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09/07/2017 às 05h51min - Atualizada em 09/07/2017 às 05h51min

Curso de Música da UFU faz 60 anos

O primeiro dos cursos da universidade busca manter a qualidade do ensino movido pelo sonho de alunos e professores

ADREANA OLIVEIRA | EDITORA
A professora Sandra Mara Alfonso é atual coordenadora do curso de Música da UFU que completa 60 anos dia 13 / Foto: Divulgação

 

“A música acompanha as pessoas em todas as fases da vida.” A frase é da professora e musicista Sandra Mara Alfonso, também coordenadora do curso de Música da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) - que comemora, na quinta-feira (13) exatos 60 anos de atividades. As comemorações começaram com um concerto na última sexta-feira (7), no Teatro Municipal. No dia 13 será inaugurada a exposição de fotos junto com uma mesa de depoimentos e apresentação da Orquestra Popular do Cerrado (OPC), às 19h30, na sala Camargo Guarnieri, no bloco 3M do Campus Santa Mônica da UFU, com entrada franca.

Sandra lembra o fato marcante de que o curso de Música é o primeiro em nível superior de Uberlândia. Durante estas seis décadas contribuiu com nomes importantes que fazem carreira no Brasil e no exterior. “O curso sempre teve um corpo capacitado de docentes. No início, precisávamos de nomes de peso e tivemos o prazer de ter no nosso quadro compositores como Camargo Guarnieri (1907-1993), que lecionou aqui até se aposentar em meados dos anos 80”, recorda a coordenadora.

Nascida em Uberaba, Sandra Mara Alfonso mudou-se para Uberlândia aos 8 anos de idade. Desde criança tem uma certa fixação pelo violão. Essa paixão a levou às primeiras aulas do instrumento, aos 10 anos, e posteriormente ao curso de música da UFU, no qual ingressou em 1981 e onde em 1986 já lecionava. “Como professora e educadora percebo a importância de contribuir com a formação de futuros músicos, futuros professores. Temos que preparar sempre a música para o contato com a arte em geral. Acompanhei várias transformações no curso da UFU. Atualmente tenho acompanhado as informações das transformações tecnológicas e me aprimorando com ênfase na aplicação da neurociência na atividade musical”, conta a professora.

O curso oferece 25 vagas semestrais. Para pleitear a vaga é preciso fazer a prova de habilidade específica. “É preciso um conhecimento prévio do instrumento de preferência do aluno, a seleção começa aí. E as possibilidades para os graduados são muitas, afinal, a música acompanha as pessoas em todas as fases da vida. Além de atuarem como docentes ou músicos têm trabalhos relacionados a outras áreas como teatro, dança e cinema”, diz Sandra. 

No início, o curso oferecia somente canto, piano acordeon e Violino. Atualmente, nas modalidades de Bacharelado e Licenciatura, oferece habilitação em canto e nos seguintes instrumentos: flauta doce, flauta transversal, percussão, piano, saxofone, trombone, trompete, viola, violão, violino e violoncelo.

Desde 2015, a UFU oferece também formação em nível de pós-graduação, com o Mestrado em Música. Destacam-se ainda as atividades de extensão, com a formação de grupos musicais como a Orquestra Popular do Cerrado, Grupo de Flauta Doce da UFU, Camerata de Violões e Grupo de Percussão da UFU, entre outros.

POR AMOR

Primeiros anos foram muito difíceis

Cora Pavan Capparelli é pianista e fundadora do curso / Foto: Adreana Oliveira

A federalização da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) ocorreu em 1978. O curso de Música foi fundado pela pianista Cora Pavan Caparrelli, em 1957. “Tenho um imenso sentimento de satisfação quando vejo o que o curso da UFU se tornou. Na época eu senti que seria importante fazer uma escola com curso reconhecido e dar um diploma registrado nos órgãos de registro brasileiros. Assim, as pessoas poderiam exercer a profissão com todas as suas competências e direitos”, recorda dona Cora, em entrevista ao jornal Diário do Comércio concedida na casa onde mora há 42 anos, no Centro de Uberlândia.

Dona Cora lecionou para a primeira turma do Curso de Música da UFU e seguiu por muitos anos. Porém, quando ocorreu a federalização, se afastou, segundo ela, por um motivo bem singular. “Alguns professores queriam ser chefes de departamento dos cursos para se adequar às normas, eu não me preocupava muito com isso. Porém, comecei a receber bilhetes com insinuações de que eu estaria ‘muito cansada’ e deveria me preocupar em ‘descansar e dar aulas somente’ e ‘passar a chefia do departamento para outra pessoa’”, recorda a pianista. 

