpetuam essa forma quase artesanal hoje de ouvir e falar de música. Afinal, melhor que uma time line agitada é uma vida compartilhada olho no olho.

E um espaço se abre neste sábado (14) e domingo (15), no ginásio do Sesc, para os admiradores e colecionadores do Long Play, há 71 anos fazendo a alegria da galera. O 1º Festival de Vinis de Minas Gerais Vinil é Cultura chega para marcar seu lugar na história. O formato inédito, segundo os organizadores, foi alcançado após três anos de feiras mensais realizadas em espaços modestos na cidade, sem grandes pretensões.

Ao chegar ao ginásio do Sesc, que já tem seu lugar na história do rock local por ter abrigado a primeira edição do Jambolada, show de ícones como Arnaldo Antunes e o primeiro e único Underground Festival, o Vinil é Cultura assume o protagonismo que lhe cabe.

“Além dos três anos de nossas feiras mensais aqui em Uberlândia acompanhamos outras feiras pelo Brasil. Há alguns anos fui a uma no Rio de Janeiro, em Duque de Caxias, e fiquei encantado. Era um dia só com palestras, discotecagem e área gastronômica. Achei aquilo bem interessante e pensei em trazer isso para cá. Nossos eventos eram legais, mas muito simples. Percebemos que poderíamos ter mais atrações e envolver mais pessoas nisso, tanto no projeto, quanto no público”, conta Fabiano Ferfoglia, idealizador do projeto ao lado da esposa, Manu Oliveira.

“Poderia ser feito em um dia? Sim. Mas por que não fazer em dois? Junto às exposições, área de alimentação, ciclos de conversas, teremos ainda os pocket shows. Se a gente quer ficar o dia inteiro numa feira só com exposição, imagina em uma com tantas outras opções. Estava na hora de ser um pouco mais ousado”, comenta Ferfoglia.

CONVIDADOS
Além de um formato ideal para o 1º Festival de Vinis de Minas Gerais Vinil é Cultura, era preciso investir também em atrações que dialoguem com o tema. Viabilizado pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Pmic), o festival aconteceria inicialmente em outubro, mas acabou ficando para dezembro.

Os primeiros contatos com palestrantes e colecionadores começou há meses e conciliar as agendas foi um desafio, porém, a receptividade ao convite foi das mais positivas. Estão confirmados Bento Araújo (Poeira Zine/SP), Márcio Custódio (Locomotiva Discos/SP) e Manu Joker (Uganga/Araguari). “Todos elogiaram a iniciativa, mesmo quem não pôde vir”, disse Fabiano Ferfoglia, que celebra também a vinda do produtor Luiz Calanca, responsável por uma das lojas – e selo – mais antigos do Brasil, a Baratos Afins.

“O Luiz não gosta muito de viajar longas distâncias, gosta de estar lá na loja dele, tem seu jeito. A filha dele intermediou a negociação e conversamos muito para antes de formalizar tudo. É muito bom tê-lo aqui, creio que é algo que marcará tanto nossa história como a dele”.

Em entrevista por telefone ao Diário de Uberlândia, que pareceu mais uma conversa informal entre dois velhos amigos, Calanca comentou que não gosta muito de voar – fica nervoso só em pensar no assunto – mas saber como ele e a Baratos Afins têm admiradores em Uberlândia e a possibilidade de conhecer e conversar com mais gente ajudaram no sim.

A história de vida dele se confunde com a do selo que surgiu por acaso. Atualmente com 66 anos, Calanca se recorda de quando abriu a Baratos Afins, em maio de 1978, em um lugar que mais parecia uma caverna.

“Eu era farmacêutico e um apaixonado por música e discos de vinil. No final dos anos 70 decidi que queria mudar, fazer algo que realmente me fazia sentir bem. Aluguei o espaço que era de um laboratório fotográfico desativado que ninguém queria... estava abandonado, sujo, cheio de pulgas”, recorda.

