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14/06/2019 às 07h56min - Atualizada em 14/06/2019 às 07h56min

Fliaraxá se consolida no cenário literário do país

Diário traz entrevista com Luiz Ruffato, uma das atrações do evento que começa dia 19

ADREANA OLIVEIRA COM FLIARAXÁ
Foto: Daniel Bianchini/Divulgação
A cidade de Araxá sediará, entre 19 a 23 de junho, feriado de Corpus Christi, a 8ª edição da Fliaraxá, que traz o tema “Literatura, Leitura e Imaginação”. Novamente, o Tauá Resorts, o Grande Hotel da cidade, sediará o evento que tem entrada franca e além dos livros leva atrações musicais, debates, lançamentos de livros e gastronomia. As crianças, claro, são contempladas com espaços exclusivos e lúdicos e há encontros também direcionado para os jovens.

O homenageado deste ano é o autor português Valter Hugo Mãe, presença garantida na Fliaraxá, junto com outros autores também confirmados como José Eduardo Agualusa, Alice Ruiz, Ignácio de Loyola Brandão, Cristovão Tezza, Edney Silvestre, Luiz Ruffato, Marina Colasanti, Marco Lucchesi, Pedro Bandeira, Clóvis de Barros Filho, Conceição Evaristo e o ator Thiago Lacerda, que fará leituras.

Uma feira de economia criativa também faz parte da programação.

O Patrono da edição é Machado de Assis, que no dia 21 de junho, sexta-feira, completaria 180 anos. Ele foi o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras e um de seus fundadores. Uma homenagem será realizada com a presença do atual presidente da entidade, o escritor Marco Lucchesi, acompanhado de outros acadêmicos. A Patrona Local será a escritora Maria Santos Teixeira (in memorian) e a homenagem constará também com a presença de dois convidados especiais: Conceição Evaristo e Zuenir Ventura.
Os salões do nobre Tauá são palco para ricos debates, palestras e discussões sobre obras relevantes na literatura nacional e internacional. Na área externa é montada uma área de alimentação rica em opções para todos os gostos e a música estará presente em todos os dias da feira.

Aliás, o festival literário já movimenta a cidade desde o dia 10. Até o dia 18 escolas públicas e particulares recebem atividades que reúnem autores e estudantes em uma programação também gratuita na Pré-Fliaraxá.

Segundo os organizadores, o principal objetivo do Fliaraxá é atrair o universal ao âmbito regional e produzir sinergias onde a cultura preserva o patrimônio e este valoriza a cultura. O cenário é o Tauá Grande Hotel Termas de Araxá onde mais de cem autores e autoras vão se reunir para celebrar o amor pelos livros e pela leitura, entre eles o convidado especial do Fliaraxá, o autor angolano José Eduardo Agualusa, uma das mais importantes vozes da literatura africana de expressão portuguesa.

O evento, viabilizado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura, por intermédio do patrocínio da CBMM, apoio cultural do Itaú e parceria do Sesc SP, tem curadoria do criador do festival, o gestor cultural Afonso Borges, pela historiadora e professora Heloisa Starling, o cientista político Sergio Abranches, a filósofa Marcia Tiburi e o educador Leo Cunha. Os curadores locais são os escritores Luiz Humberto França, Rafael Nolli e Rodrigo Feres.

O escritor mineiro Luiz Ruffato está entre as atrações deste ano do Fliaraxá, que ele acompanha desde as primeiras edições. “Para mim, o Fliaraxá é o melhor festival literário do Brasil, pelo clima que se estabelece entre os autores e entre os autores e o público; pelo número de participantes; pelo local incrível em que ocorre (as antigas Termas de Araxá)”, disse. Para o autor, há outros pontos a serem considerados a favor do festival mineiro. “Os autores são remunerados, está fora do eixo Rio-São Paulo, prestigia a literatura da cidade e da região”, comentou.

Confira entrevista com o autor.

LUIZ RUFFATO

FLIARAXÁ - Você veio de uma origem humilde, mãe lavadeira e pai pipoqueiro. Como essa realidade está presente em suas obras? Principalmente em “Inferno Provisório”?

LUIZ RUFFATO - Desde quando pensei, pela primeira vez, em me dedicar à literatura, tinha como objetivo representar a classe média baixa, que, embora signifique a maior parte da sociedade brasileira, está totalmente ausente das páginas dos livros. Desde a publicação de “Eles eram muitos cavalos”, em 2001, venho me empenhando em criar histórias que privilegiem a vida e os desejos de gente trabalhadora e invisível, o que, de certa maneira, é uma forma de homenagear e presentificar meus pais e irmãos e amigos de infância e adolescência.
 
Você fala que o seu livro “Eles eram muito cavalos” é uma instalação literária. Por que?
Trata-se de um livro de ficção de gênero indeterminado. Não é uma coleção de contos, pois há ali fragmentos de jornais, anúncios publicitários, simples descrições de locais ou de coisas. Não é um poema em prosa, não é crônica, não é jornalismo, não é romance... É um livro que não se encaixa em nenhuma prateleira pré-concebida, embora pertença a uma família literária antiga. Por isso, eu o denomino instalação literária, pois este procedimento das artes plásticas talvez seja o que mais se aproxime de uma possível identificação.


Por que você demorou 15 anos para se tornar escritor?
Por ignorância! Eu sabia sobre o que escrever, ou seja, o tema (as agruras da classe média brasileira), mas não sabia como escrever. E sou um formalista – alguém que privilegia a forma. Para mim, a literatura, a literatura de que gosto, como leitor e como escritor, não é aquela que conta uma história, mas aquela que narra uma história. Conteúdo sem forma não me interessa. Assim como forma sem conteúdo também não. O que tenho buscado ao longo de toda a minha trajetória, é o equilíbrio entre forma e conteúdo. Por isso, antes de escrever meu primeiro livro, passei não 15, mas muito mais anos, apenas pesquisando esse equilíbrio.


No Fliaraxá você vai participar da mesa sobre estética das ficções. O que quer dizer, pra você, pensar a estética nas ficções?
É isso, ou seja, a busca do equilíbrio entre forma e conteúdo. E, para mim, isso significa: quando se escolhe um conteúdo, escolhe-se uma forma. Isso significa que estética e política convergem para o mesmo ponto. Para mim, o desafio não é encontrar um tema, mas torná-lo literatura. E só há uma maneira de escrever uma história: a questão é encontrar essa forma.


A que te remete o tema da Fliaraxá deste ano: "Literatura, Leitura e Imaginação"?
Esses são os eixos que alimentam a literatura. A literatura só é possível se existir antes a leitura – tanto para o autor quando para o leitor. E ambos, autor e leitor, literatura e leitura, alimentam e são alimentados pela imaginação. E literatura, leitura e imaginação são emancipadores dos seres humanos. Sem literatura, sem leitura, sem imaginação, estamos destinados à mediocridade, em todos os sentidos, político, econômico, social.


SERVIÇO

O QUE: 8ª Fliaraxá - Festival Literário de Araxá
QUANDO: de 19 a 23 de junho
LOCAL: Tauá Grande Hotel Termas de Araxá (R. Águas do Araxá, s/n – Barreiro)
ENTRADA FRANCA
INFORMAÇÕES E PROGRAMAÇÃO COMPLETA: fliaraxa.com.br
 

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