Os bilhetes, em tons delicados, foram encarados como insinuação para ela pedir demissão. Dona Cora não guarda mágoas e afirma que reconheceu a letra de algumas pessoas nos tais bilhetes. Ela pediu uma licença a Juarez Altafim, que não aceitou a princípio o afastamento, mas Cora insistiu por conta da falta de consideração com ela com as mensagens recebidas anonimamente.

Ao lado do marido, o saudoso Vittorio Capparelli, Cora viajava para congressos dentro e fora do país e trazia o que havia de melhor para a Música da UFU. Ela não ganhava para ser diretora, ou chefe de departamento e nem mesmo professora. “A escola ainda era particular, minha, e muitos alunos não pagavam a mensalidade. Meu pai foi quem me ajudou muitas vezes a pagar os professores em períodos difíceis. Por isso aqueles bilhetinhos mexeram tanto comigo”, comenta.

A partir daí Cora foi diretora do Conservatório Estadual Cora Pavan Capparelli, também fundado por ela. Aos 92 anos, a musicista se orgulha do legado que iniciou em Uberlândia e com tantos talentos surgidos dentro do curso de Música e da Faculdade de Artes da UFU. “Não fiz nada sozinha, tive sempre muita gente boa trabalhando junto comigo e os inspetores do Ministério da Educação nunca tiveram do que reclamar. O que vale é saber e ensinar que a música abre a vida da gente para o mundo, não existem fronteiras e não existem limites que não possam ser ultrapassados pelo amor e pela dedicação aos estudos”, finaliza.

 

PRATA DA CASA

Uma carreira internacional é viável

Paulo Vinícius está em Londres com a Seven Eyes / Foto: Divulgação

Em maio deste ano o violonista e compositor Paulo Vinícius, graduado no curso de Música da UFU, que frequentou entre 2003 e 2007, fazia um show em Londres, no Troubadour, com sua banda Seven Eyes. Após a apresentação, um senhor roqueiro vestido de preto se aproximou com um sorriso e parabenizou o grupo pelo trabalho. Esse senhor era Jimmy Page, um dos fundadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, Led Zeppellin. Radicado atualmente em Londres, Paulo Vinícius é um exemplo de ex-aluno da UFU que resolveu desbravar o mundo. 

“Numa única aula de violão que tive com o professor e mestre Fanuel Maciel, de forma muito espontânea ele me sugeriu que talvez devesse buscar algo relacionado a filosofia oriental, ele não se lembrava disso depois, mas foi uma recomendação que acatei e entrei de cabeça nos estudos e práticas da Yoga”, lembra Paulo. Na Seven Eyes, por exemplo, a música que eles fazem tem essa pegada world music. 

Ele lembra inda da professora Maria Araceli Chacon, que com muita paciência abriu portas para percepção e o levou para um nível audio-sensitivo elevado em sua relação com o instrumento e o palco. O violonista recebeu também uma contínua atenção e cuidado do professor/doutor Maurício Orosco. “Ele me nutriu com conhecimentos técnicos do violão durante praticamente o curso completo. Sou muito grato e tenho muito respeito por todos os professores dedicados que tive na UFU”, disse Paulo.

Desde 2007, o ex-aluno não tem mais contato com a Faculdade de Música de Uberlândia e acredita que muita coisa deve ter mudado. Se não, é preciso mudar para melhorar. Ele comenta que o departamento de música não recebia recursos suficientes da universidade para investir em uma estrutura mais adequada. Os professores contratados tentavam preencher os vários cargos para docente, mas esses professores tinham um prazo de trabalho de dois anos na universidade e depois tinham que ficar afastados. “Considerando que cada um desses educadores tinha um método diferente trabalho, impedia com que o programa de estudo fosse mais elaborado, consistente e efetivo para a formação dos futuros profissionais da música. Assim como no curso havia várias lacunas, nós estudantes o concluíamos com diversas deficiências”, disse.

Paulo Vinicius aprimorou seus estudos com importantes mestres em São Paulo, na Alemanha e na Suíça. E olhando para o curso da UFU ele cita pontos que poderiam levar a uma melhoria para os futuros musicistas. “Visita de profissionais referência de cada área para cursos semestrais motivariam alunos e professores. As aulas individuais de instrumento poderiam ser abertas no formato de masterclass, com um aluno à frente trabalhando com o professor e outros alunos assistindo e participando”, sugere.


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