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12/12/2019 às 10h30min - Atualizada em 12/12/2019 às 10h30min

Documentário "Rock de Ubercity" retrata estilo musical na cidade nos anos 80

Filme traz o recorte de uma época marcada pela originalidade; lançamento será nesta quinta-feira (12)

ADREANA OLIVEIRA
Marise Marra, guitarrista e compositora, é uma das entrevistadas do documentário | Foto: Roberto Chachur/Divulgação
A cena roqueira uberlandense é cheia de personagens. Não só os músicos e suas bandas que há tempos representam esse lugar que nem sempre tem um posto cativo nos corações de um público de massa. A cena roqueira uberlandense tem diversos atores que contribuíram, contribuem e continuarão a contribuir com esse estilo que está sempre à margem, por mais que se destaque entre um ciclo e outro.

A carência de registros dessa cena foi percebida pelo cineasta Cristiano Barbosa e pelo produtor Eduardo Bernard, ambos produtores do documentário "Rock de Ubercity", com direção de Barbosa, que tem lançamento nesta noite, às 21h, no London Pub. A ideia inicial era mais abrangente, mas diante de um cenário tão vasto, eles optaram por um recorte pegando o final dos anos 1980 e o início dos anos 1990.

Segundo Bernardt, essa história poderia ter sido contada por outros meios - livro, website - mas o vídeo-documentário foi eleito a melhor forma de dar vida e voz a um período efervescente da história do rock na cidade. Viabilizado pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PMIC), proposto por Bernardt, o filme já está dando o que falar. "Nem estreou e já tem gente perguntando por que tal banda não entrou, como foi feita a escolha dos entrevistados. Nunca foi um projeto de mapeamento que pegaria desde os anos 80 até os dias atuais, seria algo muito pretensioso, não tem formato que caiba isso", comentou Bernardt.

Coube a Barbosa costurar essa narrativa, com a ajuda de Bernardt e Carlos Segundo. Ele espera, com esse filme, demonstrar as expectativas e dilemas dessa cena musical em Uberlândia em um momento de efervescência do rock brasileiro. "Ele não se propõe a ser uma cartografia ampla e precisa de todas as bandas que vivenciaram a época. Além dos músicos, temos outras pessoas envolvidas com a cena como jornalistas, produtores culturais, radialistas. Na montagem construímos uma narrativa concisa, clara e persistente. Nesse processo, muita coisa acaba ficando de fora, para um outro projeto, por conta desse recorte temporal que fizemos".

Bernardt destaca o papel do rádio, das gravadoras e de agitadores culturais nesse processo em que a música autoral tinha mais espaço e relevância. "Temos a história da Solo Vertical, aqui de Uberlândia, que teve contrato assinado com a gigante RCA para o primeiro disco lançado em vinil; tem o Patrulha Cogumelo que chegou a ter músicas executadas em rádios do Rio de Janeiro e São Paulo. Pessoas envolvidas com esses projetos ainda têm um papel relevante hoje na cidade como o Maurício Ricardo e o Simarro".

O produtor conta que o espectador vai entender um pouco mais sobre como essa cena autoral deu lugar à cultura do cover. "Houve muita luta dessa galera lá atrás. É um processo que começou a se inverter novamente nos anos 2000, com um forte apelo de bandas do circuito universitário e alternativo, mas isso já daria um outro documentário".
 
A MINA

Dar um título ao documentário não foi tarefa fácil. Mas quando ouviu a música "Rock de Ubercity" os produtores sentiram que essa era a pegada. A música é da banda Primator, da qual a guitarrista uberlandense Marise Marra fazia parte. Há mais de 20 anos, como muitos músicos e artistas de Uberlândia, a instrumentista, que também é compositora, deixou a cidade em busca de um lugar onde pudesse crescer profissionalmente. Foi para Campinas (SP), onde vive até hoje e segue compondo, gravando e lançando discos e também leciona.

