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08/01/2018 às 09h22min - Atualizada em 08/01/2018 às 09h22min

Técnico Leandro Garcia forma campeões em Uberlândia

ÉDER SOARES | REPÓRTER
Leandro Garcia à frente de sua equipe de atletas e torcedores que integram seu projeto “Time de Campeões” / Foto: Divulgação

 

Aos 36 anos, o educador físico Leandro Garcia é considerado atualmente uma das referências do atletismo paralímpico em Uberlândia e região. Vários nomes importantes do esporte passam ou já passaram pelos olhares atentos e criteriosos do treinador. Destaques para Clayton Pacheco, Joana Helena e Rodrigo Parreira, esse último, dono de duas medalhas paralímpicas, uma de prata e outra de bronze nos Jogos do Rio 2016. Parreira é considerado pela crítica especializada como um potencial candidato ao ouro em Tóquio 2020. 

Garcia aceitou conceder uma entrevista exclusiva para o Diário do Comércio, na qual conta toda a sua trajetória no esporte, desde o início dos estudos na pequena Campina Verde, até o retorno para Uberlândia e os desafios de defender o esporte paralímpico, na maior parte das vezes renegado e ignorado, principalmente pelos empresários que preferem investir em futebol e outras modalidades consideradas de maior visibilidade. 

 

Diário - Como e onde começou no esporte antes de se dedicar à função de treinador?

Leandro Garcia - Desde garoto, sempre gostei de organizar os jogos, realizar campeonatos, e aos 18 anos decidi escolher a Graduação em Educação Física na realização da última fase do Paies - Processo de Seleção da UFU. Nunca fui atleta e naquela época nunca tinha ouvido falar de esporte paralímpico e foi na FAEFI-UFU (Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Uberlândia), que ao iniciar a Graduação em 2001 tive o primeiro contato com esporte adaptado. Em 2002, iniciei estágios e não parei mais. Em 2004, assumi a responsabilidade de ser treinador e de lá para cá já são 14 temporadas, iniciando em 2018 a 15ª temporada. 

 

Qual o seu primeiro paratleta de destaque, dentre os vários que já revelou?

No meu primeiro ano de trabalho, em 2004, tivemos grande destaque com a convocação do atleta Clayton Pacheco para a Seleção de Base, visando participação nos Jogos Paralímpicos de Atenas (Grécia 2004), e eu também integrei como treinador a comissão técnica do Brasil. Fizemos parte da preparação para os Jogos Paralímpicos, mas por critérios subjetivos da época não fomos convocados para Atenas 2004. Em 2005, Clayton e eu integramos a Seleção que representou o Brasil nos Jogos Parapan e outro atleta também foi convocado, Wesley Oliveira da Silva. Evento que proporcionou grandes conquistas com três medalhas de ouro e duas de bronze. 

 

Qual a sua visão sobre o paradesporto, de quando você começou, comparado ao cenário atual?

Para mim é oportunidade para todos nós envolvidos de mostrar nossas potencialidades. Mostrar que Uberlândia tem talento, que as pessoas com deficiência são capazes de encantar e lutar por um mundo melhor. Cada temporada tem seus desafios e atualmente o maior desafio, principalmente após as Paralímpiadas Rio 2016, é a escassez de recursos financeiros, pois o investimento diminui muito tanto na esfera governamental, quanto da iniciativa privada, mas o grande ganho foi a torcida mais forte, cada vez maior, e o conhecimento do paradesporto em larga escala. 

 

Em relação à atual estrutura de treinamentos do paratletismo brasileiro, como você a define? Ainda temos muito a evoluir ou estamos no caminho certo?

Em relação à estrutura o avanço foi enorme, mas nunca pode estagnar, pois avanços principalmente tecnológicos acontecem a todo tempo. Poder aplicar é fundamental para evolução e também em busca de performance, mas os principais avanços permitem incluir mais pessoas no esporte. 

 

Uberlândia é uma referência realmente no paratletismo brasileiro? Está bom ou ainda falta muito apoio? O que você pediria para o poder público e empresários?

