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14/06/2017 às 05h59min - Atualizada em 14/06/2017 às 05h59min

Escritora mineira é tema de ocupação

Conceição Evaristo tem recortes de sua vida exibidas em projeto do Itaú Cultural acessível também pela internet

ADREANA OLIVEIRA | EDITORA
Conceição Evaristo publicou seus primeiros textos no início dos anos 90 na série Cadernos Negros do grupo Quilombhoje / Foto: Richner Allan/Divulgação

 

Ela nasceu em 1946 na favela do Pindura Saia, que já não mais existe, no bairro Cruzeiro, em Belo Horizonte. Encontrou nas letras um caminho para uma vida digna e, através de suas “escrevivências”, Conceição Evaristo é um exemplo de mulher forte, determinada e inspiradora. Desde maio, a 34ª edição da série Ocupação, do Itaú Cultural, recebe centenas de pessoas diariamente para contemplar um pouco da história dessa mineira. A mostra fica em cartaz até domingo (18) na sede do instituto na avenida Paulista, em São Paulo, mas também pode ser vista pela internet.

“O resultado desta ocupação é belíssimo. Conta a minha história com dignidade. A Aline Motta, responsável pela concepção artística, e toda a equipe tiveram muito carinho para ocupar aquele espaço. Eu não nego minhas origens, mas não queria que esta ocupação fosse um elogio à pobreza”, conta a escritora, em entrevista ao jornal Diário do Comércio.

Conceição não queria nada que parecesse “piegas” no espaço que mostra sua crença, resistência e uma certa teimosia em insistir na preservação e propagação dos bens culturais. “A leitura, a escrita, o livro, a biblioteca, o cinema, o teatro devem pertencer a todos e o povo precisa se apropriar do que é seu por direito”, lembra.

Na infância de Conceição, a mãe foi sua principal inspiração porque “a rodeava de palavras”. A lavadeira Joana Josefina Evaristo Vitorino não tinha estudo e colecionava cadernos que achava pelas ruas. Nas páginas em branco escrevia sobre a vida, poemas e pensamentos. Talvez por isso a “escrevivência” de Conceição - a escrita que nasce das vivências-, seja tão forte.

Ela escreve sobre o preconceito, sobre a mulher, negro, o machismo e a solidão humana que não tem cor e nem classe social. Ela fez questão que a ocupação que leva seu nome tivesse o máximo de acessibilidade possível, e o Itaú Cultural oferece ferramentas para isso. “Cada um que chega tem uma experiência única. Tem a áudio-descrição, tem texto em braile e todo o aparato audiovisual com libras, tudo isso permite a pessoa viver a ocupação”, comenta a escritora.

 

FAMÍLIA

Conceição Evaristo vive atualmente em Maricá, na região metropolitana do Rio de Janeiro, com a filha, Ainá Evaristo de Brito. Porém, as viagens para Belo Horizonte são constantes porque quase toda a família ainda vive na capital mineira. Dona Joana, a mãe de Conceição, hoje com 94 anos, está atenta ao trabalho da filha e segue com muita saúde.

A escritora afirma que já recebeu alguns convites para vir a Uberlândia e espera poder aceitar um deles o mais breve possível.

 

LETRAS

Escrita é uma vocação da professora

Conceição Evaristo orgulha-se de ter uma carreira profissional como professora primária. Concluiu os estudos em Belo Horizonte e mudou-se para o Rio de Janeiro, onde começou a lecionar. É mestre em literatura pela Pontíficia Universidade Católica do Rio de Janeiro (Puc/RJ), mas nada lhe é mais gratificante que saber que suas vivências inspiram muita gente.

Ela costuma dizer que sua literatura só toca as pessoas porque “tem o sabor da vida.” Por isso, nada mais justo que a ocupação do Itaú Cultural traga esse recorte íntimo e próximo da escritora. São manuscritos de poemas e contos, cartas de familiares e amigos, objetos pessoais e obras que foram referência para ela. “Em um tempo em que as pessoas registram muito e guardam pouco, esta é uma maneira de repartir minhas memórias com o público, que sempre fica feliz ao conhecer um pouco mais sobre minha vida, é uma troca muito interessante”, comenta.

A literatura chegou na vida de Conceição nos anos 90. As primeiras publicações saíram na série “Cadernos Negros” do grupo Quilombhoje, do qual ela fala com carinho e respeito. “Reúne vários autores e quando me falaram do grupo, que é de São Paulo, eu quis participar. Em 2017 eles completam 40 anos. É a publicação brasileira com maior tempo em atividade sem interrupção, reveza-se entre poesia e prosa, um ano para um, um ano para outro”, explica.

O primeiro romance da autora, “Ponciá Vicêncio”, foi publicado em 2003. Na sequência vieram “Becos da Memória” (2006), “Poemas da Recordação e Outros Movimentos”(2008) e os livros de contos “Insubmissas Lágrimas de Mulheres” (2011), “Olhos D´Água” (2014) e “Histórias de Leves Enganos e Parecenças” (2016).

 

SERVIÇO

Saiba mais sobre a vida e a obra da escritora Conceição Evaristo no site da ocupação. E para quem for a São Paulo até domingo a Ocupação fica aberta das de terça a sexta-feira das 9h ás 20h e sábado, domingo e feriado da s11h às 20h no prédio do Itaú Cultural: Av. Paulista, 149.


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