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13/12/2018 às 09h02min - Atualizada em 13/12/2018 às 09h02min

Morre 5ª vítima de ataque a tiros

Idoso de 84 anos estava internado e não resistiu; primeiros sepultamentos ocorreram na manhã de ontem

FOLHAPRESS
Morreu o idoso de 84 anos que estava internado em estado grave após ser alvejado no ataque a tiros na Catedral de Campinas, na terça-feira (11). Ele faleceu no início da tarde de ontem, às 13h25. A informação é da Prefeitura do município do interior paulista. No boletim da Prefeitura das 12h45, o estado de saúde de Heleno Severo Alves era apontado como grave. Ele tinha passado por cirurgia ainda na terça.

A outra pessoa atingida pelo atirador que estava internada, Jandira Prado Monteiro, 65, teve alta. Ela é mãe de uma das vítimas, Sidnei. Com a morte de Heleno, o número de vítimas sobe de 4 para 5 homens -6 com o atirador, que cometeu suicídio após ser atingido pela Polícia Militar.

VÍTIMAS

Atingidos pelo atirador, José Eudes Gonzaga Ferreira, 68, Eupidio Alves Coutinho, 67, Sidnei Vitor Monteiro, 39, e Cristofer Gonçalves dos Santos, 38, não resistiram aos ferimentos e morreram no local. Outras quatro pessoas foram baleadas e socorridas pelos bombeiros e pelos médicos do Samu. Silvio Antônio Monteiro, 47, deixou a mãe Jandira Prado Monteiro, 62, dona de casa, no ponto de ônibus e ela seguiu para o centro de Campinas onde se encontraria com o filho Sidnei para irem ao dentista juntos. Ambos combinaram de se encontrar na catedral.  Mãe e filho moravam em Hortolândia.

"Eu não consigo acreditar no que aconteceu. Hoje é meu aniversário e olhem o presente que ganhei", disse. A mãe precisou operar a mão e a clavícula. Passa bem mas não sabe que o filho morreu. "Dissemos a ela que ele está bem cuidado. Eles eram muito próximos, não sei como vai ser".

Sidnei era eletricista na Unicamp, casado e tinha uma enteada. Era o caçula de três filhos de dona Jandira e seu Milton Candido Monteiro, 71, que também trabalha na Unicamp. O irmão soube da tragédia quando recebeu ligações do hospital no celular, mas como estava trabalhando não conseguiu atender. Mais tarde foi contatado de novo e levado para o hospital
.
"Era o caçula querido. E uma mulher que só sai para ir à Igreja e ao dentista acontecer uma coisa dessas? Meu Deus", diz ele, casado há 50 anos. Silvio estava no trabalho quando, por volta das 14h30, recebeu ligações do hospital contando que a mãe e o irmão foram vitimados. "Aí veio o aperto", afirma. "Ela [mãe] fala dez vezes por hora no nome dele [Sidnei]. A gente diz que está bem, não sabemos como contar. A família está destruída."

José Eudes Gonzaga Ferreira, 68, estava na missa com a mulher, Maria de Fátima. Ela tomou um tiro na coxa e passa bem. Ele morreu na hora. "Eles são muito devotos, vivem na missa", conta o filho, Douglas Ferreira, 38. A família foi ao IML do cemitério dos Amarais para reconhecer o corpo, mas deixou o local ao serem avisados pela polícia de que o procedimento não era necessário. O mesmo ocorreu com um filho e sobrinhos de Eupidio Coutinho, 67.

A empregada doméstica Edna Rodrigues, 58, soube do atentado quando viu a notícia na TV, no trabalho. "Fiquei apavorada. Minha irmã não sai da igreja", disse ela, sobre a irmã, Lourdes, 78. Recebeu ligações da família dizendo que a irmã estaria morta e correu para o IML do cemitério dos Amarais. "Eu vim para cá, outro foi para outro cemitério, outro foi para o hospital. Ficamos desesperados", conta.

No IML, soube que a irmã estava no hospital, em bom estado de saúde, que havia sido atingida de raspão e não precisaria ser operada. "Graças a deus, que alívio. Mas não vou sair daqui. Quero ver a cara dele [atirador]. O que ele fez não se faz."

