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16/12/2018 às 07h30min - Atualizada em 16/12/2018 às 07h30min

Só há espaço para o extraordinário

CCXP consolida-se como maior evento de cultura pop do mundo e ganha versão alemã em 2019

ADREANA OLIVEIRA
O São Paulo Expo é um complexo gigantesco. De longe, parecido com grandes caixas de concreto que não seriam nada atrativas se não fosse o palco do maior evento de cultura pop do mundo: a Comic Con Experience (CCXP) que teve sua 5a edição entre os dias 6 e 9 de dezembro com um público total de 262 mil pessoas. As estruturas de concreto transformam-se em caixas de surpresas extraordinárias que surgem a cada dez passos dentro do complexo onde só há espaço para o extraordinário. Se você perdeu a edição deste ano, pode se programar para 2019, quando a CCXP acontecerá de 5 a 8 de dezembro.
 
A aventura pode começar bem longe dali. Para o Diário de Uberlândia, em sua primeira cobertura da CCXP, começou em Pinheiros, mas alguns dos nossos interlocutores saíram dos estados da Paraíba, Acre, Rio de Janeiro, Paraná, Goiás, entre outros. A estação de metrô mais próxima é a Jabaquara. A opção dali até a São Paulo Expo era ir de ônibus (disponibilizado gratuitamente pelo evento), pegar táxi ou Uber, carona, ou uma caminhada de dez minutos. Para quem escolhia ir a pé não havia risco de se perder: era seguir o fluxo, ou um personagem que podia ser Deadpool, passando por inúmeras figuras de “Game of Thrones”, “A Casa de Papel” e das sagas Star Wars e Harry Potter.
 
Não é por acaso que a CCXP não é conhecida pela alcunha de Comic Con brasileira. Os quadrinhos ganharam companhia: filmes, séries, games… E a experiência é, de fato, levada a sério em todos os momentos. Para Pierre Mantovani, CEO da Omelete Company, realizadora do evento, esse é um sonho que eles jamais imaginaram. “Nem era essa a meta. Começamos isso de fã para fã. No Omelete todo mundo é nerd pra caramba e isso transborda com muita transparência para as pessoas”, comentou.

Cada ano tem que ser melhor que o outro. Em 2018, por exemplo, o número de estandes foi um pouco menor, contabilizando 103, porém, todos realizando experiências fantásticas para os fãs. “Marcas que não têm algo realmente bom para trazer para o fã não entra. A gente aprendeu a fazer uma boa conexão entre cultura, marcas e entretenimento o que fizemos aqui é único no mundo, por isso crescemos tanto”, disse Pierre, que anunciou a CCXP Alemanha para junho de 2019. “Será em Colônia e eles poderiam ter escolhido qualquer outro evento americano, mas escolheram a gente”.

A Warner trouxe os agendamentos para suas experiências via internet, dessa forma a pessoa não precisava perder tempo na fila para desfrutar de dois minutos na piscina de bolinhas onde Sheldon Cooper tornou clássica a “Bazinga” em “The Big Bang Theory”. A distribuição das pulseiras da HBO para a experiência Game of Thrones também distribuiu as concorridas pulseiras na abertura dos portões, geralmente se esgotavam em, no máximo duas horas. Além das experiências, todas as marcas reservavam também um espaço para fotos, para os quais as filas eram muito mais rápidas.
 
Tudo acontece em corredores largos, bom para o fluxo das pessoas, inclusive aquelas com dificuldade de locomoção. Acessibilidade é primordial num evento desse porte e ali percebemos respeito à pessoa com deficiência em todos os setores.

As credenciais dos participantes da CCXP são a chave para a produção saber o que eles fazem e o que eles querem. Os dados fornecidos são estudados e muito bem usados. Neste ano, por exemplo, as mulheres foram 45% do público e o ticket médio de gastos foi de R$ 300 por pessoa.Empreendedor digital desde 1988, já com o Omelete em 2011, Pierre resolveu comprou o risco estratégico de ir para outras áreas quando a receita digital começou a cair.

Para ele, uma grande frustração foi não ter Stan Lee no evento. Ele faleceu neste ano. “Tentei desde o início mas ele não tinha condições de pegar um avião. Mas acredito que a CCXP não é sucesso por ter uma pessoa em específico. O conteúdo se renova muito rapidamente hoje em dia e o público vai nos direcionar para o que quer”.

E o mais importante: a CCXP favorece acima de tudo o diálogo entre as pessoas. Seja qual for o perfil, eles conversam entre si, trocam experiências, e, quem sabe, encontram até novos melhores amigos.

