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22/02/2019 às 08h27min - Atualizada em 22/02/2019 às 08h27min

A misteriosa Ruth na pele de Regina Duarte

Espetáculo baseado no texto considerado obra prima do britânico Harold Pinter chega hoje a Uberlândia

ADREANA OLIVEIRA
Foto: Caio Kitade/Divulgação
A temporada teatral de Uberlândia volta a contar com um grande e premiado espetáculo. Chega hoje, para sessões até domingo no Teatro Municipal, Regina Duarte e grande elenco com “Volta ao lar”. Regina, uma das maiores atrizes brasileira, além de atuar também é responsável pela adaptação e direção da peça baseada no texto do autor britânico Harold Pinter. A adaptação brasileira, que já teve como protagonistas Mylla Christie e Alessandra Negrini, segue agora com Regina e lota os teatros por onde passa. Ela contracena com Igor Kovalewski, Rodrigo de Castro, Ivan Bellangero, João Carlos Filho e Maurício Agrela.

Na peça, a família de um pai açougueiro que o autor nos apresenta é espelho de um mundo depauperado em guerras, convulso, desorganizado por crise de valores, doente de falta de tempo, de fé, de incapacidades de afeto. Teddy, primogênito de uma família inglesa que, depois de anos estudando nos Estados Unidos, volta para casa para apresentar a mulher, Ruth (Regina), e os filhos à família, composta só por homens. Misteriosa, a mulher atrai o pai, os irmãos e o tio de Teddy, brutalizados pela vida e pela falta de uma figura feminina, e desestrutura a família. A peça se inspira no conflito bíblico de Caim e Abel e na tragédia “Édipo Rei” para retratar a solidão e o envelhecimento.

A eterna “namoradinha do Brasil”, que tem mais de 50 anos de carreira, fala ao Diário de Uberlândia e afirma que a cidade para ela é sinônimo de “aconchego”.
 
DIÁRIO DE UBERLÂNDIA: Mais de cinco décadas de carreira, muitas histórias contadas e muitas histórias para contar. Quais as principais mudanças que permearam o ofício da atuação desde quando começou?
 
REGINA DUARTE:  Minha carreira começou em 1961 no teatro amador e profissionalizei em 1965. A partir de então venho atuando em teatro, televisão, rádio e cinema.  Naquela época  o País vivia uma ditadura e os capítulos de novela eram obrigados a passar  pelo crivo da censura, só chegava ao público o que o governo permitisse.  Não havia  telefones celulares e quando o Fax surgiu nos vimos  diante de  um evento milagroso. As novelas tinham a duração de 4 meses no máximo, cheguei a participar de três novelas em um ano e os capítulos não duravam no ar mais que 30 minutos . Hoje a concorrência com a TV e com os aparelhos eletrônicos provocou drásticas mudanças no conteúdo e na forma dos produtos culturais e de entretenimento.
 
O que mais te motiva na hora de aceitar um papel?
Que ele tenha características de humanidade que eu não tenha ainda investigado nos meus mais de 50 anos de carreira. Eu  gosto de ter a sensação de que amplio meus horizontes como atriz e como mulher em cada novo trabalho.
 
Como avalia o papel do diretor no aprimoramento do talento dos atores?
O diretor cumpre a função de estimular o ator a buscar em si, sempre com muita sinceridade, tudo que o personagem idealizado pelo autor propõe.
 
Há diferença nas suas dinâmicas de preparação para TV e para o teatro?
A TV (e também o cinema) pedem, a meu ver, maior economia nos recursos de expressão do ator. Já o teatro, em que somos vistos pelo público o tempo todo de corpo inteiro, pede que as intenções provocadas pelas emoções do personagem sejam expressas de forma mais ampla. O teatro precisa permitir que  o espectador das últimas fileiras possam ser contemplados com o melhor do nosso trabalho.
 
Seria possível fazer um Top 5 de suas personagens mais marcantes?
Todas as minhas personagens foram desafios importantes e eu deixo sempre a escolha das mais/mais  para o público que vem acompanhando meu trabalho. Ritinha? Chiquinha Gonzaga? Porcina? Malú? Clô Hayala? As Helenas? São mulheres tão diferentes quanto incomparáveis.
 
O que mais lhe atraiu no texto de “Volta ao Lar”?
A contemporaneidade deste texto escrito no final dos anos 60 é impressionante. A peça permanece representativa das relações de uma família vivendo num País em recessão pós-guerra com todas as carências que isso implica, inclusive no campo da afetividade. Os homens são brutais e a figura feminina surge com ambiguidades que ainda hoje podem ser vistas. Ruth ao mesmo tempo que mostra uma independência típica dos dias de hoje parece aceitar a autoridade do mundo masculino.
 
Você esteve em Uberlândia, há cerca de 40 anos. Tem alguma recordação da cidade?
As recordações que eu tenho dessa passagem por Uberlândia são de um acolhimento  carinhoso por parte dos produtores que me levaram e do público que lotou o teatro. A minha expectativa agora é que eu volte a me sentir “em casa” como naquela ocasião.

Você apoia publicamente o presidente Jair Bolsonaro, indo na contramão, pelo menos no que percebemos, da classe artística. Se importaria de falar sobre a Lei Rouanet, ponto de discussão entre governo e artistas? Para você, o que ela representa?
Sou totalmente a favor da Lei Rouanet e reconheço que ela precisa de ajustes para contemplar com mais justiça o patrocinador primeiro de todo Evento Cultural que se faz no país, ou seja, o cidadão que paga impostos. A discussão do momento gira em torno de quanto este cidadão trabalhador tem sido beneficiado com os bens culturais que ele contribui para que sejam produzidos. O Ministério da Cultura tem atualmente a missão inadiável de promover maior circulação e distribuição desses bens. Segundo dados do Fórum Brasileiro Pelos Direitos Culturais de 2016, a renúncia fiscal que o governo confere à Rouanet é de 0,48% (R$1,3 bilhão) do total dos R$ 271 bilhões aplicados em Incentivos fiscais no Brasil. A Lei do Audiovisual e a Rouanet são indispensáveis, porque não temos ainda maturidade cultural para sobreviver criando Arte sem o apoio deste importante Incentivo à Cultura.
 
SERVIÇO
O QUE: Espetáculo teatral “Volta ao lar”
QUANDO: hoje e amanhã às 20h30 e domingo às 19h
ONDE: Teatro Municipal
INGRESSOS: R$ 120 (inteira)R$ 60 (meia-entrada) à venda na Lynx Óptica (Av. Getúlio Vargas, 1.655), na bilheteria do teatro ou pelo megabilheteria.com (com taxa de conveniência)
CLASSIFICAÇÃO: 14 anos
DURAÇÃO: 80 min
INF.: 3235-1568
 
FICHA TÉCNICA
Dramaturgia: Harold Pinter
Adaptação e direção:
Regina Duarte
Elenco: Regina Duarte (Ruth), Igor Kovalewski (Max), Ivan Bellangero (Sam), João Carlos Filho (Joey), Maurício Agrela (Teddy) e Rodrigo de Castro (Lenny)
Cenografia: J.C Serroni
Figurino: Fabio Namatame
Iluminação: Wagner Pinto
Trilha Sonora: criação de Ismael Sendenski
Designer Gráfico: Carlos Rodrigues
Fotografia: Caio Kitade
Direção de Produção: Raquel Hirsch
Assistente de Produção: Mariana de Souza
Produção local: Carlos Guimarães Coelho -
Uberlândia na Rota do Teatro

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