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21/04/2017 às 11h57min - Atualizada em 21/04/2017 às 11h57min

Conheça a Orquestra Experimental Uberlândia

Projeto social muda a vida de jovens no bairro Shopping Park

Adreana Oliveira | Editora
Da Redação

Jeferson Daniel Andrade Oliveira tem 12 anos, é aluno do 7º ano da rede pública de ensino e, nas manhãs de quinta-feira e sábado, nos últimos dois anos, ele dedica-se ao violino. Ele é o primeiro a chegar ao Centro Comunitário Sal da Terra, no bairro Shopping Park no dia em que a entrevista estava marcada. Logo os colegas foram chegando, alguns com os próprios instrumentos, outros com as pastas de partitura, assim como os instrutores e voluntários que fazem parte da Orquestra Experimental Uberlândia.

A Orquestra, que surgiu dentro do projeto do coral Clara Voz, há 15 anos, atende ao todo 270 crianças, 150 só nas cordas: violino, viola, violoncelo e contrabaixo. Esses instrumentos são caros e a maior parte das crianças não teria condições de comprá-los. Graças aos patrocínios da iniciativa privada, o projeto tem sido motivo de orgulho e alegria para todos aqueles que acreditam nele.

“Quando começamos eram 40 alunos em uma salinha pequena. Hoje, neste espaço, temos até instrumentoteca e salas de ensaio”, afirma o idealizador do projeto, Ângelo Marques Nascimento, bacharel em piano, com licenciatura plena em Música. Ao ver o progresso dos alunos dentro do projeto ele só pensa em continuidade. Em um universo de 150 alunos, pelo menos 50 já têm o próprio instrumento, sinal de apoio incondicional dos pais que mesmo com o orçamento apertado fazem a aquisição para os filhos praticarem também em casa. “Já comprei instrumentos no meu cartão de crédito e os pais me pagavam os valores das parcelas mensalmente até quitar”, conta Ângelo Nascimento.

O Jeferson, que citamos no início da reportagem, não tem pretensão de se tornar músico profissional. “Quero ser advogado”, diz. Porém, ele vê dentro da Orquestra Experimental Uberlândia uma chance de se tornar um ser humano melhor, mais concentrado e com capacidade para ir atrás de seus sonhos. “O projeto me tirou da rua e sou muito feliz participando dele, melhorei até na escola”, recorda.

Para Ângelo Nascimento, a participação das crianças neste projeto é uma forma de inserção social que vira lição para a vida inteira. Ele conhece as crianças pelos nomes, assim como os pais e voluntários. Parece saber o que se passa com cada um deles. “Converso muito com nossos instrutores sobre a importância de incentivar esses alunos a darem o que têm de melhor, mesmo nos momentos mais difíceis.”

Vanda Martins Ribeiro Oliveira é mãe de João Gabriel, de 9 anos, que integra a Orquestra há quase dois anos. “Ele era um menino muito isolado, não se enturmava. Depois de entrar no projeto isso mudou, vejo que ele se envolve com as outras pessoas e está feliz. Lembro de um dia em que ele não conseguia acertar uma música, até chorou. A professora se sentou com ele, conversou e em pouco tempo ele tirou de letra da canção. Isso é um exemplo que fica para qualquer situação da vida dele, que pode superar os obstáculos”, ressalta Vanda.

A filha caçula, Sara Valentina, de 6 anos, passou a integrar o projeto tendo o irmão como espelho. “Nessa fase eles vão muito pelo exemplo, e o João foi um exemplo bom para a irmã”, diz Vanda que tem outros dois filhos, Moara Ohana, 15, e Davi Lucas, 11, em outros projetos do Centro Comunitário Sal da Terra no Shopping Park. “Venho aqui praticamente todos os dias e para mim não é nenhum trabalho. Quanto mais próximos os pais estiverem dos filhos melhor para todos”, finaliza.