SEPULTAMENTOS

Treze pessoas acompanharam, em um cortejo silencioso, o enterro do garçom Cristofer Gonçalves dos Santos, 38, o primeiro dos quatro mortos na catedral de Campinas. Sem condições financeiras, a mãe e a irmã de Cristofer, que vivem no interior de Santa Catarina, não participaram do sepultamento. O rapaz foi velado pelo primo Christian dos Santos, que o levou a Campinas há mais de 15 anos. O enterro aconteceu por volta das 13h30 no cemitério dos Amarais. "A gente entra na igreja para buscar acalento, segurança. Não para buscar morto", desabafa a professora Fernanda Ribeiro, mulher de Christian.

Ao mesmo tempo, no cemitério Parque das Flores, acontecia o enterro de Sidnei Vitor Monteiro, 39. Sua mãe, Jandira Prado Nogueira, 65, foi ferida durante o ataque. Ela recebeu alta ontem e acompanhou o sepultamento do filho de dentro de uma ambulância. "Vai com Deus, meu filho", afirmou, enquanto o longo cortejo com familiares, amigos e colegas do trabalho passava com o caixão.

O pai de Sidney, Milton Candido Monteiro, após salvas de palmas e orações, disse que não desejava que ninguém passasse, como ele, pela perda de um filho. O
irmão, Silvio Monteiro, emocionado após a descida do caixão, despediu-se de Sidney e colocou no túmulo a bandeira do Corinthians, que acompanhou todo
cortejo em cima do caixão. Ao final, mais uma salva de palmas.

MISSA
Catedral tenta retomar rotina após tragédia

 
Lentamente, a Catedral Metropolitana de Campinas retoma a rotina de atividades após o atentado de terça-feira (11) - quando um atirador matou quatro pessoas dentro do templo e depois tirou a própria vida. A missa de ontem, em homenagem às vítimas, foi celebrada no mesmo horário do ataque. “Sabemos que vocês, familiares, choram e nós choramos também”, disse o padre Rafael Capelato durante a cerimônia.

“Tristeza” e “tragédia” eram palavras ouvidas com frequência nos comentários dos fiéis que lotaram a igreja. A história da catedral, inaugurada em 1883, com piso e altares de madeira foi lembrada. “Fizemos esse gesto de reconsagração do templo que foi violado por um ato tão violento e trágico”, disse.
 
EULER GRANDOLPHO
Parentes pedem “misericórdia de Deus” a atirador

 
Em uma cerimônia reservada, cerca de 50 familiares e amigos acompanharam o velório e enterro de Euler Fernando Grandolpho, 49, entre pedidos de "infinita misericórdia de Deus", cantos e rezas católicas, ontem, um dia após ele matar cinco pessoas e depois se matar na catedral de Campinas -a 5 km do Cemitério Parque Flamboyant.

Durante a reza, o padre Antônio Geraldo, da paróquia Cura D'Ars -frequentada pelo pai de Euler- evitou falar sobre o crime, mas usou passagens de Bíblia para enfatizar o perdão dos pecados e a fragilidade humana.

"Se formos nos deter apenas para o fato acontecido ontem, nós mergulhamos na mais completa desesperança. Na angústia, na dor, e até nas sombras da morte", disse ao lado do pai, Eder Grandolpho, que, muito abalado, se limitou a agradecer por duas vezes a presença dos que foram ao enterro. "Perdoai senhor todos os pecados e acolhei sua alma, levando à presença do Altíssimo", pediu o religioso, antes de convocar os presentes a fazer um coro de "Jesus é Nosso Pastor" e "Segura na Mão de Deus". Seguidas das rezas do Pai Nosso e Ave Maria.

Os brados, ditos inclusive no momento do sepultamento, se alternavam com o silêncio absoluto -ainda em choque, os parentes evitavam comentar as circunstâncias da morte. A cerimônia foi fechada à imprensa e a segurança na porta do cemitério foi reforçada. Euler não era católico, não frequentava a igreja e se suicidou, atitude vista como pecado pela religião cristã. O padre, porém, disse que Deus perdoa a todos e que o caso remete à "complexidade da natureza humana, da psicologia humana".

De acordo com uma amiga de infância, que preferiu não se identificar, há cerca de quatro anos Euler ouvia vozes, tinha alucinações, e foi diagnosticado com esquizofrenia, além da depressão que enfrentava. Por isso, teria surtado e entrado disparando na catedral, segundo ela. "Com certeza [Deus] não se esconde num coração marcado pelo pecado, porque esse não era o coração de Euler. Tenho certeza que a misericórdia de Deus já alcançou esse filho", afirmou durante a cerimônia, após o sepultamento às 14h.
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