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10/03/2019 às 08h00min - Atualizada em 10/03/2019 às 08h00min

Em busca da felicidade

Instituições de ensino oferecem cursos que ensinam a ser feliz. 'A ideia é valorizar o lado positivo das coisas'

FOLHAPRESS
Jeferson Santos, 40 anos, fez curso online de felicidade. | Foto: Rivaldo Gomes/Folhapress
O que é a felicidade? Existiria uma receita ou um mapa de como alcançá-la? E por que algumas pessoas parecem encontrá-la com mais facilidade que outras? Essas são algumas perguntas que surgiram quando me deparei com o anúncio de um curso de felicidade. A proposta parecia bem simples: 12 horas de curso online, gratuito. Após a inscrição, no site do Centro Paula Souza, o acesso é livre. Cada um faz o curso como quiser, no tempo que preferir. Quem procura respostas fáceis ou receita de bolo para ser feliz, no entanto, pode se frustrar.

O curso, que passou a ser oferecido em junho, leva o aluno a refletir não apenas sobre a própria felicidade, mas sobre relacionamentos, bem-estar e equilíbrio. "A ideia é valorizar o lado positivo das coisas, mais do que apenas pensar positivo. Você deve se perguntar: 'O que realmente me faz feliz?'. E a partir daí começar a agir tendo em vista bem-estar, alegria de viver, sucesso", afirma Welington Luís Sachetti, 43 anos, idealizador do curso e coordenador de projetos do Paula Souza. "A vida impõe os mesmos reveses e tragédias para o otimista e para o pessimista, mas os otimistas conseguem enfrentá-los com mais tranquilidade", diz o educador.

As atividades do curso incluem vídeo-aula do professor Tal Ben-Shahar (com legendas), que criou o curso de felicidade em Harvard, artigos e discussões sobre psicologia positiva e até uma entrevista com monja Coen, fundadora da Comunidade Zen Budista no Brasil, na qual ela fala sobre relacionamentos.

Há, ainda, um áudio do filósofo Mario Sérgio Cortella, em que ele comenta a queda do Brasil no ranking mundial de felicidade. O auxiliar de docentes Jeferson Miguel Santos, 40 anos, fez o curso buscando aperfeiçoamento profissional e diz ter aprimorado a forma como vê as situações do dia a dia. "Eu já tinha essa visão de ser mais positivo, de enfrentar os problemas de forma mais positiva. Mas a palestra do Clóvis [Barros Filho] ajudou muito." Jornalista e professor da USP (Universidade de São Paulo), Clóvis Barros Filho discute a necessidade de valorizar o aqui e o agora. Segundo ele, o ser humano busca a felicidade batalhando para chegar a algum lugar que acredita que finalmente o deixará feliz, sem aproveitar o percurso. Em oito meses, 5.700 pessoas se inscreveram no curso online do Centro Paula Souza, e 1.750 já o concluíram.

Universidades americanas foram primeiras a investir

Os cursos de felicidade chegaram ao Brasil em 2018, seguindo tendência de universidades americanas renomadas, como Harvard e Yale -nessa última, o curso leva o nome de "Psicologia e Boa Vida". A UnB (Universidade de Brasília) oferece uma disciplina de felicidade na graduação, restrita aos seus alunos. "A ideia é que não há uma receita ou fórmula mágica. Felicidade é um sentimento, uma emoção, é algo subjetivo. Cada um de nossos alunos é levado a descobrir o que é felicidade para ele", conta o professor Wander Pereira, titular da disciplina, que fez o curso em Yale.

Já o Isae (Instituto Superior de Administração e Economia) da FGV (Fundação Getulio Vargas) oferece a modalidade de curso livre, com foco no profissional. Aberto a qualquer interessado, o programa é presencial, com seis encontros aos finais de semana, mas pede um investimento de R$ 5.800. Na avaliação do educador Gustavo Oliveira, responsável pelo curso do Isae, o discurso das empresas de que "o funcionário feliz produz mais e melhor" é "raso". "Temos que trabalhar a felicidade no âmbito pessoal, e é claro que esse cara feliz vai produzir mais e melhor. Esse é o efeito colateral da felicidade, não o objetivo final."
 
'Eu mudei, desacelerei', diz médico após curso

O médico André Muniz, 44 anos, participou da primeira turma de felicidade do Isae/ FGV e diz que se surpreendeu desde o início. Morador de Fortaleza, ele viajou por seis finais de semana para Curitiba para fazer o curso. "Não era uma sala de aula tradicional, mas de experiências de vida. De pessoas que, em certo momento, decidiram mudar para serem mais felizes." Ele conta que, antes do curso, sofria de estresse e insônia. "Eu venho da medicina tradicional e era difícil aceitar novas terapias, imaginar que meditação dava resultado."
Muniz afirma que os amigos do trabalho perceberam o quanto ele mudou após o curso: "Eu mudei, desacelerei, não quero mais atender o paciente naquela velocidade de antes. Para mim, foi como voltar a ser o médico de Hipócrates [grego que dá nome ao juramento da profissão]. Não ver a doença, mas a pessoa."
O curso teve efeito parecido na vida da designer Júlia Muller Dias, 35 anos. "Eu já tinha meu escritório, dava palestras, mas sentia que podia fazer mais, que algo não estava certo. As pessoas falavam que eu sempre sorria, mas era um esforço", conta. "Eu ignorava coisas da minha essência, e a ideia do curso é entender quem somos."

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