Somos uma das grandes equipes do Brasil e referência no que fazemos, pois desde 2005, quando foi criado o Circuito Brasil Paralímpico, fomos campeões cinco vezes (2009, 2010, 2011, 2012 e 2017), mas estamos longe de ser referência no esporte. Os títulos são grandes feitos, mas temos muitos pontos fracos e os principais são a gestão, o marketing, a valorização dos atletas e aperfeiçoamento da estrutura visando alto rendimento, que vai muito além de dar oportunidade das pessoas praticarem esporte. E nisso Uberlândia vai bem, pois a quantidade de praticantes é muito grande. 

 

Atualmente você é treinador da equipe Minas Olímpica, que treina no Sesi Gravatás. Fale sobre o seu trabalho lá.

Minas Olímpica é a nossa equipe de atletismo que tem conquistado grandes títulos por equipe e revelado atletas campeões brasileiros e medalhistas internacionais. Grande parceiro, o SESI tem contribuído para todos estes feitos desde 2006. E a grande evolução de Uberlândia foi justamente o centro de treino de alto nível proporcionado pelo SESI na Unidade do Gravatás, em Uberlândia, onde hoje é realizado a iniciação do atletismo paralímpico e também a preparação e treinamento dos atleta em alto rendimento. 

 

E o seu projeto ‘Time de Campeões’?

O ‘Time de Campeões’ é um projeto de professor sonhador, com missão de unir pessoas e formar um time forte de torcedores pelos atletas paraolímpicos. Meta de proporcionar visibilidade aos feitos dos atletas e agregar valor no mercado. 

 

Qual o balanço da temporada 2017?

Temporada excelente, com todas as metas de performance batidas. Equipe campeã brasileira - no maior evento do ano, que foi o Mundial, a nossa previsão era de ter um atleta convocado. O Rodrigo Parreira foi convocado e conquistou três medalhas no Mundial, lembrando que no último Mundial, em 2015, Uberlândia teve dois atletas e nenhuma medalha conquistada. 

 

E qual foi o ponto negativo de 2017?

A grande derrota foi no campo financeiro, onde arrecadação e patrocínio declinaram muito e podemos dizer, em números, que a redução foi dramática. Aplicou-se 25% do orçamento que teve em 2016 e o sistema não parou graças ao empenho dos atletas, professores e voluntários que tiraram dinheiro do bolso para custear, por exemplo, transporte para eventos, hospedagem e alimentação em campeonatos. 

 

Gostaria que falasse sobre o Rodrigo Parreira, como potencial para os próximos Jogos Paralímpicos. Ele é candidato ao ouro nas provas que irá disputar, se tudo correr no curso normal?

Parreira é grande talento da nossa cidade, mas precisa de apoio. Atleta que demostra evolução a cada temporada e certamente vai lutar pela medalha de ouro em Tóquio 2020, mas precisa de mais apoio visando melhora na sua estrutura de treinamento, recuperação pós-treino, no campo da nutrição e psicologia esportiva também. Todos os atletas precisam de melhora nestes aspectos se quisermos ter atletas em Tóquio 2020, não apenas o Rodrigo Parreira, mas ele hoje é nome com um pé nos Jogos e estes aspectos vão fazer diferença. 

 

Além do Parreira, você define mais algum atleta local com potencial para os Jogos Paralímpicos?

Sim. Uberlândia tem nomes que podem chegar e as temporadas 2018 e 2019 são cruciais nesse contexto. Podemos ter resultados históricos, mas os atletas precisam de condições diferenciadas de treinamento e de recuperação também. Algo que para um atleta iniciante não tem tanto impacto, mas pensando no alto rendimento tudo é diferente, por exemplo, a remuneração, visto que hoje atletas precisam treinar e trabalhar para ter vida digna. Ninguém consegue dedicar somente ao esporte e isto tem impacto no resultado, principalmente se o foco é Jogos Paralímpicos, onde um centésimo faz diferença. Um exemplo foi o Parreira no Rio 2016, onde ele ficou com a medalha de prata porque empatou com o atleta australiano. Ali, um centímetro a mais daria a medalha de ouro a ele. 

