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12/09/2018 às 08h02min - Atualizada em 12/09/2018 às 08h02min

Ex-governador Beto Richa é preso no Paraná

Tucano é suspeito de fraude em licitação em obras de estradas rurais no estado

FOLHAPRESS
Ex-governador é suspeito de ter participado de fraudes no programa Patrulhas do Campo | Foto: Orlando Kissner/AMPR
O ex-governador do Paraná, Beto Richa, atual candidato ao Senado pelo PSDB, foi preso temporariamente a pedido do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do estado na manhã de ontem.

Richa é suspeito de fraude em licitação em obras de estradas rurais no estado. Também foram presos temporariamente a mulher dele, Fernanda Richa; o irmão de Richa e ex-secretário de Infraestrutura, Pepe Richa; o ex-chefe de gabinete, Deonilson Roldo; e o ex-secretário Ezequias Moreira. Ao todo, 15 pessoas são alvo de mandados de prisão temporária, ordenados pela Justiça Estadual do Paraná.

As prisões atingem figuras-chave no entorno do tucano, que estava em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto para o Senado no Paraná, com 28%, segundo o último levantamento do Ibope. Fernanda Richa era um dos principais cabos eleitorais do ex-governador. Ex-secretária da Família, era bastante popular nas periferias e entre populações atendidas pelo governo. Pepe Richa comandou a superpasta da Infraestrutura, que reuniu Transportes, Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e a superintendência do Porto de Paranaguá, entre outros órgãos. Roldo, por sua vez, que também foi alvo de um mandado de prisão preventiva na Lava Jato nesta terça, era considerado o homem-forte do governador e um de seus principais articuladores políticos.

O procurador Leonir Batisti, coordenador do Gaeco, negou que a data de deflagração da operação tenha sido intencional. "Não há vedação legal para fazer investigação no período eleitoral", afirmou. "Não podemos parar os trabalhos por motivos dessa natureza." A lei eleitoral prevê que, a contar de 15 dias antes da eleição, os candidatos só sejam presos em caso de flagrante. Esse prazo passará a valer apenas no dia 22 de setembro. O ex-governador tucano é suspeito de ter participado de fraudes no programa Patrulhas do Campo, de recuperação e abertura de estradas rurais no interior do estado.

"É aquele padrão: licitação dirigida, pagamento de propina e eventual lavagem de dinheiro", afirmou à reportagem o procurador de Justiça Leonir Batisti, coordenador do Gaeco, braço do Ministério Público do Paraná. O Patrulhas do Campo cedia máquinas como escavadeiras, tratores e motoniveladoras a municípios do interior, para a abertura e manutenção de estradas rurais. Pelo menos 2.000 km de estradas foram recuperados ou abertos por meio do programa desde a primeira gestão de Richa, que governou o Paraná entre 2011 e 2018. Os crimes teriam sido cometidos entre 2012 e 2014, segundo o Gaeco.

Também foram alvos de prisão Luiz Abi, primo e homem de confiança de Richa, e empresários suspeitos de envolvimento no esquema: o ex-secretário estadual de Assuntos Estratégicos Edson Casagrande; o ex-candidato ao governo do Paraná pelo PTC, Túlio Bandeira, e seu irmão André Felipe Bandeira; o empresário Celso Frare, da Transportadora Ouro Verde; Aldair Petry; o contador Dirceu Pupo; os empresários Emerson e Robinson Cavanhaga. Até o final da manhã, 12 mandados de prisão haviam sido cumpridos. O empresário Joel Malucelli, dono da empreiteira J. Malucelli e suplente do senador e candidato à Presidência pelo Podemos, Álvaro Dias, também era alvo de um mandado de prisão temporária, mas está em viagem a trabalho na Itália. Ele negou envolvimento em irregularidades. Richa, sua esposa e seu irmão estão detidos na sede do Gaeco, em Curitiba.

A investigação apura os crimes de fraude à licitação, corrupção, lavagem de dinheiro e obstrução de justiça. Mas a apuração ainda está em andamento e não houve acusações formais, segundo o Gaeco. As prisões são temporárias e valem por cinco dias, que são prorrogáveis. O processo corre em segredo de justiça, na 13ª Vara Criminal de Curitiba.
 
LAVA JATO
Gestão tucana também foi alvo de nova operação
 

A gestão de Richa também foi alvo ontem de uma nova fase da Operação Lava Jato, conduzida pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal, batizada de Operação Piloto - em referência ao suposto apelido do ex-governador na planilha de propinas da empreiteira Odebrecht. Os investigadores negaram que tenham combinado as operações desta terça. "Embora ninguém vá acreditar, foram independentes", disse o procurador Batisti, do Gaeco. "Foi uma mera coincidência", afirmou o delegado Felipe Hayashi, da PF. A investigação do Gaeco, segundo apurou a reportagem, já durava meses, e o pedido de prisão foi acatado depois de semanas de espera. O tucano e membros de sua família foram alvos de mandados de busca e apreensão da PF.

A investigação mira pagamentos indevidos de pelo menos R$ 3,5 milhões, em espécie, relativos às obras da rodovia estadual PR-323, no noroeste do Paraná, entre Francisco Alves e Maringá. Segundo a Procuradoria, o valor foi pago em 2014 pela Odebrecht em troca do direcionamento da licitação. Um dos líderes do esquema de arrecadação seria Roldo, ex-chefe de gabinete de Richa - que também estaria coordenando de forma oculta a atual campanha do tucano ao Senado, segundo o Ministério Público Federal.

Roldo é apontado como "o principal operador do esquema de arrecadação de recursos ilícitos de empresas fornecedoras do governo do estado", escreveu o juiz Sergio Moro, em despacho. O empresário Jorge Theodócio Atherino, por sua vez, que também foi alvo de mandado da PF, é indicado como operador financeiro do ex-governador. Provas obtidas pela Procuradoria indicam que Roldo se comprometeu a ajudar a Odebrecht no contrato da PR-323, em troca de auxílio na campanha de reeleição de Richa, em 2014. Com o acerto, o ex-chefe de gabinete atuou para afastar as demais empresas interessadas em participar do processo licitatório.
Numa das negociações, Roldo foi gravado por um dos empresários que procurou, afirmando que tinha "compromissos" com a Odebrecht. Em nota, a defesa de Richa informou que ainda não havia tido acesso à investigação e não sabia o motivo das ordens judiciais.

A advogada Antonia Lélia Neves Sanches, que defende Richa, acusou o Ministério Público de "oportunismo" ao deflagrar a prisão em período eleitoral.
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