AUDITÓRITOS
“Foi o borrão mais lindo que já vi”, diz fã de Tom Welling


CCXP/I HATE FLASH
Painel da DC Comics domingo no auditório Cinemark XD, com 3,3 mil lugares, lotou às 10h


Vivien Augusto Laranjo tem 16 anos. Não era nem nascida quando “Smallville” começou a ser produzida. Isso não impediu que conhecesse a série protagonizada por Tom Welling (Clark Kent/Superboy) e às 4h20 da manhã de sexta-feira ela já estava na fila para ver o painel com Tom que seria às 14h. Pegou uma pulseira perto do número 300 e relatou que por alguma confusão na abertura dos portões viu pessoas com número 500 entrarem antes dos 20 primeiros da fila. “Não acho justo, faltou organização. Mas tudo bem, aqui sei que superamos muitas barreiras físicas e psicológicas e valeu a pena ter visto o Tom”, disse ela.

A carioca abriu mão do celular quando o astro entrou no auditório do Cinemark XD. “Chorei muito, acho que só vi um borrão, o borrão mais lindo que já vi. Ele é um homem maravilhosos e supersimpático”, comentou ela enquanto esperava a passagem dele pela área de fotos oficiais do evento, antes da entrevista de Tom para o Omelete.
 
Ao seu lado, Thayne, de 28 anos, chorou por não conseguir entrar no auditório mesmo chegando duas horas e meia antes. “O painel do ‘Aquaman’ é às 18h e os fãs já estão lá dentro”, comentou ela, que ficou feliz ao receber um sorriso de Tom antes da entrada dele no estúdio.
 
Com 55 celebridades de Hollywood, com nomes como o homenageado Chris Columbus, diretor do clássico “Goonies!”, e mais de 150 brasileiras a CCXP não deve mudar o formato de acesso aos auditórios, que segue o padrão mundial. Segundo Pierre Mantovani, “get early, have fun” (chegue cedo e divirta-se em tradução livre). “Demoraria muito para esvaziar os auditórios entre um painel e outro, reduziria as atrações pela metade. Escolhemos seguir a tradição nesse caso”, disse.

E valeu a pena para quem madrugou porque além das atrações já programadas como Sebastian Stan ( “Soldado Invernal”), o simpático Zachary Levi, astro de “Shazam!” e Brie Larson, estrela de “Capitã Marvel”, o auditório recebeu, de surpresa, Tessa Thompson (“MIB”), Tom Holland (o novo Homem Aranha), Jake Gyllenhaal e Jacob Batalon no painel da Sony. Eles falaram do novo filme, “Homem Aranha - Longe de Casa”. Quem estava lá viu o trailer em primeiríssima mão. Outra surpresa, no painel da Netflix de “The Umbrella Academy” foi a presença praticamente todo o elenco, inclusive a atriz Ellen Paige. A série, que estreia em fevereiro do ano que vem, promete.

Andy Serkis, o Gollum, de “O Senhor dos Anéis”, falou da sua estreia na direção com “Mógli - Entre dois mundos”, já disponível na plataforma de streaming e disse estar muito feliz por ter seu filme em 160 países de uma só vez, elogiando ainda a forma como a Netflix dá liberdade a seus diretores.

No painel de “Game of Thrones”, Maisie Williams (Aria) e John Bradley-West  (Sam) fizeram uma rodada de perguntas e respostas com seus diretores, bastante descontraída. Todos afirmaram estar encantados com a receptividade do público brasileiro, que segundo eles, supera qualquer evento do gênero no planeta.

BRASIL
Salve Maurício de Sousa, a Turma da Mônica e a produção nacional
 
Na CCXP santo de casa não faz só milagre. Se desdobram em sucessos que vão além dos quadrinhos. Que o diga Mauricio de Sousa. O chargista brasileiro, criador da Turma da Mônica é um sucesso arrebatador. Na CCXP 2018 ele e sua equipe falaram de “Turma da Mônica - Laços”, filme que será lançado em junho de 2019, com direito a presença do elenco. Maurício foi uma presença constante nos estandes da Turma da Mônica, sessões de autógrafos. E o público soube reconhecer a riqueza que temos.
 
Mas o Brasil tem outros talentos, alguns, trabalhando também fora do País, como o quadrinista paulistano Gabriel Bá, que participou do painel de “The Umbrella Academy”, da Netflix, junto com o elenco e o criador do quadrinho que deu origem à série, o músico Gerard Way (My Chemical Romance), ilustrada por Bá.
Rodrigo Teixeira, produtor, da RT Features, responsável por sucessos como “Me chame pelo seu nome”, aos poucos vai conquistando cada vez mais respeito em Hollywood. Em seu painel, que contou com a participação de Chris Columbus, falou sobre as dificuldades dos primeiros anos no mercado internacional.

