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16/07/2018 às 15h28min - Atualizada em 16/07/2018 às 15h28min

Um rebelde incorrigível

George Thomaz fala de sua trajetória orgânica e pouco linear que vislumbra, acima de tudo, a liberdade

ADREANA OLIVEIRA | EDITORA
“Eu amo minha imperfeita vida” (Arquivo Pessoal)
Ele estava em uma cidade perfeita, futurista, desenvolvida, onde era contratado de uma grande corporação. Apesar de estar no Brasil, estava cercado por brilhantes jovens bilíngues que só se comunicavam em inglês e eram extremamente arrogantes. Ali, George Thomaz, um incorrigível rebelde não habituado a ter laços empregatícios, poderia fazer o que quisesse. E mesmo assim, batia uma angústia. Algo não estava certo.

Foi quando acordou do sonho e sentiu-se aliviado. “Eu amo a minha imperfeita vida, e foi tão bom tê-la de volta”, disse o artista, que relatou este sonho à reportagem do jornal Diário de Uberlândia em um início de tarde agradável no World Business Center (WBC), complexo inaugurado há cinco anos no bairro Morada da Colina que abriga três obras dele e onde também trabalhou com a identidade visual do lugar.

Mas George Thomaz pode ser visto e sentido em outros pontos da Uberlândia que esse paulistano chama de lar há 25 anos. Tem escultura dele no Gávea Business e ilustrações em algumas das estações do corredor de ônibus da avenida João Naves de Ávila. “Sempre que posso faço uma média com a cidade pela acolhida que tive aqui. Claro que não é uma cidade perfeita, mas me permite ter uma qualidade de vida que não teria em outro lugar e a minha família está aqui”, disse o artista plástico pai de duas garotas, Viki e Zoe, do casamento com a atriz Teta Campos.

Um dos seus grandes sucessos é o “Álbum de Figurinhas de Uberlândia”. Lançado em 2007 até hoje a publicação é vendida para quem quer conhecer um pouco mais da história da cidade por meio dos personagens encontrados pelo artista, ou para quem quer presentear. “Esse foi um projeto muito bacana de fazer, uma ideia feliz. Eu entrevistei muitos idosos para o álbum, alguns já morreram. Era muito legal chegar na casa deles e ter toda aquela atenção. Afinal, às vezes a família não tinha tempo ou até mesmo paciência para escutar as histórias que eles não se cansavam de contar”, disse George.

JUVENTUDE

George Thomaz graduou-se na Fundação Armando Álvarez Penteado (Faap), na capital paulista. Aos 20 anos, em sua primeira exposição, conta que teve todas as suas peças compradas pela mulher de um fotógrafo de prestígio. “Eu comprei um carro com o dinheiro que arrecadei lá. Ao mesmo tempo que me senti realizado, também não senti que pertencia àquele mundo das grandes galerias. Não posso dizer que não me arrependo, talvez hoje estivesse com a vida ganha, mais tranquilo, mas não era para ser assim”, recorda.

Nos anos 80 George ainda trabalhou como ilustrador no jornal “Folha de S. Paulo” e com cenografia na TV Cultura. Foi quando prestou concurso para a Universidade Federal de Uberlândia (UFU), passou, e começou sua vida aqui.

PRODUÇÃO

Além das artes plásticas, George Thomaz é adepto das letras. Gosta de escrever, gosta de música. Muito dessa multiplicidade artística ele afirma que vem da necessidade de sobrevivência. Após fazer exposições no Rio de Janeiro e em São Paulo partiu para mais desafios na área de comunicação visual. 

Na banda Corja de Jorge chegou a lançar um disco. O projeto dele com o irmão Eder Jorge, contava ainda com o baterista Giovani Longo, o guitarrista Fabiano Fonseca, a cantora Daiane Castro e o guitarrista Maurício Winkcler, com quem George ainda mantém uma parceria sólida. “A gente se reunia às segundas-feiras e no que era para ser ensaio se transformava em um encontro na folga dos músicos para tomar cerveja e conversar”, contou.

George não tem um processo específico de criação, tudo flui de forma orgânica, prezando principalmente por sua liberdade. A evolução a cada trabalho nas artes visuais ele consegue acompanhar facilmente. Na música os insights não têm hora para chegar. As obras do UBT, por exemplo, eram rabiscos feitos nas beiradas dos cadernos e se transformaram em esculturas de alumínio. 

CHICO CÉSAR

Entre os parceiros musicais de George Thomaz figura o paraibano Chico César, amigo de longa data. Aliás, uma amizade que sobreviveu a um abalo. Segundo conta George, o verso “deve ser legal ser negão no Senegal”, presente na música “Mama África”, um dos principais sucessos do paraibano, é dele. “Fui eu quem escrevi e ele nunca me deu crédito. Voltamos a trabalhar juntos depois, conversamos e hoje somos amigos, mas percebo que ele ainda fica desconfortável com essa situação”, disse o artista plástico.

“TIO” GEORGE

Voltando à questão sobrevivência, seguindo o conselho de uma amiga, George Thomaz prestou concurso e hoje é professor da rede pública de ensino. Trabalha com crianças do 1º ao 7º ano. Porém, esse público acabou conquistando o “tio” George. “Estou apaixonado por esse trabalho. Eles são tão comprometidos, fazem tanta coisa legal e não precisamos trabalhar de uma forma muito convencional. Esses meninos e meninas são muito criativos e me inspiram também”, conta o professor.

Eles até criaram uma página no Facebook para divulgar os trabalhos artísticos dos alunos. A escola é a Escola Municipal Odilon Custódio Pereira, por isso a página ganhou o nome de “Turma do Dilão” (facebook.com/turmadodilao).

AGENDA

Antes de tudo, George Thomaz é bom de proza. E para quem quiser conhecê-lo um pouco mais e de quebra comprar um “Álbum de Figurinhas de Uberlândia” tem uma boa oportunidade neste domingo. O artista é um dos participantes do 8º Mercado Itinerante de Pulgas que acontece hoje, das 9h às 17h, na rua Santos Dumont, 517, no Centro, na calçada do Uberlândia Clube. Para saber mais sobre o artista clique aqui.


“Sempre que posso faço uma média com Uberlândia” (Adreana Oliveira)
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