CAMINHOS

Se o futuro é incerto, o presente é feito de superações e sonhos

FOTOS: SE DER COLOCA PEQUENAS DO JEFERSON, KAUÃ E EMANUEL ESTÃO NOMEADAS

Segundo Ângelo Marques Nascimento, nesses 15 anos da Orquestra Experimental Uberlândia, pelo menos três alunos seguiram carreira profissional na música. No ano passado, entre 110, 12 deixaram o projeto, cinco porque mudaram de bairro e sete porque não se conectaram com a proposta. “É importante saber que quem está aqui está completamente envolvido, e essas crianças já têm um dom natural para as cordas, independentemente se vão seguir carreira profissional na música ou não. A disciplina que têm para vir aos ensaios, faça chuva ou faça sol, já mostra esse comprometimento”, afirma o professor.

Por exemplo, Emanuel Vicente Pires, de 12 anos, aluno do 7º ano da rede pública de ensino, quer cursar engenharia civil, mas vê na música uma ferramenta que o ajuda principalmente na concentração. “Não passo mais tempo ocioso na rua e gosto de estudar música e mostrar para os meus pais o que aprendo. Eles adoram me ouvir tocar. Também tive dificuldades, como para tocar a música ‘A thousand years’, que não saía de jeito nenhum. Eu não desisti e hoje toco bem ela, fiquei orgulhoso do meu trabalho e aprendi que posso superar desafios”, lembra.

Já Kauã Henrique Menezes Yoneda, de 11 anos, aluno do 6º ano da rede pública e há cinco anos na Orquestra, vislumbra uma carreira artística no futuro. Ele tem uma tia da mesma idade no projeto. “Todos nós já demos calos nos dedos de tanto ensaiar, faz parte. Quando lembramos que vamos nos apresentar para outras pessoas chega a dar um nervoso, a gente até treme um pouco antes da apresentação, mas nos dedicamos muito aos ensaios e na hora do concerto tudo sai como tem que ser”, afirma o estudante.

E as próximas apresentações já estão marcadas sob a regência do maestro Klemes César Pires. No dia 12 de maio, eles se apresentam no Sesc com o concerto de Dia das Mães. No dia 30 de agosto, eles chegam ao Teatro Municipal em uma apresentação conjunta com a Banda Municipal, o Coral Clara Voz e o grupo de flauta no concerto de Aniversário de Uberlândia.

APOIO

Alunos já trabalharam com instrumentos emprestados, hoje é diferente


Professora Raquel Joselen, com 30 anos de experiência, dá aula de violoncelo

Com aulas às quintas, sextas-feiras e sábados em espaços divididos entre a Escola Municipal e o Centro Comunitário Sal da Terra do bairro Shopping Park, que duram entre três e quatro horas, os alunos da Orquestra Experimental Uberlândia já trabalharam com instrumentos emprestados. Essa realidade mudou a partir do momento em que o projeto ganhou mais apoio de empresas privadas.

“O Hospital Santa Clara, com o Coral Clara Voz, está conosco desde 2002. Agora a Realiza Construtora ajuda no pagamento dos professores, a Dot Lib comprou os instrumentos via lei de incentivo e ainda temos o apoio da Rain Bird, dos Estados Unidos. As secretarias municipais e estaduais de Cultura também são apoiadoras por meio das leis de incentivo à cultura. Neste ano estou trabalhando com três, inclusive a Rouanet”, conta Nascimento.

O espaço cedido pela Missão Sal da Terra, no bairro Shopping Park, ganha mais vida durante as aulas, assim como as imediações do prédio que, além do barulho dos carros, ônibus e burburinho do dia a dia ganham o som das cordas desses meninos e meninas que, para os leigos, até mesmo durante a afinação, já mostram pequenas obras de arte.

ARTE

ORQUETRA EXPERIMENTAL UBERLÂNDIA

MÚSICOS INSTRUTORES

Ângelo Marques Nascimento

Hellen Raianny Nery Barbosa

Jofter Lima de Oliveira

Klemes César Pires

Liliane Maria Dias

Raphaella de Oliveira Buso

Raquel Joselen

 

 

 


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