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22/10/2018 às 11h24min - Atualizada em 22/10/2018 às 11h24min

Brasileiro se endivida por luxo

Pesquisa da MindMiners mostra que muitos se sentem melhor quando pagam mais caro

FOLHAPRESS
Gucci é a campeã de compras entre entrevistados de classes A e B | Foto: Divulgação
Quando se trata do luxo, o Brasil é um caso à parte no mercado mundial. Tão à parte que seus hábitos incluem se endividar para conquistar um item, sentir-se melhor quando paga mais e, surpreendentemente, não reconhecer nenhuma marca nacional de roupas no segmento. É o que mostra uma pesquisa da MindMiners, especializada em varejo, que, a partir de uma amostra de mil brasileiros das classes A e B, produziu um estudo abrangente sobre esse mercado, ainda uma incógnita para marcas internacionais fincadas no País.

Riqueza (59%), sofisticação (52%) e status (46%) foram as três palavras mais citadas quando se questionou o significado do luxo, que para a maioria tem a ver com um carro Ferrari (91%), um relógio Rolex (67%) e uma poltrona de avião na primeira classe (62%). Dos entrevistados, 57% afirmam já ter parcelado suas compras de luxo, 33% sentem mais prazer se ele é caro e 13% dizem ter contraído dívidas para "ter acesso ao que a maioria não tem", frase citada como definidora do luxo.

Quando questionados sobre se conhecem alguém que se endividou pelos caprichos, 60% disseram que sim. "É um indicativo de que mais da metade já se endividou por luxo, porque, em pesquisas, quando se pergunta sobre o outro, geralmente a pessoa fala sobre si", diz Danielle Almeida, responsável pelo estudo. Uma das surpresas, para ela, foi a desmistificação da ideia de que uma marca impressa na peça, seja o logo, seja o nome da grife, importa. Apenas 32% concordam que esse detalhe influencia na compra.

O Brasil, porém, não se aceita. Nenhuma marca de moda nacional foi citada como luxo. Do País, apenas as joalherias H.Stern e Vivara foram lembradas. "Não conseguimos ainda imprimir uma imagem de alto padrão", diz Danielle. As grifes preferidas são Rolex (17%), Chanel (11%) e Gucci (10%), sendo a última campeã de compras, com 32% dos entrevistados. Os preços da grife de relógios, mais altos que os de roupas e acessórios, colocam a Rolex como principal sonho de consumo no vestuário.

Curiosamente, são poucas as grifes citadas no estudo que atingem uma camada de consumidores de perfil exclusivo. A reportagem ouviu executivos de grandes empresas, incluídos na classe AAA, para detalhar seu perfil de consumo. Burberry, Gucci, Cartier e Rolex foram citadas em ambos os casos, mas Montblanc, Hugo Boss, Tag Heuer, Ermenegildo Zegna e Tod's, grifes consumidas por executivos, ou não aparecem ou estão nos últimos lugares da pesquisa. De perfil mais sóbrio e vinculada a um luxo mais discreto, para usar no ambiente profissional, as etiquetas são citadas como clássicos duráveis.

"É uma questão de identificar onde você trabalha, se está numa indústria, num escritório. Temos que passar credibilidade", diz Julia Boch, CFO da Porsche Brasil, que cita Gucci, Hugo Boss e Rolex entre suas últimas compras. Presidente da distribuidora Akron, Nelo Marraccini cita Hermès, Cartier, Tod's, Zegna e Prada como algumas de suas joias pessoais, ao lado de carros Porsche e Ferrari. "Não acho interessante comprar para mostrar status. O luxo se identifica pela artesanalidade e pela entrega de bem-estar, não pela ideia de um catálogo de 'free shop', com marcas enormes grudadas na roupa", afirma Marraccini.

As grifes preferidas dos brasileiros
Rolex (17%)
Chanel (11%)
Gucci (10%)
 
MERCADO MASCULINO
Gravata Hermès usa seda brasileira e esconde segredos



Gravata Hermès é praticamente toda feita a mão e tem modelagem gravada a laser | Foto: Divulgação

Acessório vinculado ao universo do poder, a gravata resiste em meio ao limpa que os homens promoveram no guarda-roupa de trabalho, menos formal e mais aberto a cores e formas. É em Lyon, no sul da França, onde são produzidas algumas das gravatas mais exclusivas e artesanais do mundo, as da grife francesa Hermès. O processo de confecção começa no Brasil, de onde parte o fio de seda usado nas peças e nos carrés (lenços) da marca. Considerado o melhor produtor dessa matéria-prima no mundo, o estado do Paraná concentra as fazendas do bicho-da-seda. Quando chegam a Lyon, a 392 km de Paris, os fios viram tecido plano que segue para máquinas onde, a partir de um desenho feito à mão pelos artesãos do ateliê, tem a modelagem gravada a laser.

