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12/12/2018 às 07h42min - Atualizada em 12/12/2018 às 07h42min

Jornalismo é escolhido Pessoa do Ano pela Time

Saudita morto, repórteres investigativos e jornal atacado foram os destaques

FOLHAPRESS
Jamal Khashoggi foi morto ao entrar no consulado da Arábia Saudita em Istambul em outubro | Foto: Divulgação
Em um ano em que a liberdade de imprensa esteve sob os holofotes não só em regimes autoritários, mas em democracias como os Estados Unidos, o jornalismo foi escolhido como Pessoa do Ano pela revista americana Time. Foram quatro exemplos que serviram como um recado da publicação sobre a importância de incentivar o jornalismo investigativo, em um mundo em que todas as notícias negativas sobre governos e autoridades são tachadas de "fake news". O grupo recebeu o nome de "Os guardiães e a guerra pela verdade".

A distinção foi dada ao jornalista saudita Jamal Khashoggi, morto ao entrar no consulado da Arábia Saudita em Istambul em outubro, em um crime que a CIA (agência de inteligência dos EUA) acredita que teve como objetivo silenciar o repórter, crítico ao regime saudita. "É a primeira vez que escolhemos alguém que não está mais vivo como Pessoa do Ano, mas é também muito raro que a influência de uma pessoa cresça tão imensamente após a morte", afirmou Edward Felsenthal, editor-executivo da Time.

A Pessoa do Ano também foi Maria Ressa, editora do site de notícias filipino Rappler, que faz cobertura crítica das políticas violentas e controversas do presidente Rodrigo Duterte. Wa Lone e Kyaw Soe Oo, repórteres da agência Reuters que foram presos em Mianmar ao investigar um massacre contra a minoria muçulmana rohingya, também estão no grupo.

Mais de 25 mil rohingya já morreram desde o início da atual onda de ataques protagonizados por militares do país, de maioria budista. Os atos tiveram início em agosto de 2017, e, deste então, cerca de 700 mil tiveram que fugir do país. Por fim, o jornal Capital Gazette, de Annapolis (a 50 km de Washington). Em junho, um atirador abriu fogo na Redação, matando quatro repórteres e um assistente de vendas.

O atirador foi detido e queria "vingança" contra o veículo, segundo policiais. Ele se chama Jarrod Ramos, 38, e processou a publicação em 2012 por causa de um artigo sobre um processo de assédio contra ele. Nem o colunista, nem o editor da história sobre o caso trabalham mais na Gazette. "Conforme olhamos para as escolhas, ficou claro que manipulação e abuso da verdade são realmente o fio condutor em muitas das grandes histórias deste ano", complementou Felsenthal, da Time.

Ao explicar a decisão, ele escreveu que os quatro repórteres e o jornal são representantes de "uma luta ampla de tantos outros no mundo - até 10 de dezembro, ao menos 52 jornalistas haviam sido assassinados em 2018 – que arriscam tudo para contar a história dos nossos tempos." No Brasil, a repórter Patrícia Campos Mello, da Folha de S.Paulo, foi citada como exemplo de jornalista perseguida pelo trabalho investigativo. Ela se tornou alvo de ameaças por causa da reportagem que apontou o pagamento feito por empresas para financiar mensagens falsas no WhatsApp contra Fernando Haddad (PT) e a favor do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).

A segunda colocação ficou com o presidente Donald Trump, enquanto o terceiro lugar foi do procurador especial Robert Mueller, que investiga uma possível interferência russa nas eleições presidenciais de 2016. Na sequência apareceram os estudantes que lideraram as manifestações a favor do controle do porte de armas nos EUA (em quarto); o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in (quinto); o cineasta Ryan Coogler, diretor de "Pantera Negra" (sexto) e Meghan Markle, atriz que casou com o príncipe britânico Harry (sétimo).

Também tinham sido indicadas as famílias de imigrantes separadas na fronteira americana, um simbolismo contra as medidas duras adotadas pela administração Trump contra a imigração ilegal; o presidente russo, Vladimir Putin, e Christine Blasey Ford, a professora que acusou o juiz Brett Kavanaugh de assédio sexual - todos estes, porém, ficaram sem posição na lista.

A revista faz a distinção de Pessoa do Ano desde 1927. No ano passado, o prêmio foi dado ao movimento contra assédio simbolizado pela hashtag #MeToo (eu também, em português), que inicialmente foi usado por milhares de mulheres nas redes sociais para denunciar casos de abusos pelos quais tinham passado.
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