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01/05/2018 às 13h31min - Atualizada em 01/05/2018 às 13h31min

Prédio desaba durante incêndio no centro de São Paulo

JÚLIA ZAREMBA, RODRIGO BORGES DELFIM, ARTUR RODRIGUES E DHIEGO MAIA | FOLHAPRESS
 
Um incêndio de grandes proporções no centro de São Paulo causou o desabamento de um prédio de mais de 20 andares na madrugada desta terça-feira (1º). O prédio é uma antiga sede da Polícia Federal no largo do Paissandu.

Estão desaparecidos ao menos um homem que era resgatado quando o prédio desabou e uma mulher e suas duas filhas gêmeas. Os bombeiros fazem buscas entre os escombros com o auxílio de cães farejadores.

Durante a madrugada, o incêndio atingiu outros prédios no entorno da antiga sede da Polícia Federal. Entre eles, a Igreja Martin Luther teve sua estrutura danificada. O templo é a primeira paróquia evangélica luterana da capital, inaugurada em 1908. Por volta das 9h da manhã, um incêndio voltou a consumir o topo de outro prédio no largo.

Moradores do prédio que desabou afirmam que o incêndio começou por volta da 1h30 após uma explosão no quinto andar. Eles desconfiam que se trate de um botijão de gás. Após a explosão, houve fogo e fumaça pelo prédio.

A costureira Iraci Alves diz que estava no prédio quando o fogo começou. "Foi uma explosão muito forte. Saí só com a minha roupa", diz. Ela afirmou que parte interna do prédio era de madeira e, por isso, o fogo se alastrou muito rápido.

Iraci dava uma entrevista para uma emissora de TV quando gerou indignação nos demais moradores ao falar que a ocupação pedia apenas uma taxa opcional. "É mentira. Estão falando invasão, mas todo mundo pagava aluguel. Eu pagava R$ 200", disse um estudante de 16 anos. Segundo ele, as condições de segurança do local eram péssimas.

A peruana Gredy Yune, 50, disse que os organizadores da ocupação chegaram a pagar juros. Ela mostrou à reportagem um carnê que marcava as mensalidades.

A responsável pela ocupação, dizem os moradores, é uma mulher conhecida como Nil. Segundo eles, a mulher desapareceu após o incêndio.

A Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros dizem que somente a perícia poderá confirmar as causas do incêndio. Bombeiros buscam por desaparecidos, moradores dizem que havia pessoas no topo do prédio no começo do incêndio.

Foram enviados 160 agentes e 57 carros do Corpo de Bombeiros para a ocorrência, além de unidades da Polícia Militar, SAMU, CET e Defesa Civil.

De acordo com a área de comunicação da Prefeitura de São Paulo, a Defesa Civil está no local para verificar possíveis danos nos prédios vizinhos e a CET está organizando bloqueios na região. A SMADS (Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social) está providenciando abrigamento para as famílias.

CONDIÇÕES PRECÁRIAS

Inaugurado em 1966 para ser a sede da Cia. Comercial Vidros do Brasil (CVB), o prédio que desabou nesta terça-feira (1) abrigou durante muitos anos a Polícia Federal. Após anos vazio, o prédio foi ocupado irregularmente por movimentos de luta por moradia.

Os próprios moradores relatam que o prédio tinha condições precárias de manutenção e estruturas de madeira, que podem ter agravado o incêndio.

O prefeito Bruno Covas, que esteve logo cedo no local, disse à imprensa que já estava em tratativas com a União para tomar conta do lugar. "A prefeitura agiu no limite de sua função. Cadastramos as famílias e já estávamos buscando receber esse prédio."

O prefeito disse que agora a prioridade é prestar auxílio aos atingidos. Segundo ele, 191 pessoas foram atendidas nos abrigos da capital.

Cerca de 150 famílias com 400 pessoas que moravam no prédio que caiu foram cadastradas pela secretaria de habitação. Destas, 25% eram de estrangeiros.

A prefeitura estima em cerca de 70 prédios ocupados na região central com aproximadamente 4 mil famílias.

