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15/03/2019 às 08h33min - Atualizada em 15/03/2019 às 08h33min

Musical reverbera a genialidade de Chico

Com Laila Garin e Alejandro Claveaux no elenco o diretor Rafael Gomes apresenta sua versão da produção original encenada há mais de 40 anos

ADREANA OLIVEIRA
Joana (Laira Garin) na produção que requer entrega e cumplicidade | Foto: Elisa Mendes/Divulgação
“Obrigado!”. Foi isso que Rafael Gomes - diretor de “Gota D´Água [a seco]”, que inicia temporada com sessões hoje, amanhã (16) e domingo (17) no teatro Municipal de Uberlândia – ouvir de um emocionado Chico Buarque após a sessão que ele assistiu no Rio de Janeiro. “Todo mundo sabe que o Chico não é de falar muito. Ele chegou no camarim chorando, nos abraçou e me disse esse ‘obrigado’. Eu não precisava de mais nada!”, contou Gomes.

O diretor teve um desafio e tanto ao adaptar a peça original, “Gota D´Água”, da obra de Chico Buarque de Holanda e Paulo Pontes, que estreou há 44 anos com ninguém menos que Bibi Ferreira (1922-2019) como protagonista e um elenco com 20 personagens, agora reduzido a dois, acompanhado por cinco músicos. Por isso, o “a Seco” na nova nomenclatura.

Inspirada em “Medéia”, tragédia grega escrita por Eurípedes, Gomes buscou trazer a trama apresentada na peça original de uma forma a mostrar a política essencial da vida. Aquela que, segundo ele, a maioria das pessoas esquece. O diretor manteve a estrutura da peça e inseriu mais algumas canções de Chico Buarque nos textos, além de trazer Laila para interpretar músicas que não faziam parte da produção original, como “Eu te amo”, “Sem fantasia” e “Cálice”.

“É um desafio gigantesco transformar centenas em apenas dois. Não tem como contar só a história de Joana e Jasão por isso precisamos de um mecanismo para trazer as falas e pontos de vista de outros personagens e colocar na boca desses dois para mostrar o contexto e em que estão inseridos. Ao mesmo tempo, não posso trair a origem de cada um deles. Joana não diria algo que não tem a ver com suas crenças”, contou Gomes.
Ele disse que Laila Garin e Andréa Alves assistiram à sua montagem de “Um bonde chamado desejo” (2015) e o convidaram para participar do projeto. “O projeto é mais dela do que meu e estou muito feliz como resultado. A nova versão da peça é focada em sua natureza política, cruelmente atual, mesmo sendo ‘menos política’ que a versão encenada há mais de 40 anos”, explicou.

Para Laila, o convite a Gomes deu-se por ele trabalhar com um tipo de encenação que não é realista nem naturalista, tudo que ela não queria para o seu projeto. “Percebi como o cenário era parte intrínseca da dramaturgia de cena dele. Por isso, quando ele topou a empreitada conosco disse que só viria com sua equipe, o que foi maravilhoso”, afirmou a atriz e cantora.

Laila comenta ainda que Gomes tem uma sede de linguagem rara nos dias de hoje. “Eu estou sempre falando como a Joana. Um ator que faz vários personagens não é novidade. O mérito está em fazer de Jasão e Joana múltiplos sem o uso de estereótipos”, comentou a atriz que desde os 16 anos sabia que queria o teatro para o resto da vida.

“Agora eu faço um papel que foi da Bibi Ferreira. Infelizmente ela não chegou a assistir nosso musical por conta de seus vários compromissos. Eu ouvi as gravações de Bibi cantando e vi toda a beleza do texto, é impressionante, uma obra prima porque faz com que um texto todo metrificado e rimado soe como algo do nosso cotidiano”, disse Laila.

Para ela, cantar, dançar e atuar é um desafio diário, mas reconfortante para o artista. Premiada por musicais como “Elis – A Musical”, entre outras 19 produções para o teatro, Laila também é atuante na TV, em séries e telenovelas, as mais recentes “3%” (Netflix), no qual vive Marcela.

Outro ponto forte do espetáculo, segundo Laila, é a direção musical de Pedro Luís. “Ele fez um trabalho lindo e o público tem reconhecido isso por onde passamos”, disse a atriz baiana.

MERCADO NO BRASIL

Para o diretor Rafael Gomes, o goiano Alejandro Claveaux também foi fundamental para o sucesso do espetáculo. “Ele é um ator excepcional, de presença muito forte, além de ser versátil para apresentar várias facetas de um mesmo personagem”, disse ele sobre o ator que chega ao teatro em “Gota D´Água [a seco] depois de mais de 20 novelas no currículo desde 2007 e sete filmes.

Gomes, formado em audiovisual e cinema tem neste espetáculo também sua estreia em musicais, uma linguagem que o interessa principalmente no que se refere a produções brasileiras e inéditas. “Não remontar Broadway, eles não precisam de mim e eu não preciso deles”, comentou.

Para ele, o mercado tem respondido bem ao formato principalmente nos últimos 10 anos, claro, em grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo. “Tem melhorado em todos os aspectos. Há mais produções, o que leva a um maior púbico, que aumenta a demanda no mercado por profissionais mais completos. Hoje já temos escolas para musicais e a parte técnica também evolui bastante”, explicou.

Para ele, longas temporadas, até mesmo por uma questão orçamentária, ainda não são muito viáveis no Brasil, porém, a possibilidade de viajar com essas produções em temporadas curtas e chegar a cidades como Uberlândia, única do interior a receber o espetáculo, mostra que há predisposição de patrocinadores que até preferem esse formato. No caso desse projeto, o patrocínio é da BB Seguros e além de Uberlândia passará por Brasília, Goiânia, Curitiba, Vitória e Florianópolis.

O musical foi indicado duas vezes ao Prêmio Shell (Direção musical e figurino) e quatro vezes ao prêmio Cesgranrio (Melhor atriz, direção musical, cenário e figurino), tendo ganhado 13 dos principais prêmios do teatro brasileiro até o momento. A temporada em Uberlândia é parte do projeto Uberlândia na Rota do Teatro.
 
SERVIÇO

O QUE: Musical “Gota D´Água [a seco]”
QUANDO: hoje e amanhã (16) às 20h30 e domingo (17) às 19h30 (sessão com intérprete de libras)
ONDE: Teatro Municipal de Uberlândia (Av. Rondon Pacheco, 7.070, Tibery)
CLASSIFICAÇÃO: 14 anos.
DURAÇÃO: 100 min.
INGRESSOS: a partir de R$ 35, à venda nas lojas Provanza (Center Shopping e Uberlândia Shopping), Lynx Óptca (Av. Getúlio Vargas, 1.655, Tabajaras), na bilheteria do teatro ou pelo megabilheteria.com (com taxa de conveniência)

FICHA TÉCNICA

GOTA D’ÁGUA [A SECO]
De: Chico Buarque e Paulo Pontes
Adaptação e direção: Rafael Gomes
Com Laila Garin e Alejandro Claveaux
Direção Musical: Pedro Luís
Cenografia: André Cortez
Iluminação: Wagner Antônio
Figurinos: Kika Lopes
Direção de Produção: Andréa Alves
Diretor assistente e direção de movimento: Fabrício Licursi
Design de som: Gabriel D’angelo
Preparação e arranjos vocais: Marcelo Rodolfo e Adriana Piccolo
Assistente de direção musical: Antônia Adnet
Assistente de cenografia: Rodrigo Abreu
Coordenação de Produção: Leila Maria Moreno e Vivi Borges

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