Agora, em produção de uma nova ficção protagonizada por Brad Pitt, entre outros projetos, ele afirma: “não é porque estou produzindo fora do Brasil que não represento o meu país. Se eu ganhar um prêmio não vai ser para o país onde estou produzindo, será para o Brasil”.

Sobre o astro norte-americano, ex-marido de Angelina Jolie, ele foi só elogios. “Nunca vi pessoa tão gentil com a produção. Ele chega a contratar food trucks para toda a equipe!, contou.
 
No painel de “Ilha de Ferro” (Globo | Globoplay), atores e diretor falaram da importância de se ter uma estrutura de cinema para a produção da série, e revelaram detalhes de bastidores.
 
LADY BUG
 

O criador da série infantil "Lady Bug",  Jeremy Zag | Foto: Adreana Oliveira

No Creators Stage muitos bate-papos bacana, como com o que rolou com Jeremy Zag, criador da série “Miraculous - As aventuras de Lady Bug”. O bem-sucedido desenho infanto-juvenil é sucesso no mundo, e o Brasil não fica de fora. Zac anunciou um musical de US$ 80 milhões e um filme com atores reais, de peso. Sobre a atração, com tramas mais adolescentes, atrair tanto as crianças, Zag tem uma resposta. “Primeiramente, Lady Bug é muito colorida e os valores são todos positivos. É uma série que tem muito amor. Tem super herói e meninas mágicas, transformação, ação e tudo mais”, disse.
 
O público infantil, inclusive bebês, são uma atração à parte na CCXP, apesar de a convenção ter pessoas de todas as idades.
 
ESPAÇO DEMOCRÁTICO
Artist´s Alley conta com a presença de quatro uberlandenses


Foto: Andrade - I Hate flash/Divulgação

 
A CCXP 2018 foi marcada também pelos 80 anos do Superman, lembrado em vários painéis e também na Artist´s Alley, área de quadrinistas que reuniu 530 feras, entre elas, John Romita Jr., talento e simpatia em pessoa, e logo ali quatro quadrinistas de Uberlândia, você reconheceria facilmente a praça Tubal Vilela na capa de “O despertar de Zé Fogueira”, de Rainer Petter, que além desse quadrinho levou ainda coletâneas e “Quem matou Caixeta”. A primeira fala sobre um morador de rua de Uberlândia e a segunda da morte de morte de um youtuber polêmico numa trama que envolve discurso de ódio, intolerância e preconceito. “Mesmo não estando na lista dos mais famosos muita gente tem nos procurado aqui”, disse Rainer.
 
Para ele, vale a pena participar da CCXP. Na primeira vez, em 2016, estava ao lado de Dudu Torres, que também voltou pela segunda vez neste ano com “Raiz”, sobre um garotinho de seis anos que tem que lidar com a morte pela primeira vez. “A história é toda ambientada em Uberlândia”, contou.

Os mangás de Max Andrade também chamaram a atenção. Ele vê na CCXP novas oportunidades. “Tem muito gringo bom, mas muitos brasileiros ótimos também, devo conhecer pelo menos uns 200”, disse.

Habituè da Feira Internacional de Quadrinhos (FIQ) de Belo Horizonte (MG), Alexandre Carvalho esteve na primeira vez pela CCXP e ficou surpreso com a estrutura. “Reúne diferentes culturas e até quem não veio procurando quadrinhos acaba achando a gente aqui e nesse espaço você tem o quadrinho brasileiro de verdade”.

ROMITA
 
A master class de John Romita Jr., desenhista que fez carreira na Marvel e DC Comics com personagens que vão de Superman a Batman foi marcada por bom humor. Aos 63 anos de idade Jr. esbanja boa forma. “Dormir é superestimado, dormir para que?”, brinca ele ao falar da rotina de trabalho que chega a 12 horas de segunda a sexta-feira e seis horas aos finais de semana. “Mas já cansei de trabalhar por mais de 30 horas direto. Qual é o meu estilo? Deadline”.
 
“Faço isso porque preciso, tenho minha hipoteca para pagar, pode ter um pouco de ganância aí (risos) mas na verdade eu amo o que eu faço. Cresci durante a depressão nos Estados Unidos, fase em que ninguém tinha dinheiro. Vi meu pai (Jonh Romita Sr, também desenhista) trabalhar por horas a fio e hoje meu filho, que está terminando a faculdade, tem o mesmo exemplo”, disse ele, adepto a rotinas de exercício desde a juventude.

Os desenhistas e ilustradores na plateia puderam conferir como Romita Jr. divide suas páginas e um pouco do seu processo de criação. E começou com uma curiosidade. “Vocês verão que não seguro o lápis de forma convencional. Quebrei o pulso (direito) há muitos anos”, explicou ele que mesmo assim, supera-se a cada novo trabalho sempre pautado pela disciplina.
 
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