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28/09/2018 às 08h02min - Atualizada em 28/09/2018 às 08h02min

Marcos Valério é transferido após denúncias

FOLHAPRESS

Uma denúncia anônima do Disque Denúncia relatando regalias na prisão resultou na transferência do publicitário Marcos Valério para a penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, e no afastamento da direção da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac) de Sete Lagoas, onde ele cumpria pena, a 75 km de Belo Horizonte. As medidas foram determinadas pela juíza Marina Rodrigues Brant, da Vara de Execução Penal de Sete Lagoas, na última sexta-feira (21), atendendo a pedidos do Ministério Público de Minas Gerais. A transferência ocorre em meio à possibilidade do câncer de Marcos Valério ter retornado - ele passará por exames para confirmar o diagnóstico.

Marcos Valério cumpre pena de 37 anos em regime fechado por envolvimento no mensalão e ganhou o direito de ir para uma Apac, que tem tratamento humanizado, quando fechou uma delação premiada com a Polícia Federal no ano passado. Ele também assinou uma colaboração com a Polícia Civil de Minas Gerais. A juíza se baseou em depoimentos de funcionários e outros detentos, que afirmaram ao Ministério Público que o publicitário recebe tratamento diferenciado por parte do presidente da Apac, Flávio Lúcio Batista. Em troca, Marcos Valério repassaria dinheiro para o dirigente, o que a defesa do publicitário nega.

Segundo os relatos, Marcos Valério é o único preso do regime fechado que sai sem algemas, já foi levado a Belo Horizonte no veículo particular de Batista, faz longas saídas de duas a três vezes por semana, já encontrou a mulher em idas ao dentista e utilizou celular no consultório do dentista, por exemplo. Batista também foi padrinho de casamento do publicitário, em janeiro passado. Os depoimentos informam ainda que o detento Adão Teixeira do Carmo abriu uma conta bancária em seu nome, a pedido de Batista. Era o presidente da Apac que movimentava a conta, com depósitos de até R$ 7.500, saques e cheque. A suspeita é que os depósitos viriam de Marcos Valério, o que sua defesa também nega.

Um funcionário e um detento afirmaram que, ao receber pontos negativos no quadro disciplinar da Apac por ter desobedecido alguma norma, Marcos Valério teria dito que deixaria de passar o dinheiro a Batista. Os relatos falam em R$ 8.000 e R$ 9.000. O advogado Fáber Campos, que defende o publicitário, diz que não há provas de que os depósitos na conta de Carmo tenham partido do seu cliente. Em seus depoimentos, Batista e Carmo contam a mesma versão de que o detento, do regime semiaberto, queria abrir um negócio e precisava de crédito. Para isso, Batista se ofereceu para movimentar uma conta em seu nome e, assim, ajudá-lo a conseguir crédito. O presidente da Apac diz nunca ter recebido dinheiro de Marcos Valério. E Carmo afirma que nunca procurou saber a origem do dinheiro.

Em maio, houve uma visita da Fraternidade Brasileira de Assistência ao Condenado (FBAC), que administra as APACS, para verificar as denúncias de regalias na unidade de Sete Lagoas e, a partir daí, Batista mudou alguns procedimentos. Antes, ele mantinha conversas aleatórias com Marcos Valério, sobre economia e política, na ala do regime semiaberto e passou a fazê-lo no regime fechado.

A Comissão de Segurança Pública da Assembleia também esteve na APAC na semana passada para apurar as razões de tantas saídas de Marcos Valério. Os deputados estaduais Sargento Rodrigues (PTB) e João Leite (PSDB) concluíram que as saídas, para prestar depoimento nas delações e para o dentista, ocorrem em conformidade com a lei. O presidente da Apac relatou ainda que autorizou que Marcos Valério não utilizasse algemas porque ele tem o punho quebrado. A fratura ocorreu por conta do uso de algemas apertadas na penitenciária Nelson Hungria, antes da transferência para a Apac.

Ao serem ouvidos pelo Ministério Público, Marcos Valério e Batista confirmaram algumas das acusações como o uso de veículo particular para ir a BH, saídas que duram o dia inteiro (das 8h30 às 21h30) e encontros com a mulher no dentista. O publicitário e o dentista, Sérvulo Arantes, afirmam que não houve uso de celular no consultório. Para a defesa, as acusações são retaliação por Marcos Valério não ter atendido a chantagens de presos e funcionários. Em seu depoimento, o publicitário diz que era visto como "o homem do dinheiro" e que recebeu diversos pedidos: casa, óculos, carro, dinheiro, oficina, tratamento dentário e que tudo foi relatado à Polícia Civil.
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