 

Como profissional, quais os seus planos e metas para 2018 e para os próximos anos?

A temporada 2018 não tem grandes eventos internacionais. Este ano, a meta é ter novos atletas com elegibilidade internacional e assim poderem estar ativos pensando no Parapan de Lima 2019 e no Mundial de 2019 também. Além de resultados nas pistas, espero poder ajudar a melhorar a estrutura do atletismo paralímpico em Uberlândia. 

 

Fale sobre a sua relação com a cidade de Uberlândia.

Uberlândia tem dado a oportunidade que precisamos e temos mostrado serviço. Chegou o momento de juntos fazermos mais. Pessoas gostam de esporte e esporte paralímpico é algo que faz nossa cidade ter orgulho. Vamos juntos transformar tudo isso em orgulho ainda maior, fazendo parte dele. Esse convite para unirmos forças e cada um dentro do que mais conhece contribuir pra transformar oportunidade em conquistas, em realizações, pois campeões no esporte também são campeões na vida. 

 

Resultados paratletas treinados por Leandro Garcia 

Clayton Eurípedes Pacheco

- Atual recordista brasileiro no salto em distância e salto triplo

- Dono de 14 medalhas internacionais

- 3 de prata no Pan do México em 1999

- 4 de prata no Pan dos USA em 2001

- Bronze no Campeonato Mundial do Canada em 2003

- 3 medalhas de ouro e 2 de bronze no Pan americano Brasil em 2005

- Vice-campeão mundial na Finlândia em 2005 

 

Wesley Oliveira da Silva

- Finalista Jogos Parapan 2005

- Bicampeão brasileiro 

 

Joana Helena dos Santos Silva

- Campeã Brasileira 7 vezes, de 2006 a 2012

- Campeã Parapan do Rio 2007

- Campeã mundial e recorde mundial 2007

- Finalista Paralímpiadas de Pequim 2008

- Vice-campeã Parapan Guadalajara no México 2011

- Participou das Paralimpíadas de Londres 2012

- Recordista brasileira 2006 a 2014 

 

Rodrigo Parreira da Silva

- Atual recordista brasileiro nos 100m, 200m e salto em distância

- Atual recordista das Américas no salto em distância e recordista paralímpico

- Atual recordista das Américas nos 200m rasos

- Atual recordista das Américas nos 100m rasos 

 

Resultados Rodrigo Parreira em 2017 

- Medalha de prata no Campeonato Mundial no salto em distância

- Medalha de bronze no Campeonato Mundial nos 100m rasos

- Medalha de bronze no Campeonato Mundial nos 200m rasos

- Recorde nos 100m e 200m

 

Resultados Rodrigo Parreira em 2016 

- Medalha de prata Jogos Paralímpicos Rio 2016 no salto em distância

- Medalha de bronze jogos Paralímpicos Rio 2016 nos 100m rasos

- Recorde das Américas no salto em distância e recorde paralímpico

- Recorde das Américas nos 100m

- Campeão 1ª etapa nacional Circuito Brasil

- Campeão 2ª etapa nacional Circuito Brasil

- Medalha de bronze Campeonato Parapan de Toronto

 

Wellington Fernandes dos Santos

- Atual recordista brasileiro do heptatlon

- Campeão Brasileiro

 

Nauane Nunes de Paulo

- Recordista brasileira do lançamento de disco e do lançamento do dardo

- Campeã brasileira de 2009 a 2017

 

Lunier Carvalho Salis

- Recordista brasileiro do lançamento de disco e de peso

Campeão Brasileiro de 2008 a 2014

 

Antônio José Lima Araújo

- Atual recordista brasileiro do lançamento de dardo

- Tetra campeão brasileiro de 2008 a 2011

- Campeão brasileiro em 2015

 

Fabio dos Santos Pereira

- Tricampeão brasileiro 2010 e 2012

 

Divino Eterno Dias

- Pentacampeão brasileiro 2010 a 2014


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