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16/08/2018 às 09h05min - Atualizada em 16/08/2018 às 09h05min

Estiagem e greve fazem preço do leite disparar

Produto está até 10% mais alto que 2017; produtores também sentem custo mais elevado

VINICIUS LEMOS | REPÓRTER
A maior parte do leite comercializado pela Calu vem de pequenos produtores | Foto: Divulgação
Com o litro do leite acima dos R$ 3 em supermercados locais, o consumidor paga a conta final de uma situação que soma fatores sazonais, como a temporada de estiagem, com uma situação extra: a greve dos caminhoneiros. O valor pago pelo litro do leite aos produtores está até 10% mais alto que em 2017 e desde o fim de maio, os preços dos laticínios foram reajustados e com variação acima do comum para a época de estiagem.

De acordo com o presidente da Calu, uma das principais cooperativas leiteiras da região do Triângulo Mineiro, Cenyldes Moura, durante o período da greve dos caminhoneiros, cerca de 400 milhões de litros deixaram de ser recolhidos em todo o País. Naquele período, o cálculo da inflação em Uberlândia atestou o aumento de preços devido à grande demanda e à baixa oferta. Segundo o Centro de Pesquisas Econômico-Sociais do Instituto de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (Cepes/IERI/UFU), o grupo de alimentação e bebidas saiu de uma queda nos preços de 0,24% em maio para uma alta de 1,46% em junho. Especificamente no caso de leite e derivados, o aumento de 0,17% em maio passou para 11,19% em junho.

“Posteriormente houve um acomodamento dos preços, após cerca de 30 dias. Mas, ao mesmo tempo, a entressafra puxa o preço para cima e as empresas de laticínios tendem a pagar mais pelo leite ao produtor, pois a produção cai até 15% historicamente nesta época”, explicou Cenyldes Moura. Ou seja, quando os preços tenderam a cair depois do desabastecimento, o mercado entrava na época de seca, quando a produção é menor e os gastos no campo são maiores.
Em julho, leite e derivados desaceleraram o aumento de preços, mas ainda assim continuaram em alta, dessa vez de 3,38%, segundo levantamento de preços feito pelo Cepes. Para efeitos comparativos, em julho de 2017, a variação dos preços dos mesmos produtos estava em queda de 0,49%.
 
Mais gastos
 
Ao mesmo tempo, sem pastagem adequada para manter o rebanho leiteiro e a produção, o produtor rural tende a gastar mais com alimentação dos animais. Mesmo as chuvas recentes não fizeram grande diferença. “A maior parte do nosso leite vem de pequeno produtor, que nem sempre tem a estrutura técnica e é muito dependente das pastagens, por isso há redução de volume entregue”, explicou o presidente da Calu.

No país, o preço médio pago pelo litro de leite ao produtor chegou a R$ 1,4781. Nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, os valores são mais altos e atingem a média de R$ 1,50 e R$ 1,53, respectivamente.

Produtor da região do município de Tupaciguara, José Eustáquio Ribeiro disse que o custo de produção é de R$ 1,46 por litro de leite. Ele disse que chega a receber R$ 1,70 por litro nessa época do ano, mas essa não é uma realidade comum.

“Eu produzo cerca de 2 mil litros por mês e trabalho com meu gado todo alimentado com silagem. Quem quer produzir mais de 1 mil litros não pode depender de pastagem. Tem muita gente que deixa de produzir nessa época do ano”, conta.
José Eustáquio afirmou que em época de chuvas há mais produtores e o valor pago pelo litro do leite cai para R$ 1,40 em meses como dezembro e janeiro, quando há precipitações na região. Nesse mesmo período, Ribeiro explicou que mantém a produção de milho para alimentar o gado na época de estiagem. A produção ajuda a reduzir custos com compra de alimentação. Isso ajudou a se manter também durante a greve, quando insumos faltaram para os produtores. A situação se complicaria, pois muitos produtos comprados têm cotação atrelada ao dólar.
 
Chuva
 
As chuvas significativas de agosto em Uberlândia não passaram do volume de 5 mm, em apenas dois dias do mês, segundo registros da estação climatológica da UFU. A previsão de chuva em maior volume agora é apenas para o mês de outubro.
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