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26/11/2017 às 05h36min - Atualizada em 26/11/2017 às 05h36min

'Pulse!': manifesto em defesa da liberdade

Espetáculo usa tragédia ocorrida nos Estados Unidos em 2016 para ressaltar a necessidade do respeito às diferenças

ADREANA OLIVEIRA | EDITORA
No coletivo Teatro de Viés, formado na Universidade Federal de Uberlândia, os atores interpretam, cantam e dançam / Foto: Ninguém dos Campos/Divulgação

 

Em 12 de junho de 2016 a boate gay Pulse, em Orlando, na Flórida, foi alvo daquele que é considerado o maior massacre, em massa, contra LGBTs neste século. Um atirador invadiu a boate onde acontecia a “Noite Latina” e matou 50 pessoas. Em Uberlândia Rafael Lorran, então professor substituto na Universidade Federal de Uberlândia (UFU), remoía essa tragédia em sua mente. “Como artista e como homossexual estou sempre atento às questões do nosso tempo. Queria dialogar com esse tempo no debate sobre arte como política e a política da arte”, recorda.

A oportunidade para o manifesto teatral ganhou o nome de “Pulse!” e será encenado amanhã, às 20h no Teatro Municipal de Uberlândia dentro do projeto Boca de Cena. “A peça surgiu dentro da universidade em uma disciplina que trabalha com narrativa, espetáculos com temáticas mais politizadas”, explicou Lorran. Seu interesse pela tragédia na Pulse começou com um questionamento: “Por que esse ataque aconteceu na noite latina?”.

A partir daí ele escreveu a dramaturgia em formato de manifesto com linguagem de documentário. Ele pesquisou aspectos como, por exemplo, a temática hispânica: o ser homossexual latino nos Estados Unidos. Leu reportagens, visitou perfis das vítimas e selecionou algumas histórias e com liberdade de criação juntou fatos verídicos a histórias fictícias e a peça é um relato que se passa nas 12 últimas horas de vida das vítimas.

“Um dos relatos reais que li é sobre uma das vítimas, a mãe de um homossexual que se jogou na frente do atirador para salvar a vida do filho, Javier. No ficcional falamos da violência familiar e contamos como foi construída aquela relação entre mãe e filho que se divertiam junto na boate”, adiantou.

“Esse ataque à Pulse em uma noite latina dialoga com questões étnicas, cultuais e sociais que permeiam a existência do coletivo Teatro de Viés. Abordamos entre o drama ficcional e aspectos da linguagem documentária, o urgente debate sobre as diversas faces da homofobia”, contou o professor.

O grupo buscou dados referentes a violência ligada a homofobia no Brasil, Minas Gerais, Triângulo Mineiro e Uberlândia para enriquecer o texto numa forma de trazer à tona as diferentes formas que vivenciamos de violência em micro e macro esferas. “Não é só o crime em si, o massacre que choca. A violência psicológica no contexto familiar, social ou no trabalho sofrida pela comunidade LGBT é constante e uma discussão urgente que não pode ficar para depois”, comentou Lorran.

São 24 atores em cena que se entregam totalmente à montagem. Além da atuação em si, cantam e dançam. “Temos a liberdade de brincar com a linguagem do musical e essa não é uma peça para e sobre homossexuais ou sobre homofobia, é uma peça sobre a violência contra o ser humano”, disse.

Para Lorran é preciso mobilização social e política no país em prol do respeito à diversidade, á liberdade de cada um ser o que quer ser.

Outra vítima que teve a história selecionado para a peça é Amanda, uma jovem que se recuperava de bulimia, tinha feito operação de redução de estômago e gravava um vídeo dançando quando começou o tiroteio. “Trazemos para o palco o que seria a história dela até ali, os preconceitos enfrentados por ser mulher, gorda e homossexual, existe ai um acúmulo de focos de violência”, comentou Lorran.

Apresentada em espaços pequenos em formato para arena, onde segundo Lorran se um espectador esticar o braço enconsta no ator, é um grande desafio para o Viés subir ao palco italiano do Municipal. “Mas ficamos felizes por um grupo com origem na UFU tenha a oportunidade de usufruir da estrutura de um espaço tão importante para a cidade.

Com pouco tempo de trajetória a peça já conseguiu reconhecimento regional em nacional. No Festival Nacional de Teatro em Araguari conquistou os prêmios de melhor espetáculo, direção, sonoplastia e dois prêmios de atuação. “Além do júri técnico vencemos também na votação do júri popular, algo muito importante para nós porque mostra que estamos levando uma mensagem que precisa ser escutada”, disse Lorran. O grupo também foi convidado ela Secretaria de cultura do Rio para se apresentar neste ano na abertura da Mostra da Diversidade no Rio de Janeiro.

 

BOCA DE CENA

O Boca de Cena faz parte do programa Cultura na Comunidade da Secretaria Municipal de Cultura (SMC) e selecionou neste ano 13 projetos de teatro, música, dança e performance para apresentações no foyer e palco italiano do Teatro Municipal. A proposta é democratizar o acesso à cultura. As apresentações têm preços populares ou entrada franca e os grupos e artistas recebem uma ajuda de custo para as produções.

Neste final de semana acontece a segunda e última etapa de apresentações. Hoje serão apresentados o show “Resistência”, com Natã Borges e a peça “O Vestido”, de Giovana Parra (confira detalhes no roteiro da Página B3) finalizando amanhã com “Pulse”.

A reportagem solicitou à assessoria de comunicação da Prefeitura Municipal os números referente a público da primeira etapa do Boca de Cena mas não obteve retorno até o fechamento desta edição.

 

SERVIÇO

O QUE: Projeto Boca de Cena 2017 – Manifesto teatral “Pulse!”

QUEM: Coletivo Teatro de Viés

QUANDO: Amanhã (27), às 20h

LOCAL: Teatro Municipal de Uberlândia (Av. Rondon Pacheco, 7.070, Tibery)

INGRESSOS: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada) pelo boxt.com.br/pulse e na bilheteria do teatro amanhã a partir das 12h.

CLASSIFICAÇÃO: 18 anos

INFORMAÇÕES: 3235-1568

 

FICHA TÉCNICA

TEXTO E DIREÇÃO: Rafael Lorran

ELENCO: Alessandro Cardoso, Alisson Guerradr, Ana Vitória Nogueira, Anna Paula Basílio, Carla Luz, Eduardo Bernardt, France Nete Macedo, Guilherme Caeu, Isabela Soouza, Ítalo Pitemalgo, Júlia Leão, Lara Pires, Leily Alves, Margareth Louise Lamounier, Rafael Roberto, Rosanna Portilho, Samuel Gonçalves, Sara Stéfanni, Victor Marcitelli e Vitor Matsuo

MÚSICO\PIANISTA: Wenderson Oliveira

COREOGRAFIAS: Nina Tannús

OPERAÇÃO DE SOM\VÍDEO: Anna Paula Basílio e Brenda Andrade

OPERAÇÃO DE LUZ: Adriel Parreira

CONCEPÇÃO DE ILUMINAÇÃO: Lucas Larcher, Camila Tiago e Estudantes da disciplina de Cenografia e Iluminação (UFU\MG)

CONCEPÇÃO DE CENOGRAFIA: Rafael Lorran e Edu Silva

EDIÇÃO DE MULTIMÍDIAS: Eduardo Bernardt e Vitor Matsuo

ARTE GRÁFICA:Eduardo Bernardt

LOGO PULSE: Rafael Michalichem

DURAÇÃO: 70 minutos


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