Coordenador do LMD (Luta por Moradia Digna), movimento que ocupou o prédio, Ricardo Luciano Lima afirma que há uma tentativa de responsabilizar o movimento, esquecendo o problema de falta de habitação na cidade.

"Eu posso afirmar que o movimento, se tiver de ocupar outro prédio abandonado sem uso social, o movimento vai ocupar", diz.

Segundo ele, o LMD tem outros prédios ocupados na cidade, um deles no centro, que ele se recusou a fornecer o endereço.

Também presente no local, o governador de São Paulo, Márcio França (PSB) disse que as famílias desabrigadas serão cadastradas e levadas para abrigos, e também podem se candidatar a receber aluguel social para procurarem um novo lugar para viver. Ele também chamou o caso de "tragédia anunciada".

"Não tem a menor condição de morar lá dentro. As pessoas habitam ali, desesperadas. Volto a repetir que essa era uma tragédia anunciada", continuou.

De acordo com o governador, são pelo menos 150 imóveis ocupados irregularmente no centro de São Paulo, a maioria deles de particulares.

França também citou dificuldade em desocupar prédios por conta de liminares.

"Essa subabitação não tem solução, essas pessoas precisam ser tiradas daí. É preciso boa vontade e compreensão do Ministério Público e da magistratura para não dar liminares. Porque quando dão liminares, as pessoas vão ficando lá e quando acontece uma tragédia dessas todo mundo fica triste. Vamos torcer para que tenha alguém ainda vivo ali embaixo".

O presidente Michel Temer, que estava em São Paulo neste feriado de 1º de Maio foi até o local do acidente. Mas assim que começou a falar com a imprensa, foi hostilizado por moradores locais e após um tumulto, o presidente deixou o local às pressas. Ele apenas confirmou que o prédio que desabou era da União e prometeu assistência às famílias atingidas.

FAMÍLIAS EVACUADAS

Moradores da ocupação tiveram que deixar para atrás documentos, eletrodomésticos e animais de estimação quando o incêndio começou.

A dona de casa Deise Silva, 31, mãe de sete filhos, conta que a família estava dormindo quando o fogo teve início. Moravam no prédio havia um mês.

"Escutei gritos, achei que tinha gente brigando", diz ela, que mora com cinco filhos, a mais nova de um ano. "Quando falaram que tinha fogo, acordei as crianças e saí correndo."

"O prédio desceu, parecia um tsunami", lembra a dona de casa Maria Aparecida de Souza, 58, que morava no quarto andar havia quatro anos. "Não deu para tirar nada."

O aposentado Miguel Angelo se machucou na mão com estilhaços de vidro da janela. "Acordei e a energia tinha acabado. Foi uma gritaria, uma correria", lembra.

Cerca de 80 pessoas viviam no lugar, segundo moradores. Cada família tinha um quarto e os banheiros ficavam no corredor.

As famílias pagariam uma taxa de R$ 160 por mês à coordenadora da ocupação para ter direito a um quarto no prédio, segundo uma moradora que não quis ser identificada.

O ferreiro Carlos Augusto Soares, 46, espera que a prefeitura ofereça abrigo para as famílias. Morador do lugar há quatro anos, conta que não conseguiu sequer salvar a sua gata de estimação durante a fuga.

Uma assistente social que atua na região e preferiu não ser identificada contou que ocorriam desentendimentos entre os moradores e os líderes da ocupação. ​​

IGREJA

A Igreja Evangélica Luterana, que fica ao lado do edifício que desabou, teve 80% de seu prédio destruído, segundo o pastor Frederico Carlos Ludwig, 61. "Só ficaram de pé o altar e a torre", disse.

O líder religioso estima que serão necessários investir R$ 5 milhões para reerguer o templo.

Ludwig disse que há 20 anos denuncia às autoridades o estado em que se encontrava o prédio que caiu. "Desde quando eu cheguei, percebi que ele [prédio] já estava inclinado para a avenida Rio Branco. Mas ninguém fez nada."

No momento do acidente, uma zeladora e o marido dela estavam na igreja, mas saíram ilesos.

Erguida em 1908, a igreja evangélica Luterana é tombada pelos órgãos do patrimônio histórico do município e estado de São Paulo.
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