Adolescente em Uberlândia, por volta dos 14 anos ganhou a primeira guitarra. Antes havia passado alguns meses em Brasília (DF), que na época era a capital do rock brasileiro. Onde tudo acontecia. "Eu já curtia rock por causa dos meus irmãos mais velhos, sempre comprei muitos discos e fui conhecendo pessoas do meio. Comecei tocando violão e com aquela efervescência transbordando em Brasília acabei fazendo meu primeiro show por lá, com baixo e guitarra emprestados, em uma banda de rock progressivo", conta a guitarrista.

O período em Brasília e o que estava por vir em Uberlândia marcaram toda a história de Marise que entre outros projetos conseguiu projeção com a banda Primator. "Estudava no Anglo na época e participava dos festivais do colégio e outros como o Udi Toca. A primeira edição dele foi na Tubal Vilela. Mas os shows mais memoráveis foram no Teatro de Bolso que tinha na Praça da Bicota. Chegamos a fazer duas sessões por dia durante uma semana. Era um evento filantrópico e naquela época a gente não ligava pra grana, só queria tocar. Se recebi algum cachê nessa eu nem lembro... e tinha muito evento legal da Secretaria de Cultura".

Marise descreve o som da Primator como absurdamente visceral e bem nervoso. "A banda era muito performática também, as pessoas comentavam sobre 'a mina que toca guitarra'. Na época eu era praticamente a única. E só tocávamos som autoral. Me sinto privilegiada por ter vivido isso em espaços que comportavam esse som. Quando os bares começaram com essa coisa de só querer cover complicou. Cover eu tocava no violão, na praça, com uns amigos e só coisa que eu gostava, que tinha a ver com a minha essência".

A guitarrista, porém, afirma que outras bandas contemporâneas também optaram por um som próprio, mas com outra pegada, mais na linha do que a Legião estava fazendo. "A Primator e a Carruagem de Aquários, outra banda que tive, estavam sempre na contramão e a gente fez um certo barulho, parando até nas capas de jornais como 'O Estado de Minas" e dando entrevistas na televisão. Foi uma época maravilhosa".

E quem quer saber um pouco mais sobre o que Marise fala, é bom conferir a exibição hoje. O documentário tem classificação livre e deve ter outras exibições pontuais na cidade. Segundo Barbosa, o filme tem condições de participar de um circuito de festivais de documentários musicais, e depois disso, a obra deve ser disponibilizada para o grande público na internet.
 
SERVIÇO
 
O QUE: lançamento do filme "Rock de Ubercity", de Cristiano Barbosa e Eduardo Bernardt
 
QUANDO: hoje, 21h
 
LOCAL: London Pub
 
SHOWS: a partir das 22h30 se apresentam as bandas Patrulha Cogumelo, Solo Vertical, Uganga, Autópsia e Veneno Vivo
 
INGRESSOS: R$ 15 (pista) e R$ 80 (mesa com 4 lugares) à venda no local ou pelo aplicativo London Pub
 
CLASSIFICAÇÃO: 18 anos
 
INFORMAÇÕES: 3236-5081
 

FICHA TÉCNICA
DIREÇÃO: Cristiano Barbosa | PRODUÇÃO: Cristiano Barbosa e Eduardo Bernardt | FOTOGRAFIA: Roberto Chacur | ROTEIRO: Cristiano Barbosa, Eduardo Bernardt e Carlos Segundo | MONTAGEM: Cristiano Barbosa e Carlos Segundo | EDIÇÃO E FINALIZAÇÃO: Carlos Segundo | PRODUÇÃO EXECUTIVA | Thaneressa Lima e Eduardo Bernardt | SOM DIRETO: Cristiano Barbosa | PESQUISA DE IMAGEM: Luana Diniz, Cristiano Barbosa e Eduardo Bernardt | CLASSIFICAÇÃO: livre | DURAÇÃO: 87 min



*O texto foi atualizado às 18h10 do dia 13/12/2019




 

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