Anos mais tarde, esse espaço na galeria da rua 24 de Maio, na República, tornou-se um dos pontos mais badalados da capital paulista, vindo a ser conhecida como Galeria do Rock, que ao longo dos anos tem passado por transformações, nem todas para melhor.

“Minha loja foi a primeira e o negócio deu tão certo que os imitadores foram chegando aos montes e isso era saudável”. Das dezenas de lojas que o copiaram naquela época, as remanescentes se contam nos dedos de uma mão.

Calanca nunca foi do tipo que entrou na música por fama ou sucesso. Quando era farmacêutico foi aplicar uma injeção no músico e escritor Jorge Mautner, que era amigo de Arnaldo Baptista, cantor e compositor, que fez parte dos Mutantes.

“Foi bem por acaso que virei produtor fonográfico. Com o contato do Arnaldo que o Mautner me passou fui atrás dele porque queria muito o ‘Loki’. Mas tinha uns entraves com gravadora e eu não era ninguém... não me cederiam direito nenhum. Foi por meio da esposa do Arnaldo que consegui a confiança dele. Gravei e produzi o ‘Shining Alone’ e senti que me encontrei nesse lugar, foi a melhor coisa que fiz na vida”, disse Calanca.

O produtor tem no currículo 104 vinis com sua assinatura e 89 CDs produzidos. Ainda é muito procurado por bandas e artistas solo que querem trabalhar com ele, mas não pega qualquer coisa. “Tem que haver uma identificação com o trabalho, não faço nada por fazer, sem propósito. Cheguei a receber fitas da Legião Urbana e do Pato Fú e achei que não deveria fazer. Olha aí, estouraram. Mas penso, será que se eu os tivesse produzido eles teriam chegado onde chegaram? Costumo dizer que eu erro mais do que acerto porque tem muita banda que eu acho boa demais e não acontece nada!”.
 
SERVIÇO
O QUE: 1º Festival Vinil é Cultura
QUANDO: sábado (14), das 12h às 22h e domingo (15), das 10h às 21h
LOCAL: Ginásio do Sesc (entrada pela Av. João Naves de Ávila)
ENTRADA FRANCA
CLASSIFICAÇÃO: livre
INFORMAÇÕES: facebook/festivalvinilecultura

PROGRAMAÇÃO
SÁBADO (14)
12h às 14h - Discotecagem em vinil com Zé Roberto
13h30 - Oficina com os DJs Zoy e Luizinho – Operação de Pick-ups e Scratch
14 às 16h - Discotecagem em vinil com Daiane Stasiak
15h - Bate-papo com o jornalista Bento Araújo - Poeira Zine (SP)
16h às 18h - Discotecagem em vinil com DJ Wagner (Uberaba)
18h - Bate-papo com Manu Joker - Uganga (Araguari)
18h às 20h - Discotecagem em vinil com Rodrigo Semfim (Araguari)
20h - Pocket Show com a banda Black Jack 21
 
DOMINGO (15)
10h às 12h – Discotecagem em vinil com DJ Giba
12h - Pocket Show com Regional Fogo na Roupa
13h às 15h - Discotecagem em vinil com Marcus Tulius (Fundinho Festival)
13h30 - Oficina com os DJs Zoy e Luizinho – Operação de Pick-ups e Scratch
15h - Bate-papo com Luiz Calanca - Baratos Afins (SP)
15h às 17h - Discotecagem em vinil com Tiago Bessa
17h às 19h - Bailinho Radiofônico (Laurentiz Barbosa & Bernardt)
17h30 - Bate-papo com Márcio Custódio - Locomotiva Discos (SP)
19h - Pocket Show com Dog Brother's Quinteto
Todos os dias, durante todo o evento: Feira de Vinil para venda e troca de discos| Praça de Alimentação com restaurantes, cafeteria e bar Uberbrau | Flash Tattoos com Estúdio Zagaia | Espaço Kids | Exposições: Capas de Discos Icônicas | Linha do Tempo do Vinil | Discos de artistas de Uberlândia | Aparelhos de som antigos










 

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