Todo o processo é supervisionado por especialistas que acompanham a dosagem certa de tinta nessas máquinas, uma das poucas partes em que a mão do homem não atua diretamente na peça. Após modelada e cortada, a base parte diretamente para uma sala silenciosa, onde costureiras a alinhavam. Aqui reside um dos segredos da durabilidade dessas peças. Como as linhas dançam nas mãos de uma única pessoa para cada produto, o controle de qualidade é maior. A costura é desfeita se houver um centímetro fora do lugar e cada peça tem as iniciais da artesã gravada por dentro - controle que também é aplicado na produção dos lenços de seda. Para reconhecer uma autêntica gravata Hermès, o comprador tem de olhar o seu avesso e puxar uma linha que sai do interior. Se a peça se dobrar com o movimento, é porque é verdadeira. É uma marca registrada da etiqueta que, seus artesãos dizem, foi copiada pela concorrência.

SUPER-RICOS
Joalheria quer competir com obras de arte

Arte usável: anel da H.Stern que faz parte da coleção Oscar Niemeyer | Foto: Divulgação

Desde 2010 a joalheria atravessa um período de ebulição criativa. De um lado, designers e marcas acompanham os movimentos da moda, com joias acessíveis e produção automatizada. Do outro, a alta joalheria funde pedras em peças com valor de arte, com o intuito de abocanhar uma clientela abastada. A ideia de mundo distante ficou para trás e, agora, assume possibilidades de se desdobrar em série e sair do pedestal. Foi nesse panorama que o Brasil se revelou um celeiro de novos designers e pequenas grifes de apelo mundial.

Dona de uma multimarcas homônima focada em joias, Beatriz Werebe começou seu negócio reunindo no Instagram designers internacionais com olhar para a moda. Ao ensinar combinações de uso com peças de diferentes valores, das centenas aos milhares de reais, a empresária criou um modo próprio de gerar vendas. "Minhas clientes mudam a roupa de acordo com a ocasião, mas é a joia que vira marca registrada", disse. Quem também surfa na onda do design de joias democrático é a Vivara, essencialmente feminina, que lançou uma linha unissex e, agora, parte para uma masculina. Essa abertura gerou uma corrida por valor agregado dentro dos ateliês das marcas de luxo. Das formas extravagantes e da manufatura artesanal, a Tiffany & Co. lançou a linha Blue Book, cuja ideia é tentar materializar sonhos e emoções dos compradores, como objetos de arte vestíveis.

"É como um laboratório para criar conceitos que um dia farão parte de novas coleções. É onde nossas ideias mais experimentais e inovadoras começam", diz o diretor criativo Reed Krakoff. Assim, agregar valor sem se limitar ao preço das gemas virou missão para esse universo. Ara Vartanian expandiu sua veia artesanal para conquistar clientela estrelada, da modelo Kate Moss ao "rolling stone" Ron Wood, transformando joias em desenhos gráficos forrados de gemas, muitas delas brasileiras. "As pessoas sabem que busco a pedra e desenho as peças, todas feitas em minha oficina. Não abro mão desse processo", afirma.

Segundo ele, a valorização da joia como obra de arte não só estendeu as fronteiras da joalheria como também incentivou artistas e colecionadores a se envolverem com o campo. Essa troca criativa começou com Roberto Stern, diretor criativo da H.Stern. Ele confirma a direção da grife, considerada a primeira do mundo a apostar nas gemas brasileiras, de conquistar novos clientes do luxo a partir da arte. Para isso, ele já trabalhou com o arquiteto Oscar Niemeyer e os irmãos Campana". Na nova coleção, SEDA, a marca convidou o carioca Antonio Bokel para criar linhas que simbolizam a confecção da seda, do casulo ao fio. "A diferença entre uma obra e uma joia é que a obra é única e, quase sempre, não é replicável. Quem gosta de arte vai apreciar essas joias, porque são arte usável."
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