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20/04/2017 às 09h32min - Atualizada em 20/04/2017 às 09h32min

Delações agravam situação de Lula

Inquérito investiga se obras de sítio em Atibaia serviram de contrapartida de empreiteira pela atuação do petista

São Paulo

Detalhes narrados pelos delatores da Odebrecht sobre a participação da construtora na reforma de um sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, reforçam a suspeita de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o real proprietário do imóvel. A defesa do político nega.

Em inquérito aberto na Justiça Federal do Paraná, a força-tarefa da Operação Lava Jato investiga se obras no local serviram de contrapartida da empreiteira pela atuação do petista em favor do grupo na época em que foi presidente.

Os depoimentos e documentos entregues por executivos e ex-executivos da empresa foram remetidos para os investigadores em Curitiba. O inquérito sobre a compra e a reforma do Sítio Santa Bárbara foi prorrogado em janeiro deste ano e está em fase final.

O principal argumento da defesa de Lula é que a propriedade não está em seu nome, mas nos de Fernando Bittar e de Jonas Suassuna - ambos sócios de um dos filhos do ex-presidente. A defesa admite, porém, que o petista esteve no imóvel algumas vezes com a família.

Para investigadores, as suspeitas são de que o registro em nome de outras pessoas seria uma forma de Lula ocultar patrimônio.

Em sua delação premiada, o patriarca da construtora, Emílio Odebrecht, disse ter relatado a Lula em reunião no Palácio do Planalto, em 2010, que as obras no sítio ficariam prontas no mês seguinte. O encontro, segundo ele, ocorreu no fim do ano, próximo do fim do mandato do então presidente.

Emílio contou aos procuradores da Lava Jato que, no encontro, o petista não teria ficado "surpreso" com a informação. "Eu disse: olhe, chefe, o senhor vai ter uma surpresa e vamos garantir o prazo que nós tínhamos dado no problema lá do sítio." Anotações e e-mails foram entregues pelo delator como forma de comprovar a reunião.

Um dos principais interlocutores da Odebrecht com Lula, o ex-diretor de Relações Institucionais Alexandrino Alencar afirmou que o pedido para a reforma no sítio foi feito pela então primeira-dama, Marisa Letícia, que morreu em fevereiro deste ano. "Ela me falou sobre um sítio e me perguntou se a companhia poderia ajudá-los a finalizar obras e reformas que estariam atrasadas, porque a equipe que fazia o trabalho estava com desempenho medíocre", disse Alexandrino no depoimento. Segundo o delator, Marisa disse que ela e o ex-presidente pretendiam frequentar o imóvel a partir de janeiro do ano seguinte.

Além dos depoimentos nos quais relata sua relação com Lula, Alexandrino entregou aos procuradores da Lava Jato uma relação de nove episódios em que a empreiteira atendeu a pedidos do ex-presidente. Segundo ele, eram "contrapartida ao apoio e à influência política recebidos ao longo do tempo pelo atendimento das questões de interesse da companhia". Na lista consta, além do sítio em Atibaia, itens como a construção do estádio do Corinthians e uma mesada para Frei Chico, irmão de Lula.

 

Alexandrino também afirmou que, em 2011, procurou o advogado Roberto Teixeira, amigo de Lula, para combinar uma maneira de "formalizar" as obras. Na ocasião, segundo o delator, eles combinaram de forjar notas de outras obras para que pudessem justificar os gastos na reforma. "Ele estava preocupado, digamos, como é que poderia aparecer essa obra sem um vínculo com os proprietários do sítio. Então nós marcamos uma reunião uma semana depois", disse o ex-diretor. Ao todo, segundo ele, a Odebrecht gastou R$ 1 milhão na obra.

Destacado pela empresa para acompanhar a reforma, o engenheiro Emyr Diniz Costa Junior disse em sua delação que ajudou a elaborar um contrato falso para esconder a participação da Odebrecht. Ele afirmou ainda que comprou um cofre para guardar R$ 500 mil repassados, em espécie, pela empreiteira para executar a obra.

A defesa de Lula afirma o seguinte: "Os procuradores da Lava Jato sabem, há mais de um ano, que o sítio frequentado pelo ex-presidente Lula em Atibaia não pertence e nunca pertenceu a ele. Os donos comprovaram a propriedade e a origem dos recursos. Sabem também que Lula não pediu nem autorizou ninguém a pedir que fossem feitas reformas no imóvel. Lula não tem nada a esconder, porque não fez nada de ilegal".

O advogado Roberto Teixeira nega irregularidades. "Jamais propus, orientei ou executei qualquer ato ilegal na minha trajetória de 47 anos ininterruptos de exercício da advocacia. A delação premiada de Alexandrino Alencar tem sido utilizada por alguns veículos de imprensa para atribuir a mim participação em afirmada emissão de documentos falsos relativos a obras realizadas em um sítio em Atibaia, de propriedade do meu cliente Fernando Bittar. A verdade é que o próprio Alexandrino Alencar afirmou em sua delação o que eu mesmo sempre deixei claro: 'que o sítio é do Fernando Bittar' ", diz Teixeira em nota.


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